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Gessiane Nazario lança 'Aspino e o boi' neste sábado (8) na Feira Quilombola, em Cabo Frio

03 fevereiro 2025 - 10h34Por Redação
Gessiane Nazario lança 'Aspino e o boi' neste sábado (8) na Feira Quilombola, em Cabo Frio

A escritora, pesquisadora e professora quilombola Gessiane Nazario lançará seu livro "Aspino e o boi", publicado pela Sophia Editora, na Feira Quilombola do Horto Municipal de Cabo Frio (Av. Henrique Terra, s/n - Portinho), no dia 8 de fevereiro, sábado. 

(Entre no grupo da Sophia no WhatsApp e receba informações em primeira mão sobre a editora: https://chat.whatsapp.com/F1e32yZXBeyJfZUHa7hTJB)

O evento começa às 9h, reunindo produtores agroecológicos, expositores de artesanatos e orquídeas e gastronomia afrobrasileira e caiçara. Na ocasião, Gessiane dividirá com o público seu percurso de escrita e pesquisa sobre a memória quilombola. A Sophia também terá mesa com exposição e venda de de obras que ajudam a remontar a história da Região dos Lagos.

"Aspino e o boi" conta a história de Aspino, um lavrador quilombola que dedicava sua vida à caça e ao cuidado de suas plantações. Sua rotina pacífica, porém, é ameaçada com a chegada de um fazendeiro malvado que, na tentativa de intimidar as famílias quilombolas, envia um boi para destruir as terras e amedrontar a comunidade. O livro retrata a luta corajosa de Aspino contra essa opressão, abordando temas como expropriação de terras, resistência quilombola e ancestralidade.

O enredo é mais do que uma história infantil; é um registro das memórias dos descendentes de escravizados na Fazenda Campos Novos. Gessiane, neta de Aspino e bisneta de Bibiana, conta a saga de sua própria família, que inclui sua tataravó Madalena, uma mulher trazida de Angola para o Brasil em um navio negreiro. "Ao transformar essas histórias em livro, quero oferecer ao público infantojuvenil uma importante reflexão sobre identidade, territorialidade e resistência", conta a autora.

As ilustrações de Letícia Figueiredo complementam o texto com cenas vívidas, que capturam a intensidade da narrativa. A obra consegue unir o colorido das imagens à profundidade da história de Aspino, criando uma experiência visual e literária que conecta os jovens leitores com as lutas e tradições quilombolas.

Este é o segundo livro de Gessiane Nazario, que, também pela Sophia Editora, já havia lançado "Revolta do Cachimbo – a luta pela terra no Quilombo da Caveira",  resultado de sua tese de doutorado, na qual documentou a trajetória de resistência das famílias descendentes de escravizados na Fazenda Campos Novos e suas reivindicações por direitos territoriais.

Assim como em sua pesquisa acadêmica, Gessiane reafirma em "Aspino e o boi" o compromisso com as histórias de vida de seus ancestrais, há tanto tempo silenciadas. Gessiane pontua a necessidade de um “aquilombamento da literatura infantil”, de modo que, nas salas de aula, professores tenham ferramentas para trabalhar e aprofundar essas questões com os estudantes. 

No caso de Armação dos Búzios, Gessiane lembra que a história oficial deriva do mesmo projeto de turistificação que foi iniciado com a expropriação de terras de famílias quilombolas como a de Aspino. Como consequência, observa-se, de um lado, o silenciamento de trajetórias de luta da comunidade quilombola; de outro, o enaltecimento da visita da atriz francesa Brigitte Bardot, em 1964, quando Búzios ainda pertencia a Cabo Frio – a emancipação veio apenas em 1995. 

Gessiane Nazario e a importância de lembrar e registrar em sua obra

Gessiane Nazario é quilombola da Rasa, em Armação dos Búzios (RJ). Sua trajetória acadêmica e profissional é marcada pela defesa dos direitos quilombolas e pela promoção da educação emancipatória. Pós-doutora em História Comparada e doutora em Educação pela UFRJ, é mestre em Sociologia e graduada em Pedagogia pela UFF. Professora nas séries iniciais da rede municipal de Armação dos Búzios, Gessiane é também co-fundadora e integrante da coordenação do Coletivo de Educação da CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas).

Sua atuação acadêmica inclui a participação como pesquisadora-colaboradora no Projet Pré-Textos, vinculado ao Alari/Harvard. Além disso, coordenou a área científica “Quilombos, Territorialidades e Saberes Emancipatórios” da Associação Brasileira de Pesquisadoras/es Negros (2022-2024). 

As influências para a escrita de “Aspino e o boi” e a incursão na arte também têm relação com a importância da ancestralidade. “Meu avô, meu pai e minhas tias eram todos musicistas e que adoravam nos contar histórias.” Além deles, os contos infantis e africanos também foram referências essenciais para a construção da obra.

O registro em livro vem da necessidade de ter as histórias de seus avós transformadas numa linguagem para as crianças, ajudando a revelar parte da história não contada do Brasil.

Confira um trecho do livro:

“E assim eles viviam, plantando e colhendo. Tinham também momentos de lazer para descansar do trabalho. Mas mal sabiam que os fazendeiros tinham planos de enriquecer ainda mais com as terras da fazenda…”

Adquira “Aspino e o boi” no site da Sophia Editora: https://www.sophiaeditora.com.br/aspino-e-o-boi 

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