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FALTA DE SEGURANÇA

ANP interdita mais uma plataforma por risco à vida de trabalhadores

Especialistas afirmam que nova suspensão vai causar impacto negativo no repasse dos royalties para Cabo Frio

20 agosto 2025 - 16h30Por Redação

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) determinou, esta semana, a interdição total do navio-plataforma FPSO Peregrino, operado na Bacia de Campos pela Equinor em parceria com a Prio. A decisão foi tomada após uma auditoria realizada entre os dias 11 a 15 de agosto. Na ocasião, técnicos da ANP afirmaram ter constatado “situações de risco grave e iminente” à vida de cerca de 470 pessoas (equipe própria e prestadores de serviço) que trabalham à bordo da plataforma. A interdição atinge a produção de cerca de 100.000 barris de petróleo por dia. 

O documento de fiscalização, ao qual a Folha teve acesso, foi assinado por Celso Fraga da Silva (técnico em regulação); Luis Manuel Garcia Reyes (auditor líder de segurança operacional no E&P); Elson Meneses Correia (coordenador-geral de segurança operacional no E&P); Mariana Miguens Itajahy (agente público S/CCT) e Claudio Marcelo Guedes da Silva (engenheiro de produção). O laudo aponta falha sistêmica da gestão de risco, com protocolos de segurança desatualizados há pelo menos 13 anos. Relata ainda o descumprimento de pelo menos sete recomendações da LOPA (metodologia internacional usada pela indústria de petróleo e gás para verificar se os sistemas de segurança são suficientes para prevenir acidentes graves).

Os técnicos também revelaram que diversas recomendações relacionadas ao acidente ocorrido com a plataforma P-19 (em março de 1997) não foram implementadas no navio-plataforma FPSO Peregrino. O documento revela que “o Operador não avaliou adequadamente o tempo necessário para escape da casa de bomba”, relata que foi apresentado o cálculo do tempo estimado para escape e evacuação da Casa de Bombas (59,21s), considerando o ponto mais distante da escada para subida ao Upper Deck, “entretanto, no dia 14/08/2025 foi realizada a descida ao local pela equipe ANP e o Chefe de Marinha, sendo cronometrado o tempo de subida em 110s”. E conclui: “apesar do tempo para escape requerido ser de aproximadamente 110seg, o sistema de combate a incêndio por CO2 está programado para disparo em 90seg, impossibilitando o escape das pessoas”. Também foram constatados problemas nos sistemas de detecção de fogo, de drenagem, de dilúvio, de comunicação, e também nos alarmes, entre outros.

Em comunicado, a Prio confirmou a interdição e informou que as principais áreas de melhoria apontadas pela ANP envolvem ajustes na documentação de gestão e análise de risco, além de adequações no sistema de dilúvio. A empresa destacou que a Equinor, operadora do ativo, iniciou imediatamente os ajustes necessários e estima que os trabalhos levarão de três a seis semanas para serem concluídos. A Prio acrescentou ainda que, tanto no papel de parceira quanto como futura operadora do campo, está atuando em conjunto com a Equinor e contribuindo com recursos para a rápida resolução das pendências. Apesar disso, especialistas afirmam que a partir de outubro a interdição vai começar a impactar de forma negativa o repasse dos royalties do petróleo para várias cidades, entre elas Cabo Frio.

Esta é a segunda vez que uma plataforma da Petrobras é interditada por riscos à segurança dos trabalhadores somente este ano. Em abril a ANP havia determinado a suspensão total da operação com hidrocarbonetos na plataforma P-53 após auditoria realizada entre os dias 8 e 17 de abril ter constatado “riscos graves e iminentes à vida de trabalhadores e ao meio ambiente”.

De acordo o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (SindipetroNF), o relatório técnico da ANP revelou diversos desvios críticos de segurança, muitos deles semelhantes aos já identificados em uma interdição anterior da mesma plataforma, ocorrida em fevereiro de 2024. Entre os principais problemas estavam a degradação severa de estruturas críticas, ausência de medições técnicas confiáveis, falhas na avaliação de danos e omissões no envio de relatórios técnicos fundamentais, como o Relatório estrutural por entidade especializada, que sequer foi encaminhado à agência.

Segundo o documento, vigas com grande degradação estrutural, inclusive aquelas que servem de suporte para tubulações de fluidos perigosos, foram ignoradas pela Petrobras nos relatórios apresentados. No laudo, a ANP alertou que “tais falhas comprometem diretamente a segurança em cenários de incêndio e explosões, colocando em risco uma população a bordo (POB) de 240 pessoas”.

Para o diretor do Departamento de Saúde do Sindipetro-NF, Alexandre Vieira, a interdição da plataforma, embora preocupante, é uma medida necessária diante da falha reiterada da gestão da Petrobras em seguir protocolos de segurança.

– A ANP fez o trabalho dela, que é garantir a segurança dos trabalhadores a bordo da unidade. A Petrobrás que não mostrou a competência que tem - afirmou Vieira, destacando que no caso da P-53 a própria Petrobras havia realizado uma auditoria interna, mas os resultados teriam sido pressionados a sofrer alterações.  “Houve pressões sobre as equipes auditoras, e até um outro relatório, diferente, foi enviado pela área corporativa da empresa. O Sindipetro denunciou essa auditoria. Tudo isso foi verificado pela ANP, que identificou a continuidade de problemas na gestão de segurança da unidade, disse Alexandre. A Petrobras não se pronunciou a respeito da denúncia do SindipetroNF.