Profissionais da educação da rede municipal de Cabo Frio ainda não definiram quais os rumos devem tomar após o protesto realizado em frente à Prefeitura e a passeata pelas ruas do centro da cidade, na última terça-feira (27), quando também foi realizada uma greve de 24 horas. Entre as motivações, segundo o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe Lagos), está o fato de que a categoria está há três anos sem nenhum tipo de reajuste salarial. Como não houve diálogo entre o sindicato e o prefeito Serginho Azevedo, o estado de greve está mantido, o que deixa em aberto a possibilidade de novas mobilizações nos próximos dias.
Até o fechamento desta matéria, o Sepe Lagos ainda não havia divulgado o balanço da greve. Já a Prefeitura informou que a adesão foi baixa: das 88 escolas da rede municipal, apenas duas teriam paralisado as atividades: a Escola Municipal Alfredo Castro e a Escola Municipal Rui Barbosa.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Serginho classificou a manifestação na porta da Prefeitura como “ato antidemocrático e lamentável”, e citou a presidente do Sepe, Denize Alvarenga.
– O sindicato promoveu uma manifestação na porta da Prefeitura com microfone e alto-falantes. Fui até lá com respeito, ouvi cada palavra, mas quando tentei falar, a presidente do sindicato me impediu, mostrando que não quer diálogo, quer monólogo. Essa mesma presidente, que já me ofendeu publicamente diversas vezes, não será recebida por mim - afirmou Serginho.
O prefeito cabo-friense garantiu que “quem optar por algazarra e gritaria, em vez do diálogo institucional, responderá juridicamente”.
– Se a presidente quiser confronto, ela brigará sozinha. Eu sigo à disposição para o diálogo verdadeiro com uma comissão de até três representantes do sindicato, com transparência, seriedade e foco em soluções - afirmou.
Serginho destacou, ainda, que os professores concursados de Cabo Frio recebem salários acima do piso nacional, que estão pagos em dia e antecipadamente, diferentemente do que ocorria nas gestões anteriores. E afirmou que já quitou os atrasados até dezembro de 2024, obrigação da administração passada.
– Também estou disposto a discutir o reajuste dos demais profissionais da educação e de todos os servidores, com responsabilidade fiscal, pensando no futuro da cidade e na continuidade dos serviços essenciais - garantiu o prefeito.
SEGUNDA GREVE EM CINCO MESES
Esta foi a segunda greve decretada pelos profissionais da educação da rede municipal de Cabo Frio somente este ano: a primeira aconteceu entre os dias 15 e 28 de janeiro, e foi motivada pela política de parcelamento salarial implementada pelo prefeito Serginho Azevedo. O impasse com a categoria, porém, começou antes mesmo da posse do atual chefe do Executivo. Em novembro de 2024, logo após a eleição, Serginho concedeu entrevista exclusiva à Folha dos Lagos. Na ocasião, foi questionado se pretendia manter diálogo com o Sepe Lagos.
– Com certeza iremos conversar com o Sepe Lagos da mesma forma que iremos dialogar com todas as entidades de classe de Cabo Frio. É até importante que o Sepe conheça a situação que iremos encontrar o município, pois será necessário gerir com eficiência e responsabilidade para garantir os direitos de todos - respondeu Serginho ao jornal. Desde então, contudo, a coordenação do sindicato afirma que todas as tentativas de estabelecer conversas com o chefe do Executivo foram ignoradas. Em março deste ano, a direção do Sepe chegou a se reunir com representantes da Secretaria Municipal de Educação, mas, segundo eles, o encontro não resultou em avanços concretos.
Na mesma entrevista à Folha, ao ser questionado sobre os desafios da educação no município, Serginho afirmou: “Valorizar o profissional de educação é premissa básica para nós, mas precisamos estudar com atenção os índices preocupantes da folha de pagamento da Prefeitura, que vem crescendo todos os meses. Gerir com eficiência é a chave para que ninguém tenha direitos não cumpridos.”
Ainda assim, segundo o Sepe Lagos, o descumprimento de direitos garantidos por lei é uma prática que se mantém tanto na atual gestão quanto nas anteriores. Entre as principais reivindicações estão o pagamento do Piso Nacional do Magistério, a implementação de um calendário de reajustes salariais e a regularização dos contratos temporários. A categoria também denuncia a falta de diálogo com o Executivo e a ausência de transparência na condução das políticas públicas para o setor.
A tentativa de diálogo, segundo o sindicato, também enfrentou entraves no Legislativo. Desde janeiro, o Sepe Lagos buscava espaço na tribuna da Câmara de Vereadores para denunciar a falta de transparência na gestão da educação municipal e cobrar respostas sobre pautas históricas da categoria. Os pedidos, no entanto, foram ignorados ou barrados pela presidência da Casa, sendo autorizados apenas em abril, após denúncia pública.
Na ocasião, representantes do sindicato reforçaram reivindicações de investimentos na área, a valorização dos profissionais da educação, a convocação dos concursados, além de denunciar irregularidades no Processo Seletivo. Também cobraram do Executivo a abertura de um canal efetivo de diálogo com a categoria, principalmente com relação ao reajuste salarial, negado pelo terceiro ano consecutivo.