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MEIO AMBIENTE

Agentes da Unesco visitam municípios da região que concorrem à nova certificação internacional

Todas as sete cidades da Região dos Lagos estão inseridas do programa de importância ambiental

30 julho 2024 - 16h15Por Redação
Agentes da Unesco visitam municípios da região que concorrem à nova certificação internacional

Depois da certificação da Bandeira Azul ser concedida a praias de Búzios, Cabo Frio, São Pedro da Aldeia e Iguaba Grande, a Região dos Lagos está ainda mais perto de ganhar mais um importante selo internacional de sustentabilidade, o de “Geoparque Mundial” concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Uma comitiva visitou, há poucos dias, todos os 16 municípios do estado do Rio de Janeiro que fazem parte do Programa Geoparque Costões e Lagunas. O objetivo é conhecer os geossítios e avaliar os trechos que devem ser certificados.

Conforme a Folha informou na última edição impressa, a comitiva da Unesco foi composta pelos geólogos Miguel Cruz (México) e Arthur Sá (Portugal), e passou por Maricá (Ponta Negra, Gruta e Praia da Sacristia), Saquarema (Promontório da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré e Praia de Itaúna), Araruama (Lagoa Vermelha), Arraial do Cabo (Brejo do Espinho e Pontal do Atalaia), Iguaba Grande (Pedra da Salga e Lagoa de Araruama), São Pedro da Aldeia (Praia da Baleia e Colônia de Pesca da Baleia), Búzios, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras, Macaé, Carapebus, Quissamã, Campos dos Goytacazes, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana. Nesses locais foram analisadas as condições para conceder ao conjunto de atrativos naturais e culturais da região o título de Geoparque Mundial da Unesco.

Em Búzios os representantes da Unesco conheceram a Praia do Forno e o quilombo da Baía Formosa. Em Cabo Frio a visita incluiu o trecho do Parque Estadual da Costa do Sol localizado entre a Ilha do Japonês, Praia Brava e Praia das Conchas. Durante o passeio de avaliação, Miguel Sá lembrou que a importância da biodiversidade vem sendo mencionada há décadas, mas que só recentemente se fala da importância da geodiversidade.

– Na verdade, há um laço intrínseco que une a geo e a biodiversidade - revelou.

Todo o processo de avaliação foi acompanhado de perto por vários geólogos, pesquisadores e ambientalistas, entre eles Anna Mehdi, do Movimento SOS Dunas do Peró, e membro do Conselho da APA Pau Brasil (APABR) e do Parque Estadual da Costa do Sol (PECS).

– Na Praia do Forno, em Búzios, a delegação da Unesco conversou com os locais, e também analisou rochas e areia com professores. Eles ficaram encantados com a coloração da areia do local, que é avermelhada devido à ocorrência do mineral granada das rochas erodidas. Ela já foi, inclusive, mencionada na revista de geologia mais reconhecida internacionalmente, a Episodes. Além de ter o certificado da Bandeira Azul, a Praia do Forno tem o projeto Cavalo Marinho (de reinserção dos animais no mar), é um fragmento do Parque Estadual da Costa do Sol e candidata a mais essa certificação internacional - explicou Anna que, junto com a também conselheira Carolina Mazieri, revelou que “a vinda da Unesco à região reafirma o papel que as unidades de conservação APA Pau Brasil e PECS têm na conservação da geodiversidade local”.

Professora e coordenadora científica do Instituto Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Kátia Mansur também acompanhou a delegação da Unesco, e revelou que a certificação representa mais do que um simples reconhecimento da importância dos geossítios.

– É o reconhecimento da riqueza cultural e natural da região. O prestígio, que é internacional, traz a questão do pertencimento, faz com que as pessoas sintam-se mais importantes porque tem esse reconhecimento internacional. Além disso, uma chancela da Unesco traz esse interesse das pessoas questionarem “o que tem aqui de tão importante?”, e esse questionamento pode fazer uma grande diferença no turismo e na educação patrimonial - avaliou.

