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CONFLITO EUA X IRÃ

Economista prevê risco remoto de crise no petróleo, mas alerta: prefeitos devem se preparar

Para Leandro Cunha, municípios da região devem se antecipar a possíveis tensões globais e reduzir a dependência dos royalties do petróleo

30 junho 2025 - 10h55Por Redação
Economista prevê risco remoto de crise no petróleo, mas alerta: prefeitos devem se preparar

O ataque dos Estados Unidos contra três instalações nucleares no Irã, no último sábado (21), acendeu um alerta sobre os possíveis impactos globais da tensão no Oriente Médio, especialmente no mercado internacional do petróleo. Embora especialistas acreditem que a chance de uma escalada mais agressiva ainda seja remota, a possibilidade de aumento no preço do barril já mobiliza análises econômicas e preocupa municípios brasileiros que dependem dos royalties do petróleo, como os da Região dos Lagos.

Em entrevista à Folha dos Lagos, o economista e administrador da Petrobras, Leandro Cunha, disse que diante de um cenário de acirramento de ataques dos Estados Unidos contra o Irã, é possível que tenhamos uma queda na oferta de petróleo no mundo. Isso porque, segundo ele, a região do Golfo Pérsico é responsável por 20% da produção mundial. E uma das possíveis retaliações do Irã contra o ataque sofrido pelo governo Donald Trump seria o fechamento do estreito de Ormuz (importante rota para o petróleo no mundo), algo que chegou a ser aprovado pelo parlamento iraniano, mas ainda depende da palavra final do Conselho de Segurança Nacional Supremo do Irã.

– Se o Irã fechar o estreito de Ormuz, ele prejudicará a oferta de petróleo no mundo, o que vai fazer com que o preço do petróleo suba. Então, uma preocupação é se os Estados Unidos continuarem os ataques, porque isso pode afetar o mercado mundial de petróleo com altas sucessivas. Especialistas apontam uma subida de até 130 dólares o barril como uma possibilidade diante de um cenário de crise entre os Estados Unidos e o Irã. Embora tenha havido um ataque, o cenário atual não aponta para um acirramento contra o Irã. Então, é bem provável que não haja essa escalada. Mas isso vai depender também da reação do Irã contra os Estados Unidos. É uma possibilidade remota de uma escalada, mas ela existe - avaliou Leandro.

O economista também falou sobre os possíveis reflexos dessa briga internacional as cidades que dependem dos royalties do petróleo, como é o caso de Cabo Frio. De acordo com Leandro, se houver um cenário de crise em que os Estados Unidos faça novos ataques ao Irã, isso pode desencadear um aumento do preço do petróleo, o que pode gerar mais receita para a Petrobras, mais royalties para os municípios, mas também uma alta no preço dos combustíveis para a população.

– O Brasil exporta petróleo, então o aumento no preço vai gerar mais lucro para a Petrobras. Mas um preço mais alto do barril é prejudicial para os consumidores e para as empresas, porque traria um aumento de preço do combustível lá na bomba. Para os municípios, o preço mais alto pode representar maior receita de royalties, e um preço mais baixo, menos receita. Em um cenário em que não aconteça esse acirramento da guerra contra o Irã, a tendência é a gente ter preços mais estáveis e mais baixos. E isso, de certa forma, pode ocasionar alguma perda de receita dos royalties para os municípios. Por enquanto, não há sinais desse acirramento - avaliou Leandro.

Ele também explicou que, caso a ofensiva dos Estados Unidos contra o Irã não siga adiante, a expectativa é de que o Brasil siga com a expectativa atual, com preço do barril de petróleo relativamente baixo, e um aumento da produção por parte da Petrobras, sem gerar perdas imediatas de receita dos royalties, nem prejuízos para a economia.

– Essa situação só mudaria se o ataque continuar e houver um aumento na agressividade de ambos os lados. Aí, sim, a gente teria que se preocupar com reflexos no aumento de preço do barril de petróleo - alertou Leandro, que também fala em outra possível consequência negativa para a economia do Brasil: a alta no dólar.

De acordo com o economista, os movimentos mais recentes do dólar ainda não estão diretamente ligados à questão da guerra. No entanto, caso haja um aumento da tensão no cenário internacional, a tendência, segundo ele, é que os investidores passem a buscar o dólar como reserva de valor. Com isso, a demanda pela moeda aumenta, o que pode resultar na sua valorização frente a outras moedas, inclusive o real. “Mas, por enquanto, não há sinais ainda de que isso ocorra num curtíssimo prazo, a não ser mesmo que haja um cenário de escalada da guerra, o que não me parece ser o caso”.

Para evitar dependência de cenários internacionais na economia municipal, Leandro afirma que os prefeitos das cidades produtoras de petróleo devem agir com responsabilidade fiscal e uma melhor aplicação de recursos.

– Eu posso citar o caso de Maricá. Mesmo com abundância de recursos de royalties devido à exploração do pré-sal, não vejo desperdício de dinheiro público. Eles têm uma estrutura administrativa relativamente equilibrada. Eu tenho visto, também, o prefeito reduzir a folha de pagamento, e isso, de certa forma, beneficia ao sobrar recursos para investimentos. Então, ele está pensando na diversificação da economia local, pensando em aplicar recursos em infraestrutura, em um modelo menos dependente do petróleo. E acho que esse é o caminho para outras prefeituras também manterem um equilíbrio fiscal, tentar diminuir a dependência dos royalties, manterem estruturas administrativas relativamente enxutas, para que sobre dinheiro para investimentos, infraestrutura, diversificação da economia, para a saúde e educação, que eu acho que é fundamental também para o desenvolvimento, e o bem-estar da população local.

Outra possibilidade apontada por Leandro para que os municípios dependam cada vez menos dos royalties do petróleo é a criação de um consórcio com foco no turismo regional.

– A região precisa utilizar bem recursos e se proteger de crises de petróleo. Precisa de um consórcio de municípios com ações regionais voltadas para o turismo e a cadeia de suprimentos, a cadeia que presta serviços e vive ali em torno do turismo, do comércio, que também está tentando diversificar com a instalação também de empresas na região. A vocação turística da região deve ser dinamizada com investimentos em prol dessa pujança e dos vários tipos de modelos de turismo que podem ser realizados na Região dos Lagos, a Baixada Litorânea. Uma exploração sustentável da lagoa, melhoria de condições de navegabilidade, turismo de negócios, o turismo esportivo, o turismo em todas as suas nuances com um consórcio entre os municípios da região, fazendo um calendário regional em que todos pudessem usufruir da infraestrutura. E o governo do estado também tem esse papel de orientar e de organizar esse desenvolvimento regional, chamando os prefeitos para um planejamento integrado dos municípios, melhorando a infraestrutura também - avaliou.