Uma semana após o fim do Cabofolia 2023, o balanço do evento não se resume apenas a três dias de festa e diversão com a participação de grandes artistas nacionais. Para alguns foliões, o evento, considerado o maior carnaval fora de época do estado do Rio de Janeiro, também rendeu dores de cabeça e imagens constrangedoras que viraram notícia nacional.
Em entrevista ao podcast Talk Show Lagos, do pastor Fabrício Valladares, Eunice Azevedo da Silva Costa deu detalhes de uma agressão que teria sofrido logo no primeiro dia de evento (19/01) por parte de um segurança.
– Eu estava no camarote oficial e, no final do evento, resolvi descer com um copo de cerveja, de plástico. Assim que desci a escada fui abordada por um rapaz, vestido com uma camisa de cor meio rosê, escrito “staff” atrás. Ele colocou a mão no meu ombro e começou a me empurrar dizendo que eu não poderia descer com bebida, sendo que não apenas eu, mas várias outras pessoas já tínhamos descido com bebida diversas outras vezes. Se houve alguma mudança durante o evento com relação a essa permissão, não foi divulgado. E mesmo que tivesse fazendo algo que não poderia, eu não tinha que ter sido abordada daquela forma. Nem deu tempo de questionar nada: só joguei o copo fora e falei que ele não podia me tocar.
No podcast, a foliã também contou que, além de ter sido empurrada, o segurança também a tratou com deboche, e que teve dificuldades em encontrar alguém responsável pelo evento para fazer uma reclamação. Quando encontrou, diz ela, também foi destratada.
– Contei toda a história, e ele disse que não poderia fazer nada, nem ir falar com o rapaz que me empurrou, porque não tinha ninguém para ficar no lugar dele. Então pensei: “tem poucas pessoas fazendo a segurança do evento”. Quando ele finalmente foi até o rapaz, perguntou se ele tinha me empurrado. O rapaz disse que não, e o chefe da segurança virou e me falou: “Eu acredito nele, então a senhora me dá licença”.
Após continuar tentando registrar a reclamação, Eunice disse que passou a ser intimidada.
– Começaram a surgir várias pessoas de camisa preta para me intimidar, diversos homens sem identificação. Um deles perguntou se eu não queria ir com todos eles até uma cabine para que o rapaz me pedisse desculpa. Lógico que eu não fui. Como não aceitei ir sozinha para uma sala com todos os seguranças, ele começou a gritar e me mandou procurar a polícia.
Eunice contou que também foi destratada por policiais militares ao buscar ajuda deles e até xingada por um que ela identificou como tenente Lucas.
– Fui até o tenente, contei a história, e ele me disse que não houve nada, e que o segurança me tocar e me empurrar não é crime. Falou que a PM não podia entrar no evento e pediu que eu levasse meu agressor até ele. Gritou um palavrão e falou: “A senhora encheu o c… de cachaça e agora tá querendo reclamar de quê?” Eu não estava bêbada. Mesmo que estivesse, isso não dá o direito de me agredirem. Chamei um táxi, fui à Delegacia da Mulher e fiz o registro da ocorrência.
FURTOS E SEXO NA RODA GIGANTE
Além deste caso, a Folha também teve acesso a denúncias de roubos e furtos que teriam acontecido dentro e no entorno do evento. Segundo Alex da Costa Silveira, o filho dele foi uma das vítimas de roubo dentro do Cabofolia.
– E aí, de quem é a responsabilidade? Existe uma lei para isso, é só olhar no Código de Defesa do Consumidor – declarou.
Em contato com as polícias Civil e Militar, a Folha foi informada de que não existe um balanço dos casos “porque não tem como saber quais ocorrências realmente têm relação com o Cabofolia”.
Mas o que realmente chamou a atenção, e virou notícia nacional, foi o fato de um casal ter sido flagrado fazendo sexo na roda gigante instalada dentro do evento. Eles não foram identificados. De acordo com o artigo 233 do Código Penal, "praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público" pode ser motivo de detenção. A pena a ser aplicada por ofensa ao pudor é a detenção, que pode ser de três meses a um ano, ou o pagamento de multa.
SEGURANÇA REFORÇADA COM AUXÍLIO DE CÂMERAS
Em nota enviada à Folha, a Excess Produções, empresa detentora da marca Cabofolia, informou que o festival deste ano atingiu a média de 28 mil pessoas durante os três dias de realização e que, para garantir a segurança do público, de artistas e de trabalhadores, firmou parceria com as Polícias Civil e Militar, disponibilizando acesso e integração do sistema de monitoramento ao banco de dados das corporações para reconhecimento de indivíduos que estivessem em descumprimento das leis vigentes ou que tentassem cometer delitos na área do evento.
Segundo a empresa, foram contratados 280 seguranças, em média, por dia, durante todo o evento, com treinamento para uma conduta nas especificações técnicas para controle de multidões. Ainda segundo a nota, foi contratada uma empresa especializada em monitoramento de grandes eventos, com instalação de 32 câmeras por toda área de shows e bastidores, além de uma câmera Speed Dome, equipada com sensor de imagem de alta sensibilidade noturna, análise inteligente de vídeo e zoom com capacidade de aproximação da imagem em até 30 vezes, sem perda de qualidade, facilitando, por exemplo, a identificação de rostos.
A Excess Produções informou ainda que objetos perdidos no espaço do evento e entregues à organização do Cabofolia estão à disposição para retirada na sede da empresa, na Avenida Hilton Massa, 800, loja 1, Praia do Forte, Cabo Frio.
Sobre o episódio de sexo na roda-gigante, a Excess Produções disse que não imaginou que alguém pudesse usar o brinquedo para outros fins e lamentou o ocorrido.
– É importante lembrar que esses atos não são permitidos por lei, e que redobramos o monitoramento do brinquedo para evitar novas situações no último dia do evento, mas o controle do que é feito dentro de cada cabine vai além do que podemos fazer como organizadores do evento – informou.