Na Rua Tamoios, um dos acessos para a comunidade Buraco do Boi, no Centro de Cabo Frio, um verdadeiro lixão atormenta a vida de moradores. A via fica a poucos metros da Praia do Forte, principal cartão-postal da cidade. 

Além do fedor, muitos demonstram preocupação por conta do risco da contaminação por doenças – a sujeirada leva, reclamam dezenas de pessoas ouvidas pela Folha, uma infestação de ratos.   

– [A limpeza] não vem para cá há um bom tempo. Só quando damos um toque em um amigo nosso que é funcionário público. É rato atrás de rato. Só faltam brigar com a gente – desabafa um morador, que preferiu não ser identificado. 

A vendedora de picolé Elaine Jardim Pereira, 35, se assusta com a quantidade de ratos.  

– O tamanho do rato é quase o mesmo do cachorro. Por aqui, os ratos que atacam os cachorros e gatos. As crianças têm que passar nesse meio. É uma situação complicada. 

Nos apartamentos próximos à Avenida Nilo Peçanha, a situação é parecida. Os ratos migraram para um dos prédios, que teve o jardim concretado para evitar a instalação de ninhos. O zelador Eudes da Silva, 38, quer que a vigilância sanitária tome alguma providência.

– Pode vir à noite para fazer uma matéria com os ratos – ele ironiza.

– Para se ter uma ideia, jogamos concreto no jardim porque os ratos faziam ninho e depositavam as fezes ali. Os ratos comeram o cabo da internet do prédio várias vezes. Em mais de uma vez, o vigia acordou com uma ratazana passando pelo pé dele. Sem contar que eles rasgam o lixo. Isso causa doenças. A coleta passa apenas uma vez por dia aqui. Não é um caso só da Comsercaf. É da vigilância sanitária também – dispara Eudes.

Os moradores também criticaram os donos de barracas, que, segundo eles, estariam despejando  os resíduos pela rua.

– Os moradores reclamam muito. Principalmente por causa dessas carroças (barracas). É muito lixo despejado ali. Tem ratos bem grandes saindo dali – afirma o zelador Marcos André Júnior, 50.

A Comsercaf não escapa das críticas nem durante a coleta. Uma moradora também reclama que a autarquia estaria quebrando a calçada e a rua ao utilizar uma retroescavadeira para retirar o lixo. 

– A Prefeitura deixa o lixo completamente largado na comunidade. E quem paga o pato somos nós, moradores. Eles estão acabando com a parte de trás do prédio. Usam uma retroescavadeira para retirar o lixo e, em consequência de tanta porrada da retroescavadeira, a calçada do prédio já foi destruída. A minha preocupação é que já está aparecendo a cinta (parte da estrutura) do prédio. E ficam batendo na parede da casa do zelador. Daqui a pouco estarão levando o zelador com cama e tudo! A parede já está rachada e os garis não estão nem um pouco preocupados – desabafa. 

Em nota, a Comsercaf informa que o recolhimento de lixo na Rua Tamoios é feito diariamente. Para atender à demanda de vendedores ambulantes, também disponibilizou uma caçamba no local. No entanto, prossegue a nota, alguns insistem em despejar material nas calçadas. Além de aplicar multa aos ambulantes que desrespeitam as normas, a Comsercaf informa que estuda outras medidas para resolver o problema. Quanto à retroescavadeira, a autarquia diz que é utilizada apenas no recolhimento de entulhos, e que o serviço não danifica a calçada.