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Últimos ingressos para o espetáculo 'Refinaria' neste domingo (21) na Usin4 Casa das Artes

20 dezembro 2025 - 09h25Por Redação
Últimos ingressos para o espetáculo 'Refinaria' neste domingo (21) na Usin4 Casa das Artes

Estão disponíveis os últimos ingressos para a sessão de domingo (21) do espetáculo teatral Refinaria, protagonizado por Guilherme Guaral, na Usin4 Casa das Artes (Rua Geraldo de Abreu, 04, Cabo Frio). Reservas pelo WhatsApp: (22) 98151-5565 — Tatiana Cabral. As entradas para sábado (20) já estão esgotadas. 

Adaptação do livro de Rodrigo Cabral, finalista do Prêmio Jabuti 2025, Refinaria põe memórias hipersalinas em cena num espetáculo multiartístico. No palco, Guaral passeia entre a música do compositor Junior Carriço e as projeções de vídeo de Dougles Lopes. A direção é de Rodrigo Sena. 

A obra é uma travessia poética pela paisagem da Região dos Lagos e o que permanece quando o tempo altera, move e reorganiza os lugares. Salinas que viram bairro, ruas que mudam mas conservam uma figueira centenária, memórias de infância que resistem à urbanização, ao vento e à construção de uma nova cidade.

— Falei: ‘Rodrigo, vamos fazer uma adaptação teatral?’. Encontrei um monte de possibilidades teatrais e uma vontade de voltar a fazer teatro — conta Guilherme Guaral, que já participou de filmes e séries como Tropa de Elite (2007), Vidas Partidas (2015) e Sob Pressão (2017).

A ideia do espetáculo não é reunir os poemas e recitá-los. É criar uma narrativa nova, capaz de deslocar a poesia para o palco. Como amarrar essa história? “Esse talvez tenha sido o maior desafio”, diz o ator, que, junto com Rodrigo Sena, diretor da montagem, debruçou-se sobre como construir um personagem, um percurso e uma dramaturgia que harmonizassem com o livro, sem se prender a ele.

Depois de discussões, testes e tentativas, encontraram o fio condutor: um escritor que não volta à cidade há mais de vinte anos e que recebe um convite para uma homenagem. Ele quer voltar, mas não quer. Ama o lugar, mas teme reencontrá-lo. A viagem se torna um retorno aos próprios vestígios — infância, adolescência, juventude.

Dessa forma, é oferecido ao público uma verdadeira experiência sensorial e poética. “Eu resumiria Refinaria como um misto de afetos. É sensacional!”, conta a memorialista e escritora Meri Damaceno.  “É uma poesia que está entrelaçada com a paisagem da Região dos Lagos. A peça faz você viajar o tempo inteiro no vento sudoeste, no vento nordeste, na bruma do sal”, diz o arquiteto Ivo Barreto, especialista em patrimônio histórico.

Parte da força do livro está em espelhar como o local onde nascemos, crescemos ou vivemos é importante para nossa formação, ainda que inconscientemente. O espetáculo reverbera o sentimento coletivo de quem ao mesmo tempo reconhece na cidade um território de memória e de mudança.

Há mais de 20 anos atuando no teatro, Sena diz que o primeiro passo foi mergulhar nos poemas de Cabral. Delas foram surgindo o conceito, a estética, o ritmo e a estrutura da encenação. Segundo ele, o audiovisual ocupa papel essencial, mas não como ilustração.

— Não queríamos um vídeo demonstrativo. Queríamos uma construção que se conectasse com a cena, que fizesse uma simbiose.

O fotógrafo e videomaker Douglas Lopes passou a integrar o processo já nos ensaios, observando o ator, a direção, o ritmo e o espaço para criar projeções que captassem “sutilezas do patrimônio histórico e ambiental de Cabo Frio”, como descreve a própria sinopse. Antes, Douglas filmou o clipe de um poema do livro, “Moleques do peito solar”.

— Esse clipe viralizou no Instagram, passando de 100 mil visualizações, e, desde então, o Rodrigo alimentava a ideia de montar um espetáculo com projeções. Topei na hora porque amei o livro, cuja atmosfera é muito o que faço no meu trabalho de audiovisual.

Sena diz que o processo foi longo antes de chegar ao palco. Houve um tempo de maturação até que os ensaios começassem. Depois disso, tudo avançou rápido. No contexto atual, realizar uma obra teatral é também um ato de resistência, diz.

— Depois da pandemia, o teatro foi altamente afetado. Realizar um trabalho artístico é um desafio. Este espetáculo se junta a outros que têm tentado levantar a cena teatral em Cabo Frio — ressalta ele, que também é autor de títulos como “Laços Rubros” e “O Sopro”.

Professor, músico e compositor, Junior Carriço chegou à montagem para produzir a trilha sonora e conta que também se encantou pelo livro.

— O que faz com que toda essa música aconteça é a força poética da produção do Rodrigo — explica o autor de “Recovecos”, livro que reúne 56 letras de suas composições.

Depois de ler a obra, ele diz, todos os envolvidos sentiram o impacto emocional do texto.

Junior decidiu usar material de seu acervo pessoal —canções, ideias, rabiscos anteriores—, reorganizando tudo em função da dramaturgia.

— Usei coisas da minha da minha lavra, para diferentes momentos da peça, sempre a partir do violão.

Em um dos trechos, a música precisou renascer:           

— Talvez uma delas a gente tenha feito a melodia nova para casar com o verso.                                                                                                            

No palco, “Refinaria” vira mais reflexão e confronto, sem ignorar o movimento do próprio livro, que abre caminhos para um mosaico de referências, como a geologia do pré-sal, a cana-de-açúcar de Campos dos Goytacazes, as influências de escritores como José Lins do Rego, Olga Savary e Victorino Carriço, avô de Junior – aliás, uma canção de Victorino, “Voltei ao Baixo Grande”, está na trilha do espetáculo na voz do neto. Outro destaque é "Fluxo de consciência", parceria de Junior com o poeta Igor Ravasco.

Mas a peça não tenta abarcar todos esses temas ao pé da letra. A adaptação nasce das memórias do território e do processo de refinamento — literário, afetivo, geográfico— que acontece tanto no livro quanto na vida real. Porque, como escreve o autor, “todo poeta calango / ejeta-se do corpo / desencarna do verso / e regenera-se na vida”.