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Aumento da taxa para ônibus de excursão causa baque nas hospedagens por temporada em Cabo Frio

Associação que representa hospedarias diz que movimento do feriadão de Corpus Christi caiu de 100% para 20%

19 junho 2025 - 09h57Por Cristiane Zotich
Aumento da taxa para ônibus de excursão causa baque nas hospedagens por temporada em Cabo Frio

Quase três meses após a Prefeitura de Cabo Frio anunciar um aumento de cerca de 700% no valor da taxa de entrada para ônibus de excursão na cidade, a presidente da Associação de Proprietários de Imóveis de Temporada (Apiat), Denise Ramos, revelou à Folha que os prejuízos já estão sendo sentidos.

Segundo ela, desde que a tarifa subiu de R$ 286,71 para R$ 2.500, o movimento no bairro Vila Nova (região que concentra maior número de excursionistas na cidade) caiu drasticamente. E esse resultado negativo, segundo ela, não afeta só o setor de hospedaria, mas também o comércio que depende diretamente desse tipo de turista, como mercados, padarias, bares, depósitos de bebidas, restaurantes e até lojas.

– A situação dos ônibus aqui na Vila Nova é desanimadora. Os turistas estão preferindo outros destinos, com menos problemas. Ninguém viaja sem dinheiro, só para chegar até as hospedagens. As empresas, lá na origem, pagam suas hospedagens antes de chegar, e lógico que fecham pacote com self-service para almoço, passeios de barco, visitas em Arraial e Búzios. De noite, frequentam a feira da Praça da Cidadania – revelou.

Como exemplo da queda no movimento, Denise citou o atual feriadão de Corpus Christi. A média de ocupação das hospedarias no bairro Vila Nova, que girava em torno de 100%, agora está em cerca de 20%. Segundo a presidente da Apiat, os excursionistas “estão mesmo preferindo outros lugares que passem segurança”.

– Normalmente, eles fecham pacote agora, na metade do ano, já para janeiro, fevereiro e março. Só que eles estão inseguros em vir pra cá com tantas mudanças – explicou.

Com a queda nas reservas, Denise revelou que outros segmentos também foram diretamente afetados. É o caso, por exemplo, de lojas de material de construção. De acordo com ela, as hospedarias sempre investiram em obras de melhoria da infraestrutura, mas, sem hóspedes, não sobra dinheiro pra isso, e mal dá para pagar o salário de alguns colaboradores.

– Eu acho, sim, que o prefeito pode aumentar a tarifa. Mas o aumento foi muito grande, de uma vez só, e de repente. E isso nos causou bastante cancelamento. Até agora não temos contrato nenhum para o Réveillon. Aqui na associação já conversei com todo mundo: ninguém tem cliente. E os poucos ônibus que estão vindo agora estão só com metade dos passageiros e acabam pedindo 50% de desconto no valor da hospedagem. Mas a maioria desistiu de vir. Tem muita hospedagem vazia na Vila Nova – contou.

Mas não é só o valor da tarifa que gera crítica por parte das hospedarias. Como presidente da associação que representa o setor, Denise também criticou a restrição de entrada dos ônibus de excursão na cidade. Desde 1º de janeiro, o prefeito cabo-friense, Serginho Azevedo, proibiu a circulação de ônibus de turismo na cidade. Todos os passageiros devem desembarcar no Terminal de Ônibus de Turismo (TOT), na Estrada dos Passageiros, e se deslocar pela cidade através de táxis ou carros de aplicativo.

– Não vejo nenhum problema nos ônibus desembarcarem até às 8 horas da manhã, porque aqui em Cabo Frio, quem vem nos visitar dificilmente vai para a praia cedo. É sempre depois das 9 horas que eles começam a sair, porque todo mundo acorda tarde. O embarque eu entendo que poderia continuar lá no TOT, com cada um pegando seu táxi, porque o horário de saída é realmente um pouco complicado. Mas, para desembarque, não vejo motivo para restringir se for até às 8 horas da manhã – argumentou.

Para Denise, em todos esses assuntos faltou diálogo do governo com os segmentos que envolvem o turismo.

– Ainda espero muito que o prefeito nos chame para conversar. A gente quer conversar, se entender. Queremos o melhor, queremos ajudar. Queremos, sim, ter uma cidade que ofereça um serviço de alta qualidade, mas também precisamos entender como colocar isso em prática sem gerar prejuízos. Não é só aumentar o valor da taxa de entrada que vamos resolver. Temos que ir gradualmente até chegar a uma solução que seja boa para todo mundo. Eu até entendo que uma hora o valor deve aumentar porque vamos oferecer um produto melhor, um serviço melhor. Mas, até lá, a gente precisa sentar e conversar, até porque o turista do ônibus nós temos o controle, temos a ficha, todos são cadastrados. Mas, e esses outros que chegam de carro, que colocam som alto, que vivem na bebedeira fazendo bagunça… Esses podem vir sem pagar nada? – questionou Denise.