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Mesmo com verba federal, espaço cultural de Cabo Frio sofre com abandono

Infiltrações e reboco caindo evidenciam o descaso com a Casa de Cultura José de Dome. Em dezembro de 2023 o Ministério da Cultura liberou mais de R$ 600 mil para reforma do espaço

20 outubro 2025 - 11h00Por Redação
Mesmo com verba federal, espaço cultural de Cabo Frio sofre com abandono

Em fevereiro, o Ministério da Cultura informou que a Prefeitura de Cabo Frio recebeu (em dezembro de 2023) o valor de R$ 1,5 milhão em recursos da Lei Aldir Blanc. Com rendimentos dos recursos, o valor, segundo o órgão federal, já passava de R$ 1,6 milhão no começo deste ano. Parte desse dinheiro (R$ 980 mil) deveria ser empregado nos quatro editais da Lei Aldir Blanc, e o restante (R$ 620 mil) o governo municipal anunciou, na época, que usaria na reforma da Casa de Cultura José de Dome (Charitas). No entanto, conforme a Folha antecipou na última edição impressa, quase dois anos depois da verba ter sido liberada as melhorias no imóvel ainda não foram feitas.

Na última semana o jornal registrou uma série de imagens que denunciam o abandono do local. Algumas paredes exibem sinais evidentes de deterioração. Em diversos pontos o reboco se desprendeu, revelando rachaduras e manchas de infiltração que se estendem até o teto. O forro, também danificado, apresenta marcas de umidade e trechos escurecidos, indicando vazamentos antigos não reparados.

Em outros espaços o cenário não é diferente: paredes próximas aos extintores de incêndio estão descascadas, resultado da infiltração contínua e da falta de manutenção. O rodapé, desgastado, mostra a ação prolongada da umidade. O piso apresenta desgaste acentuado, com várias peças manchadas e escurecidas, deixando clara a falta de conservação.

Até mesmo espaços destinados à exposição de obras de arte sofrem com o abandono. Embaixo de um dos quadros da artista plástica Tiita Machado existem vários buracos por causa do reboco que caiu. A pintura das paredes também está comprometida por causa de infiltrações. O contraste entre a beleza do acervo exposto e o estado precário do espaço evidencia o descuido com um dos patrimônios históricos mais simbólicos de Cabo Frio.

Construído pela irmandade Santa Izabel, o prédio teve a pedra fundamental lançada em 27 de julho de 1836, mas a obra só foi concluída em 1840. O objetivo da irmandade era utilizar o espaço como Casa de Caridade para acolher crianças abandonadas, que eram deixadas na “roda dos expostos”, que ficava em uma das janelas.

Em virtude das diversas epidemias que assolaram a região, o Charitas também funcionou como hospital, e durante a Segunda Guerra Mundial abrigou o 1º Grupo de Artilharia de Dorso. Ao longo dos anos, o imóvel teve diferentes usos, servindo ainda como fórum, escola e biblioteca municipal.

Em fevereiro deste ano, quando o Charitas sediou a solenidade de lançamento dos editais da Lei Aldir Blanc, o prefeito de Cabo Frio, Serginho Azevedo, falou da importância do prédio para a história da cidade ao lembrar que o local também já foi uma cadeia pública no século XVIII, e depois foi um orfanato. Mas, esta semana, questionado pela Folha sobre as condições estruturais do imóvel e a ausência de manutenção visível nas áreas internas, não houve resposta.

A situação de abandono do espaço cultural não é novidade. Em 2023 o governo municipal disse que já estava fazendo um reparo emergencial no telhado (para sanar problemas com vazamentos no teto e nas paredes); no madeiramento (incluindo portas e janelas) e também na pintura. Problemas que, segundo imagens feitas pela Folha esta semana, continuam existindo.

Na época, a então secretária adjunta de Cultura, Beatriz Tanner, explicou que por ser um patrimônio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a reforma do Charitas deve seguir rigorosos protocolos de restauração. Disse ainda que o processo para a prestação do serviço especializado foi aberto em junho de 2022, para elaboração de mapa de danos e diagnóstico de fachada, esquadrias e cobertura, restauro de cobertura, protótipo de fachada e esquadria de madeira do prédio.

A reforma teria sido iniciada no dia 17 de janeiro de 2023, realizada pela empresa Sarasá (a mesma responsável pela restauração do Palácio das Águias, na Rua Érico Coelho), e paga com recursos da Emenda Impositiva da Câmara Municipal à Lei Orçamentária Anual (LOA), de autoria do então vereador (atual vice-prefeito) Miguel Alencar. Ele teria destinado R$ 298.380,01 para a reforma de patrimônios históricos da cidade, incluindo o Charitas.