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Agências de turismo de aventura de Arraial do Cabo criam associação

Morte de turista mobilizou categoria, e futura entidade pretende criar cadastro de profissionais habilitados no ramo

23 novembro 2018 - 10h42
Agências de turismo de aventura de Arraial do Cabo criam associação

TOMÁS BAGGIO

A morte da turista catarinense Fabiane Fernandes provocou uma mobilização das agências e profissionais que trabalham com turismo de aventura em Arraial do Cabo. Em nota divulgada pelas redes sociais, representantes das agências e profissionais autônomos anunciaram a criação da Associação de Guias, Condutores Ambientais e de Turismo de Aventura de Arraial do Cabo (Aguia).

A futura entidade pretende fazer um cadastro único dos profissionais habilitados a trabalharem no ramo em Arraial do Cabo. Eles também deverão atuar na tentativa de levar em diante a necessidade de fazer planos de manejo nas principais trilhas da cidade. Segundo a engenheira ambiental Daiana Cabral, que é ex-guarda parque e, atualmente, sócia de uma agência que trabalha com turismo de aventura, os trabalhos precisam começar por trilhas que vêm sofrendo grande impacto com o aumento no número de frequentadores, como, por exemplo, a trilha do Lago do Amor.

– O manejo das trilhas é essencial para que elas sejam adequadas ao turismo de aventura. As trilhas que temos em Arraial não foram criadas para esta finalidade, são antigos caminhos, em geral de pescadores, que passaram a ser usados para o turismo. E este segmento vem crescendo muito aqui, acredito que pela divulgação da cidade, e as redes sociais ajudam muito. Uma pessoa posta uma foto bonita em uma trilha, outra pessoa vê a foto e vem para Arraial buscando o mesmo lugar para fazer uma foto igual. Isso acontece muito. Então o manejo precisa começar pelos lugares mais movimentados, como a trilha do Lago do Amor, que é uma das mais procuradas no momento. A melhoria na sinalização das trilhas, por exemplo, é uma grande necessidade. E, claro, o principal, é que os turistas sempre façam as trilhas com um guia regulamentado – explica Daiana.

O secretário de Turismo de Arraial do Cabo, Paulo Ribeiro, também faz a lista das necessidades do setor, mas não diz o que a Prefeitura está fazendo para atendê-las. Ele minimizou o impacto do crescente movimento nas trilhas e se mostrou surpreso ao tomar conhecimento de que existem agências que trabalham com turismo de aventura na cidade.

– Não tem tanto turista assim que vem procurar trilha. Arraial até tem algumas trilhas, mas não são muitas. É preciso classificar essas trilhas, dar nomes, ter guardas monitorando, fazer cobrança pela entrada, essas coisas. Tem que fazer curso para guias cadastrados também, porque Arraial não tem guias cadastrados para fazer trilhas - afirmou, corrigindo-se, em seguida, ao ser informado pela reportagem sobre a criação da Associação dos Guias: “Se tem, isso é ótimo, mas eu não conheço”.

Perguntado se a Prefeitura não deveria comandar este processo de regularização das trilhas, ou se iria apenas permanecer aguardando que os interessados agissem por conta própria, o secretário disse que o governo municipal está “estudando” o assunto.

– Não é uma questão de ficar parado esperando, estamos estudando isso desde o início do governo. Mas não se faz da noite pro dia. Muitas trilhas ficam em propriedades particulares, então os proprietários dessas terras precisam procurar a Prefeitura para fazer a classificação das trilhas, isso nunca aconteceu. Além disso, há os investimentos que a Prefeitura precisa fazer e isso não é possível no momento – alegou.

Na nota divulgada, os fundadores da Associação de Guias, Condutores Ambientais e de Turismo de Aventura de Arraial do Cabo (Aguia) diz que “hoje, alguns moradores, turistas e prestadores de serviços descobriram o potencial da “Capital do Mergulho” para as atividades de ecoturismo, em especial as muitas trilhas existentes em nossas exuberantes e agora cobiçadas áreas naturais”. Diz ainda que “o ecoturismo, apesar de seu enorme potencial para promover a conservação da biodiversidade e a geração de divisas, pode ser altamente impactante e até mesmo letal quando mal gerido”. E fala particularmente sobre a trilha do Lago do Amor, uma das que vem sendo mais impactadas ultimamente pela grande presença de trilheiros.

– Uma dessas trilhas, a do Lago do Amor, bastante em alta por conta de alguns vídeos e fotos postados nas redes sociais, já vem sofrendo as consequências de uma visitação excessiva e desordenada e não são poucos os relatos de acidentes por lá, alguns deles com certa gravidade, haja vista que muitos que nela têm se aventurado – moradores, turistas ou “guias” – desconhecem que uma rápida mudança na dinâmica das marés e das ondas, tão comum por lá, pode tornar esse lindo atrativo natural um lugar de trágicas e amargas lembranças. A atividade de condução em trilhas exige qualificação e conhecimento técnico de gestão de riscos e segurança, além, claro, um amplo saber a respeito das particularidades locais, das características do terreno que se deseja desbravar ou desfrutar, algo que só possível à custa de treinamento, formação e muita prática de condução nessas áreas. Ser “local” ou nativo, embora seja um diferencial, não é suficiente em face da crescente profissionalização desse segmento – diz a nota.