No último domingo (20),o programa da Moeda Social Itajuru completou três meses de suspensão. Lançado em 2021 pelo ex-prefeito de Cabo Frio, José Bonifácio, ele tinha como objetivo inicial beneficiar cerca de 500 famílias do bairro Manoel Corrêa, que viviam em situação de vulnerabilidade social, mas chegou a atender mais de quatro mil pessoas ao ser levado para outros bairros da cidade.
A Moeda Social funcionava como uma espécie de cartão de crédito pré-pago. Todos os meses a Prefeitura recarregava com um saldo de R$ 200. Esse valor podia ser usado para compras em comércios locais cadastrados pelo governo. Em maio deste ano, no entanto, o programa social foi suspenso pelo atual prefeito, Serginho Azevedo.
Na época, o governo municipal anunciou que, após auditoria, detectou “irregularidades graves” no cadastro dos beneficiários: dos 4.500 cadastrados, 1.500 apresentavam erros nos CPFs, impossibilitando qualquer tipo de análise. Também foram detectados que 74 beneficiários não possuíam inscrição no CadÚnico (condição obrigatória para receber a moeda social) ou apresentavam inconsistências nos documentos. Outros 48 eram residentes de outros municípios como Belford Roxo, Japeri, Nova Iguaçu, São Pedro da Aldeia, Guapimirim e Armação dos Búzios; e pelo menos três registros envolviam pessoas falecidas, cujos benefícios continuaram sendo pagos.
Em nota oficial, a Prefeitura chegou a informar que todos os documentos com irregularidades foram encaminhados ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, para as devidas providências. Três meses depois, no entanto, não houve qualquer atualização sobre o caso, e os cerca de 2.878 beneficiários com cadastros regulares seguem sem acesso ao auxílio. Na última quarta-feira (16), a equipe da Folha entrou em contato com a Prefeitura para saber o andamento das investigações, mas não obteve resposta.
Em setembro de 2024, durante a campanha eleitoral, Serginho postou um vídeo nas redes sociais anunciando que além de manter a moeda social, faria melhorias e ainda ampliaria o benefício “garantindo dignidade e respeito a quem mais precisa”. Mas, questionado pela Folha, esta semana, sobre a existência de algum projeto para retomar o benefício, ele também não respondeu.
Em dezembro de 2023 a prefeitura afirmou que o programa circulava em 11 localidades. Além do Manoel Corrêa, foram cadastrados moradores da Boca do Mato, Porto do Carro, Monte Alegre, Estradinha, Rainha da Sucata, Maria Joaquina, Jacaré e entre outros. Este ano o governo anunciou expansão para o Tangará, mas a medida não foi implementada.
Segundo levantamento da própria Prefeitura, em 2023 havia pelo menos 259 comércios cadastrados para aceitar os Itajurús. A maioria das compras era destinada a gêneros alimentícios (80%), seguido por farmácias (10%) e serviços diversos (10%). Em novembro de 2024, o número de estabelecimentos cadastrados caiu para 253. O investimento total estimado com o programa era da ordem de R$ 9 milhões injetados na economia local.