Adriano Guilherme de Teves Moreno (Rede), 55 anos, nasceu em Itaperuna, mas sempre morou em Cabo Frio. Da infância na Vila Nova, na Rua Nicanor Pereira Couto, carrega lembranças de uma cidade pacata, sem grandes construções. Agora, o ortopedista, concursado há 21 anos no município, faz residência na prefeitura, onde chega por volta das 7h30 e sai “só Deus sabe quando”. Os 34.529 votos que o fizeram trocar a caneta de médico pela de prefeito impõem o desafio de cuidar de uma cidade fraturada por uma dívida bilionária. Ele, que acaba de completar 100 dias de governo, anuncia à Folha a chegada de grandes empreendimentos. “Vamos vencer os obstáculos”, diz.
Folha – Qual a análise que você faz do mandato até aqui?
Adriano – Completamos recentemente cem dias de governo. Pegamos uma cidade numa situação caótica financeira e administrativamente. Fizemos um levantamento da dívida, de aproximadamente um bilhão e 314 milhões de reais. Paralelamente, criamos uma auditoria, avaliando contratos com as empresas que prestaram serviço ao município nos últimos anos.
Folha – A situação financeira te surpreendeu?
Adriano – Sempre imaginei uma coisa ruim. Mas, com os números nas mãos, fiquei assustado. O que consegui neste espaço de tempo? Consegui pagar triênios dos funcionários. Consegui pagar uma parcela do décimo terceiro da educação, de dois milhões e 400 mil reais. Consegui, nos primeiros meses, pagar o funcionalismo antes do quinto dia útil. Depois, no entanto, tivemos uma triste surpresa: os arrestos nas contas por causa de dívidas com precatórios. Essa dívida vem sendo rolada, correndo juros sobre juros.
Folha – Este é seu principal desafio?
Adriano – Sim. Estou angustiado. Há uma batalha jurídica para que esses arrestos sejam suspensos. Isso está criando um problema administrativo muito grande. Ficamos sem recursos para fazer a cidade caminhar e pagar o funcionalismo. Apesar disso, temos conseguido alguns avanços. Com ajuda do deputado Janio Mendes e do presidente da Alerj, André Ceciliano, conseguimos 250 toneladas de massa asfáltica para tapar buracos. Conseguimos, também, reestruturar a Secretaria de Esporte e, depois de pagar R$ 29 mil de dívida com a Enel, levar iluminação ao ginásio Alfredo Barreto, que estava às escuras há quase 10 meses. Temos, além disso, revisto contratos draconianos. Um deles é em relação ao aluguel de ambulâncias. No governo passado, foi feita contratação de 10 ambulâncias. Dessas, duas seriam ambulâncias com UTI. Infelizmente, a empresa que ganhou forneceu sete ambulâncias sucateadas, nenhuma delas com UTI. O secretário de Saúde, vendo que esta empresa não cumpria os requisitos do contrato, suspendeu o contrato e convocou a segunda colocada, que graças a Deus aceitou assumir o contrato. E não apenas isso: nos presenteou com seis ambulâncias com UTI e quatro ambulâncias básicas pelo mesmo preço do contrato. Junto com o deputado Janio Mendes, conseguimos ainda a doação do governo do estado de mais cinco ou seis ambulâncias. que vamos buscar a qualquer momento. Com isso, minimizamos um problema grave, que é o transporte dos nossos doentes.
Folha – Com o aumento recente dos royalties, há muito questionamento sobre a destinação dos recursos...
Adriano – Não podemos usar recurso dos royalties para pagar integralmente a folha de pagamento. É proibido por lei. As pessoas vêm falar que houve aumento dos royalties. Sim, mas os arrestos que tivemos nesses últimos 50 dias foram de R$ 25 milhões, praticamente.
Folha – Há uma expectativa que os repasses dos royalties continuem em alta. Acredita nisso?
Adriano – Acredito e estou torcendo muito para que isso ocorra. Assim como torço para que a gente consiga solucionar também o problema com arrestos.
Folha – Acha que essa essa alta substancial dos royalties chega ainda no seu mandato?
Adriano – Rapaz, eu rezo todo dia por isso.
Folha – Como é sua rotina de trabalho?
Adriano – A minha vida hoje é pagar funcionários. No dia que pago, respiro. No dia seguinte, começo a contar todos os dias se temos condição de honrar o outro mês.
Folha – Como está sendo o trabalho de atração de novas empresas?
Adriano – Temos colocado a prefeitura como parceira para agilizar liberação de licenças para esses empresários. Tivemos algumas situações gratificantes, como a da concessionária da Jeep que já se instalou aqui em Cabo Frio. A concessionária Hayasa Honda também está com expectativa de se instalar aqui. E o Grupo Mil [controlador
do supermercado Bramil] vai abrir um supermercado onde é o campo do Piaba, no Jardim Esperança, fazendo, de modo gentil, um campo de futebol em parte do terreno para a população. Esse mesmo grupo é dono do “esqueleto” que fica em frente à garagem da Viação 1001, perto da rodoviária. Para esta área há um projeto de shopping com supermercado. Estamos tentando resgatar o emprego para a população, corrigindo
um grave erro do passado: a transformação da prefeitura no maior empregador do município. Há também um grupo empresarial que vai construir na Ogiva, em frente ao
Clube Náutico, um grande empreendimento, que já tem todas as licenças aprovadas. Será um condomínio de luxo que vai mudar todo mercado imobiliário de Cabo Frio. No Peró, um grupo espanhol vai fazer uma fazenda de maricultura, com perspectiva de gerar 500 empregos diretos. Para Tamoios, uma grande notícia é que estive com o secretário de Educação, Wagner Victer, e fizemos uma parceria: doamos um terreno para ser instalada uma escola técnica estadual, em tempo integral, para 1.800 alunos. A escola, próxima à Rodovia Amaral Peixoto, vai se chamar Carlos Heitor Cony.
Folha – Quais os resultados da visita à China?
Adriano – Fomos muito bem recebidos. Visitamos várias empresas. Mostramos nossa posição logística privilegiada. Com uma empresa de energia eólica e solar, vamos aplicar um plano piloto para ter uma praça nossa iluminada com o equipamento deles. Visitamos uma universidade que tem 80 mil alunos, sendo 2.500 estrangeiros e, para minha surpresa, nenhum deles da América do Sul. Forneceram-nos parcerias com as universidades instaladas em Cabo Frio. Assim, eles mandariam estudantes chineses para cá, e nossos estudantes iriam para lá. Agora, vamos começar as tratativas com as universidades daqui para fazer essa aproximação. Mas esperamos que o primeiro resultado dessa nossa viagem seja no turismo. Queremos trazer os chineses para cá. Eles estão interessados em nos colocar em sua rota de turismo.
Folha – Quais são suas memórias de infância de Cabo Frio?
Adriano – Conheci uma Cabo Frio virgem de grandes construções. Virgem de vícios políticos. Virgem de violência. Pessoas transitavam e se cumprimentavam como se fossem de uma grande família.
Folha – Qual o futuro da cidade?
Adriano – Encontrei a cidade em situação calamitosa. Não estou aqui para ficar chorando, nem lamentando. Se é essa missão que Deus me deu, vou honrar. Vejo um futuro melhor, de emprego e renda. Não tenho dúvidas. Vamos vencer os obstáculos.