Hoje em dia, é difícil não passar pelo caixa do supermercado sem ter a sensação de que se gasta cada vez mais para levar menos produtos para casa. A impressão é confirmada pelo aumento no custo de vida do brasileiro, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que aponta a alta no preço dos alimentos e das bebidas como a grande responsável pela inflação no mês de fevereiro.
Nos supermercados de Cabo Frio, os olhares dos consumidores ficam atentos às gôndolas, em busca de preços promocionais ou de produtos com valor mais em conta. De encarte e calculadora nas mãos, o desafio é abastecer a despensa sem estourar o orçamento limitado. A situação levou a uma mudança nos hábitos de consumo, como a substituição de marcas, o corte de itens considerados supérfluos e o gasto de sola de sapato para pesquisar os preços de vários estabelecimentos.
O funcionário público André Ramos é um que admite comparar antes de meter a mão no bolso. Além disso, se o preço estiver fora do alcance, ele diz que não hesita em deixar o produto na prateleira e levar somente o que é considerado essencial para casa. Também não pensa duas vezes antes de substituir um alimento pelo outro.
– Tem que racionar algumas coisas, porque está difícil. Diminui um pouco a carne bovina, aumentando mais o frango, a carne de porco. O carrinho vai ficando cada vez mais vazio.
A matemática do consumo é ainda mais perversa para os mais pobres, entre as famílias com renda menor do que R$ 1.808,79, que tiveram que lidar com recentes aumentos nos cereais, farináceos e panificados, como feijão (9,4%), farinha de trigo (2,8%), biscoito (2,3%), macarrão (1,1%) e pão (1,0%). Entre os alimentos in natura, os maiores crescimentos foram da batata (23,5%), da cenoura (55,4%) e do repolho (25,7%). Além disso, os preços do café (2,5%) e do leite (1%) também sofreram com o efeito das máquinas de remarcação.
A situação fica ainda mais apertada para quem não tem renda no momento. Desempregada, a consumidora Ana Carolina Barcellos relata quais são as estratégias familiares para enfrentar ‘o dragão’ da inflação.
– Não tem pra onde correr. De qualquer forma, a gente tem que comprar, só que a gente está se apertando, de um lado e do outro. O que a gente comprava em quantidade, agora tem que diminuir, para poder manter. Se não a gente não consegue manter, porque está tudo muito caro. O preço de tudo subiu e, lá em casa, a gente está comprando em quantidade menor. A gente sempre pesquisa preços, o que não dá pra comprar, a gente não compra, substitui por outro alimento. Se não der também a gente não compra, leva só o que dá, o básico e necessário – explica.
O presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), Fábio Queiroz, falou para a reportagem da Folha que os estabelecimentos estão preparados para atender às exigências da população, dentro dos novos padrões de consumo. O executivo acredita que o conflito no Leste Europeu pode afetar ainda mais os preços nas prateleiras.
– A opção por produtos mais baratos ou de marcas próprias reflete uma mudança de comportamento de consumo motivado pela inflação. A Asserj acredita que esta tendência deve permanecer no curto prazo, visto que a guerra da Ucrânia poderá agravar o cenário inflacionário. A missão dos supermercados é abastecer a população. Para isso, buscamos estreitar as parcerias com os fornecedores em busca dos melhores preços, e diversificar a oferta de produtos para atender a todos os perfis de consumidores – conclui.