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Feira Literária

Em Araruama, Leandro Karnal fala à Folha dos Lagos sobre literatura, humanismo e cidadania

No terceiro dia de evento, palestra do pensador lotou a tenda e foi transmitida ao vivo via telão para um numeroso público externo

25 maio 2025 - 22h51Por Kauã Barreto
Em Araruama, Leandro Karnal fala à Folha dos Lagos sobre literatura, humanismo e cidadania

— Leitura é banho. Não é quando tem vontade, é diário. ‘Ah, mas eu não gosto!’ Vai feder.

A frase de Leandro Karnal foi uma das muitas que marcaram o terceiro dia da Feira Literária de Araruama, neste domingo (25). Diante de uma plateia numerosa e atenta na Praça Menino João Hélio, o historiador abordou o tema “Literatura e humanismo: a formação do cidadão pela palavra”, encerrando a sequência de palestras com nomes de projeção nacional.

A organização foi pontual e o público, diverso e atento, acompanhou a palestra com silêncio e participação. A tenda ficou lotada, o que fez com que muitos assistissem à apresentação do lado de fora, num telão instalado pela prefeitura.

Ao longo da fala, Karnal combinou conteúdo informativo e humor, provocando risos e reflexões.

— Estou aqui neste palco cheio de honra para mim, neste evento magnífico, porque um dia meu pai leu livros para mim. E ali eu desenvolvi um gosto que nunca parou.

Segundo ele, o hábito da leitura desde cedo forma vínculos afetivos e amplia a compreensão do outro:

— Um filho nunca esquecerá o que o pai disser de cor a ele de uma poesia.

— Quem lê e se condói da sorte de uma personagem tem empatia. Se torna um cidadão melhor, mais apto a uma relação com outras pessoas.

Para Karnal, o livro também deve desconcertar:

— O livro tem que também me surpreender, tem que me horrorizar, às vezes tem que ser de fato chocante. Eu só cresço diante da dificuldade.

A palestra também incluiu referências a autores brasileiros, experiências pessoais e grandes frases, como a que ele atribuiu a um professor angolano: “Que a morte lhe encontre vivo.”

Em entrevista à Folha antes da apresentação, Karnal comentou sobre desigualdades sociais em cidades como Araruama:

— Onde há contradições você precisa pensar mais. A desigualdade social, por exemplo, é uma construção histórica. Quanto mais difícil o lugar, mais a população tem que ler, pensar, escrever e se tornar crítica.

Também defendeu a presença de bibliotecas públicas ativas:

— Uma boa biblioteca pública tem que ser viva. Não é um depósito, mas é uma memória. E essa memória tem que interagir com as pessoas.

Ao ser perguntado sobre um livro essencial, respondeu:

— Algum grande livro de Machado de Assis. Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas, O Alienista. Também Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, e algo de Clarice Lispector, Carolina Maria de Jesus.

Mais tarde, às 18h, a feira recebeu o poeta e jornalista Ramon Nunes Mello, que falou sobre Cazuza e o livro Cazuza, Meu Lance é Poesia, encerrando a programação de palestras.

A feira segue e encerra nesta segunda (26), com programação inédita voltada ao público infantil.