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´BREAZAIL'

Há 15 anos, Cabo Frio brilhava na Sapucaí

Imperatriz Leopoldinense cantou a cidade na Avenida em enredo que tratava do ciclo do pau-brasil

01 março 2019 - 09h50Por Rodrigo Branco

Há quatro anos sem desfiles, Cabo Frio já viveu dias muito mais gloriosos em se tratando dos desfiles das escolas de samba. Em 2004, as agremiações locais estavam em fase crescente, destacada à época pela Folha, que deu ampla cobertura ao concurso, vencido pela Paz e Harmonia. Naquele mesmo ano, a cidade foi homenageada em verso e prosa na Marquês de Sapucaí, pela Imperatriz Leopoldinense, que levou para a Avenida o enredo ‘Breazail’, sobre a história do pau-brasil. 

Cabo Frio foi mencionada na sinopse como o primeiro entreposto comercial do produto. Entre as referências bibliográficas usadas pela então carnavalesca da escola, Rosa Magalhães, estava o livro ‘Cabo Frio, Nossa Terra, Nossa Gente’ (1996), do escritor Hilton Massa (1916-2011). O filho de Hilton, Paulo Massa, relembra a honra de uma obra do pai ter servido de base para o enredo da agremiação de Ramos, uma das maiores do Rio de Janeiro. Rosa e diretores da Imperatriz vieram a Cabo Frio para encontrar-se com Hilton e buscar outras referências históricas.

– Foi o primeiro livro que meu pai escreveu e que conta a formação das famílias de Cabo Frio, desde quando a cidade era dividida em dois clubes: os liras e os jagunços. Havia duas bandas que tocavam no mesmo coreto em frente à igreja. Então havia aquela divergência como se fosse time de futebol. Até que um lira foi casando com um jagunço, foi se misturando tudo. Esse livro conta a histórias dessas famílias, de como os turcos chegaram a Cabo Frio, de como os portugueses chegaram a Cabo Frio – comenta Paulo Massa, que não participou do desfile. 

Para completar a pesquisa, a consagrada carnavalesca esteve em vários locais como o Convento do Morro da Guia. O resultado na Avenida, como de costume, foi com o requinte e a riqueza de detalhes que caracterizam a obra de Rosa. O nome da cidade, estampado nos versos ‘Viagem ao Novo Mundo/Deu a Vespúcio a primazia/De erguer em Cabo Frio/Fortaleza e feitoria’, foi ouvido em duas oportunidades, já que a Verde, branco e dourada da Zona da Leopoldina ficou em 5º lugar (a campeã foi a Beija-Flor), o que lhe deu direito a voltar no Desfile das Campeãs no sábado seguinte. 

O secretário de Turismo da época, Carlos Victor Mendes, disse que as tratativas foram feitas diretamente entre a diretoria da escola e o então prefeito Alair Corrêa. Carlos Victor não soube dizer se houve patrocínio do governo municipal ao desfile, fato que é corriqueiro quando uma cidade é homenageada. Carlos Victor disse que viu com bons olhos, na ocasião, a disseminação do nome de Cabo Frio para o mundo inteiro, mas afirmou que hoje não repetiria a experiência.

Ele observa que a abordagem do enredo não foi direta à cidade, mas apenas a alguns de seus fatos históricos. Curiosamente, dois anos antes, a Prefeitura de Campos dos Goytacazes ameaçou processar a escola pelo fato de o enredo sobre os índios tupis-guaranis mencionar o município de forma apenas transversal, apesar da alegação de ter havido um patrocínio de R$ 1,8 milhão feito pelo poder público municipal à época.  

– O desfile divulgou o destino de uma forma geral, fixou o nome, mas do ponto de venda turístico, não chegou a ter muito retorno, pois não divulgou as belezas de Cabo Frio, divulgou a história – disse Carlos Victor.

Da ‘Certinha de Ramos’ para a Morada

Muitos cabofrienses organizaram-se em alas e desfilaram em 2004 pela ‘Certinha de Ramos’. O apelido da escola é em alusão aos desfiles tecnicamente perfeitos, ou seja, precisos em termos de Harmonia e Evolução. 

O secretário de Cultura da época, o cineasta Milton Alencar, confirma que a animação foi muito além da pista de desfiles e serviu de motivação para o desenvolvimento do Carnaval cabofriense na década de 2000.

– As minhas recordações em Cabo Frio daquela época são as melhores possíveis não só pela Imperatriz, mas pelo legado que ela deixou como ensinamento. Foi fundamental para o nosso Carnaval naquele momento, que almejava construir a Morada do Samba que, hoje, está em frangalhos – recorda.

De fato a conexão Região dos Lagos-Ramos durou mais que os 80 minutos do desfile de 2004. Responsável pela articulação entre a escola e o município, o corégrafo Vítor Vital teve sucesso como carnavalesco em Cabo Frio. Ele foi bicampeão em 2005/2006, por Império de Cabo Frio e Vermelho Branco, respectivamente. No Acesso, triunfou com a Unidos do Valão.