domingo, 27 de abril de 2025
domingo, 27 de abril de 2025
Cabo Frio
25°C
Park Lagos
Park Lagos mobile
Geral

Conselho de Patrimônio de Cabo Frio descarta votar demolição do Galpão do Sal em abril

Próxima reunião do colegiado está marcada para o dia 8, mas assunto não estará na pauta

03 abril 2019 - 08h41
Conselho de Patrimônio de Cabo Frio descarta votar demolição do Galpão do Sal em abril

TOMÁS BAGGIO

A presidente do Conselho de Patrimônio de Cabo Frio, arquiteta Márcia Cabral, garantiu ontem que a votação sobre a demolição do imóvel conhecido como “galpão do sal” não estará na pauta da próxima reunião ordinária, marcada para o dia 8. O processo administrativo em que o proprietário pede autorização para a demolição do imóvel segue na Procuradoria-Geral do município, para onde foi enviado no fim de fevereiro após uma audiência pública realizada na Câmara Municipal sobre o assunto.

– O processo foi enviado à procuradoria para ser organizado, saneado e obter um parecer jurídico´quanto à documentação. Como o processo é extenso, algumas mudanças foram sendo feitas, novos documentos foram anexados, o que causou uma readequação das páginas. Queremos essa análise jurídica antes de dar prosseguimento, para que ninguém venha apontar lá na frente alguma irregularidade, alguma inconsistência que possa anular o processo. Essa análise jurídica não vai interferir em nada na decisão do conselho, é apenas uma questão burocrática – explicou Márcia Cabral.

Como, segundo a arquiteta, ainda não há uma previsão de quando o processo deve ser colocado para votação. O processo que pede a demolição precisa de um parecer do Conselho Municipal de Patrimônio indicando a autorização ou a negativa. O parecer é consultivo, e a palavra final é da Prefeitura, que pode seguir ou não o parecer. Desde que foi proposto, o processo tem sido alvo de denúncias, e até mesmo uma votação realizada em março de 2018, que aprovou a demolição, acabou sendo invalidada por supostas irregularidades.

A autorização de demolição de partes do imóvel foi pedida em um processo aberto em junho de 2017 pelo proprietário, Luiz Fernando Xavier da Silveira. O imóvel foi adquirido em setembro de 2011 da empresa Nora Lage S.A., com área total de 7.231,27 m². 

No local existem oito edificações, com área total construída de 2.387,99 m². A solicitação do proprietário é para que sejam autorizadas demolições em cinco edificações, o que significaria uma supressão de 1.146,69 m² de área construída, que passaria a ficar com 1.241,30 m².

A edificação mais preservada do conjunto, chamada de “Casa do Sal”, está fora do pedido de demolição. A polêmica gira em torno dos galpões, que, segundo aqueles que defendem a preservação, teriam papel importante na história salineira da região, o que o proprietário e seus representantes negam.

No dia 26 de fevereiro, uma audiência pública foi realizada na Câmara Municipal para debater o assunto. Na ocasião, o responsável técnico pelo projeto que pede a demolição, arquiteto Manoel Vieira, apresentou slides e defendeu que os imóveis para os quais se busca a demolição não teriam valor histórico que justifiquem a preservação.

– O documento que origina essa discussão é um parecer do Conselho de Patrimônio que avalia o valor cultural desse imóvel a partir de uma foto do Wolney (Teixeira) de 1936, em que a gente observa três galpões. Só que esses galpões foram demolidos na década de 1960. Então na verdade não tem o que preservar. O que existe é um telheiro com aberturas laterais e uma miscelânea de construções que foram feitas ao longo do tempo, como oficinas, canil etc. São construções modernas, ou seja, os imóveis que teriam essa importância histórica não existem mais, e isso esgota a possibilidade de um tombamento com os rigores que um tombamento tem que ter – disse Vieira.

Na sequência a palavra ficou com o professor de história João Henrique de Oliveira Christóvão, que defendeu a preservação. Para ele, não importa se o galpão que está no local atualmente serviu ou não à indústria salineira de alguma forma, mas sim o fato de o imóvel pertencer a um conjunto histórico onde se situa o primeiro núcleo portuário e de ocupação da cidade. Na visão de Christóvão, a importância histórica do local não pode ser questionada.

– A área em si tem uma importância histórica e social para a formação da cidade que é extremamente relevante. O que se discute aqui não é apenas o galpão em si, mas todo o entorno e o significado daquilo. O galpão também, mas a gente só pode saber exatamente o papel que ele desempenhou a partir do momento em se tem acesso a ele com pesquisas amplas com arquitetos, historiadores, arqueólogos, para definir e identificar. Agora, independentemente disso, o que está sendo discutido não é apenas o patrimônio material, mas, sim, o patrimônio imaterial. A cidade nasce naquele ponto e se desenvolve a partir dali. O cais tem uma importância com relação ao sal, à pesca e a toda uma gama de trabalhadores que construíram a cidade. Isso está documentado em diferentes fontes iconográficas, de imprensa, da literatura e da documentação oficial da cidade – defende João Christóvão.

O proprietário do imóvel, Luiz Fernando Xavier da Silveira, esteve presente na Câmara mas não se pronunciou durante a audiência (ele foi representado por Manoel Vieira). Na saída, ele falou rapidamente com a reportagem, e, questionado, disse que não sabe o que pretende fazer com o imóvel caso as demolições sejam autorizadas.

– Eu não tenho ideia. [Primeiro pretendo] demolir depois eu vou ver o que eu vou fazer. Isso está se arrastando há dois anos. Restaurei a Casa do Sal, que é o que é importante, mesmo não estando tombada eu restaurei, e pensei que o resto não teria problema. O prefeito me disse que não tem interesse pela área. Que não tem dinheiro para indenização. Eu faço qualquer coisa com a prefeitura desde que seja indenizado – disse ele, que não quis revelar o valor do imóvel. 

A Folha entrou em contato com a assessoria do prefeito Adriano Moreno, que confirmou a fala de Luiz Fernando.

“A conversa está confirmada. A Prefeitura de Cabo Frio informa que não dispõe de recursos financeiros para a compra de nenhuma área. Há outras prioridades, como saúde e educação”, informou a assessoria.

Leia Também

Editora cabo-friense, Sophia expõe obras em feira de livro de Belo Horizonte
Cultura

Editora cabo-friense, Sophia expõe obras em feira de livro de Belo Horizonte

RESISTÊNCIA

Casa de Referência Inês Etienne Romeu segue sob risco de despejo em Cabo Frio

Mesmo com reintegração suspensa no último dia 18, integrantes do Movimento Olga Benário permanecem em vigília; espaço acolhe mulheres vítimas de violência
Luto | Rogério Zera: um artista sonhador e inquieto de coração aldeense
Geral

Luto | Rogério Zera: um artista sonhador e inquieto de coração aldeense

Encontro musical nesta quarta (23) celebra o Dia de São Jorge na Praia do Siqueira, em Cabo Frio
Geral

Encontro musical nesta quarta (23) celebra o Dia de São Jorge na Praia do Siqueira, em Cabo Frio