Quase três meses após a Prefeitura de Cabo Frio anunciar um aumento de cerca de 700% no valor da taxa de entrada para ônibus de excursão na cidade, a presidente da Associação de Proprietários de Imóveis de Temporada (Apiat), Denise Ramos, revelou à Folha que os prejuízos já estão sendo sentidos.
Segundo ela, desde que a tarifa subiu de R$ 286,71 para R$ 2.500, o movimento no bairro Vila Nova (região que concentra maior número de excursionistas na cidade) caiu drasticamente. E esse resultado negativo, segundo ela, não afeta só o setor de hospedaria, mas também o comércio que depende diretamente desse tipo de turista, como mercados, padarias, bares, depósitos de bebidas, restaurantes e até lojas.
– A situação dos ônibus aqui na Vila Nova é desanimadora. Os turistas estão preferindo outros destinos, com menos problemas. Ninguém viaja sem dinheiro, só para chegar até as hospedagens. As empresas, lá na origem, pagam suas hospedagens antes de chegar, e lógico que fecham pacote com self-service para almoço, passeios de barco, visitas em Arraial e Búzios. De noite, frequentam a feira da Praça da Cidadania – revelou.
Como exemplo da queda no movimento, Denise citou o atual feriadão de Corpus Christi. A média de ocupação das hospedarias no bairro Vila Nova, que girava em torno de 100%, agora está em cerca de 20%. Segundo a presidente da Apiat, os excursionistas “estão mesmo preferindo outros lugares que passem segurança”.
– Normalmente, eles fecham pacote agora, na metade do ano, já para janeiro, fevereiro e março. Só que eles estão inseguros em vir pra cá com tantas mudanças – explicou.
Com a queda nas reservas, Denise revelou que outros segmentos também foram diretamente afetados. É o caso, por exemplo, de lojas de material de construção. De acordo com ela, as hospedarias sempre investiram em obras de melhoria da infraestrutura, mas, sem hóspedes, não sobra dinheiro pra isso, e mal dá para pagar o salário de alguns colaboradores.
– Eu acho, sim, que o prefeito pode aumentar a tarifa. Mas o aumento foi muito grande, de uma vez só, e de repente. E isso nos causou bastante cancelamento. Até agora não temos contrato nenhum para o Réveillon. Aqui na associação já conversei com todo mundo: ninguém tem cliente. E os poucos ônibus que estão vindo agora estão só com metade dos passageiros e acabam pedindo 50% de desconto no valor da hospedagem. Mas a maioria desistiu de vir. Tem muita hospedagem vazia na Vila Nova – contou.
Mas não é só o valor da tarifa que gera crítica por parte das hospedarias. Como presidente da associação que representa o setor, Denise também criticou a restrição de entrada dos ônibus de excursão na cidade. Desde 1º de janeiro, o prefeito cabo-friense, Serginho Azevedo, proibiu a circulação de ônibus de turismo na cidade. Todos os passageiros devem desembarcar no Terminal de Ônibus de Turismo (TOT), na Estrada dos Passageiros, e se deslocar pela cidade através de táxis ou carros de aplicativo.
– Não vejo nenhum problema nos ônibus desembarcarem até às 8 horas da manhã, porque aqui em Cabo Frio, quem vem nos visitar dificilmente vai para a praia cedo. É sempre depois das 9 horas que eles começam a sair, porque todo mundo acorda tarde. O embarque eu entendo que poderia continuar lá no TOT, com cada um pegando seu táxi, porque o horário de saída é realmente um pouco complicado. Mas, para desembarque, não vejo motivo para restringir se for até às 8 horas da manhã – argumentou.
Para Denise, em todos esses assuntos faltou diálogo do governo com os segmentos que envolvem o turismo.
– Ainda espero muito que o prefeito nos chame para conversar. A gente quer conversar, se entender. Queremos o melhor, queremos ajudar. Queremos, sim, ter uma cidade que ofereça um serviço de alta qualidade, mas também precisamos entender como colocar isso em prática sem gerar prejuízos. Não é só aumentar o valor da taxa de entrada que vamos resolver. Temos que ir gradualmente até chegar a uma solução que seja boa para todo mundo. Eu até entendo que uma hora o valor deve aumentar porque vamos oferecer um produto melhor, um serviço melhor. Mas, até lá, a gente precisa sentar e conversar, até porque o turista do ônibus nós temos o controle, temos a ficha, todos são cadastrados. Mas, e esses outros que chegam de carro, que colocam som alto, que vivem na bebedeira fazendo bagunça… Esses podem vir sem pagar nada? – questionou Denise.