O artista visual Mulambö, com trajetória consolidada em museus e galerias no Brasil e no exterior, apresenta pela primeira vez uma exposição em Saquarema, cidade onde nasceu e mantém seu ateliê. A mostra “O Canto da Vila” será inaugurada no dia 20 de junho, no próprio espaço do artista, localizado na Praia da Vila, e ficará em cartaz até 20 de julho — coincidindo com o período do campeonato mundial de surfe (WSL), quando a cidade recebe seu maior fluxo de visitantes.
Com curadoria de Isabel Portella, a exposição apresenta um conjunto de mais de 30 obras inéditas criadas especialmente para a ocasião, que abordam de forma sensível e simbólica as referências que moldam a identidade de Saquarema. “Mulambö trabalha com uma visualidade gráfica, marcada por símbolos populares e uma forte presença do afeto. Sua obra parte da memória pessoal para construir um território coletivo, onde fé, mar, festa e identidade se cruzam. Ele não apenas retrata Saquarema — ele a recria com olhar poético, político e profundamente enraizado”, destaca Isabel.
A religiosidade ocupa papel central, com destaque para duas figuras que protegem e abençoam o imaginário da cidade: Iemanjá e Nossa Senhora de Nazaré. O mar também ganha protagonismo como personagem vivo — espaço de lazer, ofício e contemplação — que abriga pescadores, surfistas, crianças e salva-vidas. A mostra também celebra as paixões populares da região: o futebol, as festas religiosas, o carnaval e até os animais que habitam o litoral, como caranguejos e quero-queros. Por fim, uma bandeira criada pelo artista representa, em forma gráfica e afetiva, essa Saquarema reinventada — um símbolo do pertencimento e da memória coletiva, costurado à mão por sua avó.
“Essa exposição tem um significado muito forte pra mim. É uma forma de devolver pra minha cidade um trabalho que sempre falou sobre ela. Eu cresci aqui, minha família toda está aqui, e meu ateliê fica na casa onde minha avó nasceu. Poder mostrar esse universo afetivo e popular onde tudo começou é uma conquista”, afirma o artista.
Embora seja a primeira vez que expõe na cidade, Saquarema sempre esteve no centro de sua produção. É de lá que vêm os personagens, os rituais, as paisagens e os sentimentos que habitam sua pintura. “Faz parte do meu trabalho como artista ser um artista de Saquarema e me afirmar como tal. A minha obra nasce das histórias que escutei, das festas que vivi, da praia onde cresci. O mundo que construo com meu trabalho parte desse território”, afirma Mulambö, que já exibiu suas obras em instituições como MAR, MASP, Pinacoteca de São Paulo e Inhotim.
As pinturas que compõem O Canto da Vila — feitas com cores chapadas e estética gráfica, sobre madeira — traduzem cenas do cotidiano e das festas populares da cidade, além de figuras simbólicas que habitam sua memória afetiva. A disposição das obras no ateliê cria uma ambiência viva, em que o visitante é convidado a entrar nesse universo com acolhimento e informalidade. “Vai ter sofá, música, café… É como se eu estivesse recebendo todo mundo na minha casa”, resume.
Uma das peças mais emblemáticas da exposição é a bandeira de Saquarema criada pelo artista, inspirada na heráldica dos antigos brasões e costurada por sua avó. “É a costura da memória afetiva com a identidade visual. Um símbolo inventado a partir do que nos liga ao lugar”, completa a curadora.
Além de ser um marco na trajetória pessoal do artista, “O Canto da Vila” é também um gesto simbólico: um artista que retorna às origens para devolver em forma de arte as paisagens, cores e crenças que moldaram sua visão de mundo. A exposição foi selecionada pelo edital Fluxos Fluminenses, da Secretaria de Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, através da Lei Aldir Blanc, e terá uma segunda etapa, entre setembro e outubro, na Galeria do Lago, no Museu da República, no Rio de Janeiro.
SOBRE O ARTISTA: Nasceu João (1995) e cresceu Mulambö, na Praia da Vila em Saquarema, Rio de Janeiro. Em seu trabalho, utiliza de símbolos e materiais cotidianos em busca de uma refundação das narrativas que cercam as manifestações do povo. O futebol, o carnaval, a praia, a família e as histórias que construíram o chão onde a gente vive aparecem em sua produção através de pinturas, objetos, bandeiras e instalações que reforçam a ideia de que Mulambö faz arte para afirmar que não tem museu no mundo como a casa da nossa vó.
Participa de exposições relevantes como Quilombo: vida problema e aspirações do negro (2022) e Direito a Forma (2023) em Inhotim; Dos Brasis (2023) no Sesc Belenzinho; Histórias Brasileiras (2022) no MASP; Um defeito de cor (2022) e Casa Carioca (2020) no Museu de Arte do Rio; Enciclopédia Negra (2021) na Pinacoteca do Estado de São Paulo; Brasil Futuro (2023) no Museu Nacional da República; SWEAT (2021) na Haus der Kunst em Munique, Alemanha. Além de realizar exposições individuais como a Tudo Nosso (2019) no Museu de Arte do Rio; Prato de Pedreiro (2019) no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica; O penhor dessa Igualdade (2022) no CCSP; Out of Many, Muchos Más (2021) na Das Schaufenster em Seattle nos Estados Unidos e Punta de Lanza (2023) na Homesession em Barcelona na Espanha. Suas obras fazem parte de acervos como da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte do Rio, MAC Niterói e Inhotim.
SERVIÇO
O CANTO DA VILA – EXPOSIÇÃO DE MULAMBÖ
Ateliê do artista – Praia da Vila, Saquarema
De 20 de junho a 20 de julho de 2025
Horário:
Entrada gratuita