Assessor científico do Conselho Gestor do Geoparque do Instituto Geociências da UFRJ, o professor Cainho Seoane lembrou que mesmo que o conceito da geodiversidade ainda seja novo o suficiente para ainda não estar divulgado, ele tem sua importância.

– É o fato de que um monte de gente que anda no mundo inteiro anda por aqui também, e isso mostra que esse nosso lugar é tão importante quanto outros lugares importantes e famosos no mundo. E isso traz uma valorização para quem é do lugar, e atrai pessoas interessadas em sustentabilidade, ou seja, muda a matriz do turista que visita a cidade - explicou.

Quem também acompanhou de perto a visita da comitiva da Unesco foi Daniel Santos, professor e geógrafo no Instituto de Geociências, na Universidade de São Paulo.

– Quando se fala em chancela da Unesco significa que a partir desse momento os geoparques, costões e lagunas passam a integrar uma rede mundial, e essa ideia de geoparques mundiais significa trabalho em rede. O geoparque, internamente, tem 16 municípios, e esses municípios não podem trabalhar isoladamente, cada um do seu jeito: geoparque é um território único. Então não é Maricá trabalhando de um jeito, Saquarema de outro, e Cabo Frio de outro: é todo mundo junto entendendo a importância do território como um todo. Ou seja, o trabalho passa a ser em rede, com boas práticas que acontecem nos geoparques de todo o mundo - esclareceu.

Outro impacto positivo que a certificação internacional da Unesco pode trazer para a região é com relação ao turismo. Segundo Karen Pereira, gestora da APA Pau Brasil e do Núcleo Pau Brasil do Parque Costa do Sol, “essa chancela será um passo importante para trazer turistas mais qualificados para a região, pessoas que sabem como se comportar em uma área natural”.

– Com essa certificação estamos buscando melhorar a qualidade do turismo na região para evitar degradação ambiental, e também trazer mais recursos para preservação das unidades de conservação envolvidas - contou.

Quem também avaliou de forma positiva a possibilidade de certificação da Unesco aos municípios que integram o Programa Geoparque Costões e Lagunas foi o presidente do Conselho de Turismo da Região Costa do Sol (Condetur), Marco Navega.

– Nós já somos um destino de natureza maravilhoso, de praia, sol e mar, ou seja, um destino consolidado. Mas quando a gente traz para nossa cidade os conceitos de sustentabilidade que o geoparque produz, estamos dizendo para quem nos visita “venha para a Costa do Sol porque respeitamos o meio ambiente, a cultura e a história das pessoas”, e isso multiplica as oportunidades do turismo. Importante lembrar que o geoparque também tem uma variante muito interessante que é o geoturismo, que são pessoas de altíssimo poder aquisitivo que podem vir pra cá pra conhecer nossos geossítios e gastar dinheiro na nossa região - revelou.

Criado em 2011 e com área de quase 11 mil km², o Geoparque Aspirante Costões e Lagunas soma mais de 460 km de litoral, espalhando-se por 16 municípios entre Maricá e São Francisco de Itabapoana. Compreende áreas de interesse científico, didático e pedagógico, turístico, histórico, pré-histórico, cultural e ecológico. Cerca de 15% de toda a área corresponde à Unidades de Conservação municipal, estadual ou federal, além de espelhos d'água de lagoas e lagunas além de rios de grande importância hídrica para o estado e a região.

O objetivo da criação do geoparque e da busca por chancelas mundiais é a conservação de uma área com beleza e conteúdo geocientífico singular. O sítio compreende costões com mais de dois bilhões de anos de história geológica, flora e fauna endêmicas e lagunas hipersalinas. Vestígios arqueológicos e sítios de interesse histórico e cultural também fazem parte do geoparque, em especial, os relacionados às primeiras povoações brasileiras, à exploração do pau-brasil, à invasão francesa em Cabo Frio e ao caminho dos Jesuítas.

Riquíssima, a região foi registrada nas passagens de naturalistas como Charles Darwin, príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied e Saint-Hilaire. E ainda tem os faróis, as histórias dos naufrágios, as construções tombadas, as lendas e os mitos contadas pela população caiçara e quilombola.

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