Corria um dia ensolarado da década de 1950 quando, no mar de Cabo Frio, na Região dos Lagos, um pescador encontrou um pinguim entre uma onda e outra. Levou um susto. O animal também — e fugiu, com medo de ser capturado. No dia seguinte, voltou. E assim começou uma amizade improvável: entre redes e remos, os dois passaram a se encontrar no mar, nadando lado a lado.
A escritora Bárbara Secco ouve desde criança essa história, que é protagonizada por seu avô. Agora, ela está num livro infantil encantador: Vovô e o pinguim, editado pela Sophia Editora e ilustrado por Julia Miranda Louzada, será lançado durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), na Casa Gueto.
Uma narrativa delicada e bem-humorada conduz o leitor por cenas que vão de banhos de mangueira no quintal a uma ida à padaria. É possível ver o bicho se deliciar com uma forma de gelo enquanto o avô toma um sorvete, por exemplo.
São versos rimados, aliás, que ajudam o livro a misturar lembrança, invenção e poesia.
Foi durante um voo entre Rio e São Paulo que a história deixou de ser apenas uma ideia.
— Escrevi a primeira versão desse livro nos 40 minutos do voo. Depois fui refinando até apresentá-lo ao editor — conta Bárbara, que havia acabado de se tornar mãe.
A maternidade mudou o seu olhar.
— Mergulhei muito no universo da literatura infantil. Comecei a pensar nas histórias que eu queria ler com minha filha. E também em como contá-las.
Ao tratar da relação com o animal, a autora diz que não pensou em julgar o passado.
— A realidade dos anos 1950 em Cabo Frio e a de 2025 são muito diferentes. A maneira que encontrei de amarrar isso foi como alegoria: os dois saberem que é a hora dele voltar para casa, e que a casa dele é o oceano.
Julia Miranda também se inspirou nas próprias memórias da cidade para desenhar cenários a partir do que considera “as melhores lembranças da vida”. Formada em Ciências Biológicas, a ilustradora equilibrou o tom documental com liberdade criativa — a mochila nas costas de Nêgo foi um dos detalhes pensados por ela para lembrar que se trata de uma ave migratória.
— Para fazer o pinguim, usei fotos reais como base e estilizei para deixar mais fofinho. Já as cenas dele fazendo coisas triviais, como se fosse um animal doméstico, vieram direto do texto — conta Julia. — Também uso referências, mas muito é imaginação mesmo.
No posfácio, Bárbara escreve:
“Não conheci os meus tios-avôs, tampouco o Nêgo, mas a história perpassa gerações e sempre é recontada pelos tios e primos mais jovens. Se atualmente essa é uma atitude ecologicamente impensável, na época era a maneira que os irmãos tinham para ajudar, de alguma forma, o animal".
Na literatura, a história contada por Bárbara Secco tem o objetivo de transmitir, de forma lúdica, a importância do respeito e amor ao meio ambiente. Na vida real, é importante manter distância dos pinguins avistados na areia ou no mar – a recomendação é que o Projeto de Monitoramento de Praias (PMP) seja acionado pelo número 0800 991 4800.
SOBRE A AUTORA
Bárbara Secco é cabo-friense desde criancinha. Jornalista, publicitária, mestra em Comunicação pela PUC-Rio e pedagoga em formação, gosta de contar histórias reais e inventadas. Cultivou e fez nascer muitas flores nessa vida: a mais especial, sua filha, Rosa. E este é seu primeiro livro.