É cada vez maior o número de clientes da GAS Consultoria que acionam a Justiça para tentar reaver pelo menos parte do dinheiro que foi investido na empresa, que se apresentava como operadora de criptomoedas. Segundo levantamento feito pelo jornal Extra, até a última sexta-feira (14), ao menos 319 investidores já haviam entrado na Justiça. Parte dessas pessoas são de Cabo Frio, e têm se reunido para tentar, de forma conjunta, garantir o bloqueio de valores nas contas da empresa. Uma dessas pessoas, identificada apenas como Luiz, contou à Folha que antes do bloqueio judicial, todos os pagamentos estavam sendo feitos em dia, conforme contrato.
- Eu só deixei de receber depois que houve o bloqueio nas contas. Antes disso nunca tive problema nenhum. Então não acho justo culpar a empresa pelo atraso. Mas já que a Justiça segurou nosso dinheiro fomos orientados a entrar com uma ação pedindo o bloqueio dos valores que não foram pagos -, contou o morador de Cabo Frio. Até agora, pouco mais de R$ 5 milhões já foram bloqueados para ressarcir investidores. Quase um quarto desse valor, no entanto, seria referente a um único cliente: um advogado de Campos dos Goytacazes, que afirma ter investido R$ 1,15 milhão entre janeiro e maio de 2021. Numa carta aberta divulgada dia 8 de dezembro, Glaidson se defendeu, alegando que nunca imaginou ser preso injustamente, e ser proibido de pagar um dinheiro que contratualmente pertence aos clientes da GAS.
RÉU POR TENTATIVA DE HOMICÍDIO
Glaidson Acácio dos Santos está preso desde agosto de 2021. Ele foi alvo da Operação Kryptos, da Polícia Federal, sob a acusação de chefiar um esquema de pirâmide financeira disfarçado de investimento em criptomoedas. Desde então, passou a responder, também, por outros crimes, entre eles a tentativa de homicídio contra o investidor Nilson Alves da Silva (o Nilsinho), em 20 de março de 2021, no Braga, em Cabo Frio, e o assassinato de Wesley Pessano, de 19 anos, morto a tiros em agosto de 2021, em São Pedro da Aldeia.
A juíza da 2ª Vara Criminal da cidade, Janaína Pereira Pomposelli, chegou a aceitar a denúncia do Ministério Público Estadual (MP-RJ) de que Glaidson teria ordenado a execução do concorrente no mercado de criptomoedas. Nilsinho sobreviveu, mas ficou tetraplégico e cego. A motivação para o crime, segundo investigação, seria pelo fato de que, em janeiro de 2021, Nilsinho teria espalhado um boato de que o dono da GAS seria preso pela Polícia Federal, numa tentativa de cooptar clientes de Glaidson. Em agosto, no entanto, o boato se tornou realidade.
Segundo as investigações, Glaidson ordenou que um dos seus homens de confiança, Thiago de Paula Reis, contratasse os executores do crime. Além de Glaidson e Thiago, a juíza ordenou a prisão preventiva de Rodrigo Silva Moreira, Fabio Natan do Nascimento (o FB), Chingler Lopes Lima e Rafael Marques Gregório, denunciados como os executores do crime. Os três últimos também são investigados pela morte do investidor Wesley Pessano. Depois de meses de fuga, Rodrigo Silva Moreira foi preso nesta terça-feira (18) por policiais civis da Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM) de Angra dos Reis. Capturado na Avenida Aloísio de Castro, no bairro Condado, em Paraty, na Costa Verde do Rio, ele é acusado de ajudar Glaidson a planejar a morte de Nilsinho.
No canal oficial de comunicação da empresa, num aplicativo de mensagens, o último comunicado oficial foi feito em 16 de dezembro, logo depois que Glaidson, e outras cinco pessoas, se tornam réus pela tentativa de homicídio contra Nilsinho. No comunicado, a empresa alega que “o fato de alguém ser investigado, indiciado, denunciado ou mesmo preso em caráter preventivo, não significa dizer que aquele indivíduo cometeu algum crime”. Sobre as provas de envolvimento no crime, anunciadas pela polícia, o comunicado diz: “respeitamos todas as autoridades envolvidas nas investigações, mas consideramos que os elementos ali trazidos são recortes frágeis, passíveis de várias interpretações e insuficientes para sustentar uma denúncia”.