RODRIGO BRANCO
Assim como o restante do Brasil, Cabo Frio começa a se refazer lentamente dos impactos da greve dos caminhoneiros. Ontem, os postos de gasolina já abasteciam normalmente sem as filas do dia anterior e o comércio varejista começa a receber hortifrutigranjeiros e carnes. Embora ainda não calculados, os prejuízos são tidos como inevitáveis para lideranças do setor econômico da cidade.
De acordo com o presidente da Associação Comercial e Industrial de Cabo Frio (Acia), Eduardo Rosa, a queda no movimento é estimada entre 50% e 60%, dependendo do segmento. No cenário nacional, o prejuízo foi de R$ 32,5 bilhões durante a greve, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). O empresário, que também é dono da Madeireira Ita, disse que o impacto do desaquecimento foi sentido de imediato, mas que a crise provocada pela paralisação dos caminhoneiros ainda terá novos reflexos.
– Muitos cancelaram as viagens, as mercadorias não chegaram. O comércio fica estagnado e tem que absorver esse prejuízo. Esperamos que o processo de reabastecimento traga de volta a normalidade. Mas a conta vai aparecer mais lá na frente. Deve haver aumento de impostos. Algumas empresas vão aguentar e outras vão falir – disse.
O coordenador municipal de Indústria e Comércio, Carlos Cunha, concorda sobre o efeito em cadeia que a paralisação teve sobre a economia da cidade. No entanto, ele observa que, apesar de a hotelaria ter registrado vários cancelamentos, há um movimento de última hora para confirmação de reservas para o feriadão de Corpus Christi. Além disso, muitos turistas estão remarcando a viagem para o período da Copa do Mundo ou pouco antes das férias de julho.
– O prejuízo é inestimável. Mas sobre o futuro, é prematura qualquer análise porque não sabemos se vai haver mesmo aumento de impostos. O presidente da Câmara Rodrigo Maia se colocou contra um aumento. Temos que aguardar. Que algum valor vai sair não se tem dúvida. Resta saber de onde – opina o coordenador.
A resposta mais previsível é que a conta feche às custas do bolso do consumidor. Pelo menos, segundo os indicativos trazidos pelo diretor do Mercado Tropical, Rodrigo Toledo. Segundo o executivo, as próximas cargas de cortes de frango e de verduras devem chegar com um aumento considerável em função dos dias parados na cadeia produtiva. Ele estima que hoje o mercado já esteja operando normalmente.
– Já recebi uma tabela do frigorífi co e o preço subiu bem, em torno de 15%. Legumes e verduras devem vir também com bastante aumento. O produtor perdeu, o caminhoneiro perdeu, e no fim das contas da reação em cadeia, o prejuízo vem para o consumidor – comentou ele, que estima uma queda de 15% nas vendas durante a crise de desabastecimento.
– Não tivemos muita perda, porque muitos clientes fizeram estoque – complementa.
Já a empresária Paula Ghetti, dona de dois postos de gasolina em São Pedro e de um para abastecer barcos em Cabo Frio, disse que não vai repassar aumento para seus clientes. Graças a escolta de segurança, e mesmo assim os veículos foram abordados por homens armados na estrada, caminhões chegaram para reabastecer seus estabelecimentos, mas sem qualquer redução no preço do diesel.
– É um prejuízo que não tem como retornar. Por mais que se venda. Não tem com normalizar. Tem aguardar como vai ficar. Mas eu apoio os caminhoneiros. Isso (preços altos) vem prejudicando a todos – declarou.