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'FLOW POR GRAFIA'

Taz Mureb lança livro de poesias e rimas 'pra causar'

Obra da escritora, compositora e rapper é publicada pela Sophia Editora

05 dezembro 2021 - 12h00Por Thiago Freitas

É como banho de mar. Uma vez em suas águas, somos tomados pelo frescor de vento e sol que faz arrepiar a pele salgada. Causam a mesma sensação os poemas e versos soltos que fluem nas mais de 200 páginas de ‘Flow por grafia’, livro que a escritora, compositora e rapper Taz Mureb acaba de lançar pela Sophia Editora.

Adormecidos desde sua adolescência (o primeiro original do livro, escrito aos 16 anos com título “Pensamentos obscuros da mente de Taz”, se perdeu num carro furtado), os versos de Mureb despertam, sob o olhar dos leitores, agora carregados da maturidade de uma feminista e ativista política e cultural que, aos 38 anos, desnuda sua alma de mulher, de mãe, de amante, de artista, de cidadã... De humana.

Umas das primeiras mulheres da região a marcar território nas trincheiras das batalhas de rap, embrenhando-se em periferias de diversas capitais do Brasil, entre elas Rio, São Paulo, Salvador e Recife, a escritora lança mão de sua veia literária, descoberta ainda na infância, como a sereia de seu canto para atrair a atenção de quem navega pelas reflexões que faz sobre o existir como mulher na sociedade atual, ainda estruturalmente patriarcal.

Menina caiçara contra a arte rebuscada – Taz Mureb é conhecida não só na cena musical, mas também no ativismo político e cultural. Da palavra dita ao microfone à escrita, difere-se apenas o tempo de maturação. Em vez de discurso ou rimas de improviso, o livro oferta versos, pensamentos soltos, devaneios, desabafos que, sem cerimônias e elaborados ao longo de suas vivências, convidam para seu íntimo fragmentado, num papo reto que externa toda sorte de sentimentos e ideias que afloram de sua personalidade, liricamente presente em cada palavra.

— O discurso no microfone é sempre muito potente. Externa não só a voz, mas a alma. Na literatura também fazemos isso, mas em um silêncio eternizado na escrita. É você e o leitor. Uma relação mais íntima, longe de plateias ou companheiros de manifestações. São formas diferentes de arte-protesto — reflete a autora, que é proibida pela Justiça de promover ocupações de órgãos públicos. — O livro é feito de poesias, letras de músicas, ideias, doideiras filosóficas e pensamentos, assim, simples e crus, como crianças brincando descalças numa praia qualquer do Brasil, como eu mesma, menina caiçara, cresci — acrescenta.

Cabo-friense de nascença e criação, Mureb exalta, em “Manifesto Cultural Salgadista”, a importância de artistas de sua região — como o pintor sergipano José de Dome, que escolheu a cidade pra viver —, além de dividir com o leitor ambiência do litoral fluminense na construção de sua arte.

“Este manifesto vem enaltecer os princípios básicos que pautam a base cultural não só da cidade de Cabo Frio, como também da Região dos Lagos e de todas as cidades que possuem as mesmas características: interiorana, praieira, influenciada por uma vivência solar, caiçara e litorânea. Este manifesto se forma através de uma frase muito significativa de José de Dome: “Todos os meus trabalhos que acham que não são concluídos, não precisam de mais porque é assim que eu quero mostrar a impressão que me tocou a mensagem que aquela figura me deu. Se eu ficar rebuscando, perdem”, escreveu.

Taz Mureb apaixonou-se pelas letras bem cedo, sob influência do pai, que a ensinou a ler em casa, aos 4 anos. Seu primeiro poema fora publicado aos 10, na coletânea do I Concurso Teixeira e Sousa, em Cabo Frio.

— Na real, toda minha família é envolvida com arte. Minha avó era pianista; meu avô, trompetista. Meu outro avô foi fundador de bloco de carnaval, o “Disfalça e Óia”. Comecei a fazer repente vendo meu pai e minha tia brincarem com as palavras. Acho é isso, a palavra sempre foi, desde a tenra infância, meu brinquedo preferido — relembra a autora.

A artista é ainda diretora geral do RapDiMina, criadora da Roda Cultural de Cabo Frio e idealizadora da Liga Feminina das MCs. Ao analisar o futuro do rap na cena musical brasileira, é taxativa: “O futuro pertence às mulheres. Porque elas têm bandeiras para levantar.” E acrescenta: “Lembro que lá atrás, falar da liberdade feminina era brigar para que a mulher pudesse dizer sim a seus desejos. Hoje penso que liberdade sexual, uma bandeira também, é a mulher poder dizer não e ser respeitada diante disso. Ainda temos muitas causas em muitos setores.”

Do “Manifesto Salgadista” a “Borboletas de Wall Street”, há muita Taz Mureb a ser revelada em poesia concreta, abstrata, realista. Sem migué, a mina, fêmea, forte e sensível escreve para as minas, fêmeas, fortes e sensíveis como ela. E também para os machos — os legais e os babacas. Escreve ora em sussurros, ora aos gritos, para existir e resistir.

“Quanto mais escrevo, mais eu me descubro. E quanto mais você me lê, mais você se descobre também”, finaliza.

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