A repressão militar durante a ditadura no Brasil, frequentemente contada a partir dos grandes centros urbanos, ganha agora um recorte local com a estreia do documentário No caminho da repressão: um corte na trajetória política de Wilson Mendes, da professora e pesquisadora cabo-friense Júnia Rocha. O lançamento será no próximo dia 27, às 19h, no Palácio das Águias, no centro de Cabo Frio. A obra também estará disponível no YouTube, no canal @juniarochapesquisa.
Contemplado pelo Edital Lei Paulo Gustavo/Audiovisual de Vídeo para Celular, o documentário traz à tona os desdobramentos do Golpe Militar de 1964 na cidade de Cabo Frio, com foco nas ações diretas da repressão na vida pública de Wilson Mendes, que teve o mandato de deputado estadual cassado e os direitos políticos suspensos por dez anos durante o regime.
Pai do ex-prefeito Marquinho Mendes e formado em Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Wilson foi um dos fundadores do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em Cabo Frio, em 1945. Foi eleito vereador pela legenda em 1954 e reeleito quatro anos depois, quando Edílson Duarte assumiu a Prefeitura. Na Assembleia Legislativa, teve a atuação ligada às causas sindicais e às cobranças por melhorias estruturais para os municípios da Região dos Lagos, até sofrer com as arbitrariedades do regime de exceção, endurecido pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5), de dezembro de 1968.
A produção audiovisual é mais um desdobramento do trabalho de pesquisa desenvolvido por Júnia nos últimos anos. Em 2022, ela assinou a curadoria da exposição Wilson Tito Mendes, exibida no Charitas (Casa de Cultura José de Dome). A mostra reconstituiu toda a trajetória do político cabo-friense até o AI-5.
Dois anos depois, em 2024, a exposição foi levada para São Pedro da Aldeia, na Casa de Cultura Gabriel Joaquim dos Santos, ampliando o alcance da iniciativa. Através de fotos de acervo pessoal, quadros, textos narrativos, atas da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e da Câmara Municipal de Cabo Frio, além de documentos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) sob a guarda do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, Júnia reconstruiu momentos marcantes da trajetória de um dos políticos mais influentes do interior fluminense.
— Os acontecimentos que envolveram o golpe nunca estiveram restritos aos grandes centros, mas afetaram também as regiões mais distantes do país. Portanto, as abordagens locais são necessárias porque as inserem em um debate mais amplo sobre a nossa história recente — afirma a pesquisadora, que é professora aposentada de História e Literatura Brasileira.
Além de registrar a repressão vivida por Wilson Mendes, o documentário propõe uma reflexão mais ampla sobre os efeitos da ditadura em cidades do interior e o papel da memória histórica na democracia. O trabalho faz parte de um projeto maior de Júnia, que vem sendo desenvolvido em forma de pesquisa para publicação de um livro.