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Caso do médico flagrado com cães mortos no freezer em Arraial repercute no país

Além dos maus-tratos, suspeita é de que ele consumia e oferecia a carne dos animais a terceiros. 'Cativeiro de sofrimento animal', diz delegado

30 abril 2025 - 11h37Por Kauã Barreto

Cães mortos e congelados dentro de um freezer. Em outros cômodos, animais vivos, sujos, famintos e acuados, convivendo entre fezes, ossadas, restos de comida apodrecida e sinais evidentes de abandono extremo. Esse foi o cenário encontrado pela Polícia Civil na terça-feira (29), no bairro Canaã, em Arraial do Cabo. A descoberta causou comoção em toda a Região dos Lagos e teve ampla repercussão nacional, sendo noticiada por veículos como O Globo, CNN Brasil, Veja e Metrópoles. 

O responsável pelo crime e pela casa, o médico cardiologista Walter Rau da Silva Oliveira, foi preso em flagrante. Ele atuava desde 2021 no posto de saúde do bairro Sobradinho, em Araruama, como parte do programa federal “Mais Médicos”. A prefeitura confirmou o vínculo e informou ter notificado o Ministério da Saúde para adoção das "medidas cabíveis".

A ação, batizada de Operação Liberandum, foi deflagrada após uma denúncia anônima via WhatsApp, recebida no último domingo (27). A resposta policial foi imediata: o delegado Renato Perez, da 132ª Delegacia de Polícia, instaurou inquérito, acionou o Ministério Público e solicitou, com urgência, o mandado de busca e apreensão.

— A cena era de horror. Um ambiente sem higiene, sem ventilação, completamente inaceitável para qualquer ser vivo — relatou Perez, que ainda classificou o local como “um verdadeiro cativeiro de sofrimento animal”.

No total, dez animais foram resgatados com vida — seis cães e quatro gatos. Quatro destes últimos estavam trancados no banheiro da suíte, em meio a dejetos e restos de ração deteriorada. Uma cadela da raça buldogue francês, segundo a equipe veterinária, apresentava desidratação severa, feridas profundas nas patas e perda de movimento nos membros traseiros, um possível caso de tetraplegia.

A polícia investiga ainda a possibilidade de que o médico comercializasse a carne dos animais e, de acordo com autoridades envolvidas na operação, ele chegou a afirmar, no momento da abordagem, que se alimentava dos animais e que teria servido a carne a amigos.

— Se isso também aconteceu, já é mais um agravante na pena e no que ele vai ter que responder dos fatos e do que ele deixou acontecer na própria vida dele mesmo — afirmou uma das fontes ligadas à investigação.

— Nunca presenciei tamanha crueldade. Estou apavorada com tudo isso — disse à imprensa local a médica veterinária Natália Neves Daldegan, responsável pelo primeiro atendimento.

Os animais foram acolhidos pela Clínica de Castração de Arraial.

— Estavam todos em estado de alerta, acuados. A maioria nem conseguia andar. Era como se esperassem o pior — relatou Maryelza de Mendonça Lopes, uma das coordenadoras da clínica.

Além dos corpos congelados, a perícia encontrou anestésicos de uso controlado e uma substância semelhante à maconha. A polícia investiga a suspeita de que procedimentos clínicos clandestinos tenham sido realizados no imóvel, uma hipótese reforçada por imagens recebidas junto à denúncia inicial.

A defesa do médico afirmou que aguardaria o fim da perícia para se pronunciar com mais detalhes. Disse ainda que ele teria levado uma cadela prenha ao veterinário e, após a morte dela e dos filhotes, optado por armazenar os corpos na geladeira.

Vereador de Búzios, município vizinho, Toni Russo defendeu punição rigorosa.

— Um caso macabro, revoltante e que exige resposta firme da Justiça. Vimos até onde a crueldade humana pode chegar. É preciso endurecer o combate ao crime de maus-tratos. A causa animal não tem fronteira de cidade; tem urgência de humanidade.

Walter Rau responderá por maus-tratos com agravante de resultado morte, conforme prevê a legislação. Ele passou por audiência de custódia na quarta-feira (30). O imóvel foi interditado e segue sob investigação.