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TRAGÉDIA DO CORONAVÍRUS

Retrospectiva 2020: um ano marcado por lágrimas

Combate à pandemia desanda e cenário sombrio contrasta com esperança por um 2021 melhor

31 dezembro 2020 - 16h18Por Tomás Baggio

Tal como 1968, lembrado como "o ano que não terminou", 2020 também deve demorar muito a acabar. Em vez da efervescência política que sacudiu o mundo na segunda metade do século XX, o motivo pelo qual 2020 seguirá pairando é o pior possível: uma pandemia viral, desconhecida e sem controle, que contamina e mata de maneira desenfreada, e que não vai acabar por causa da mudança no calendário. 

Em meio ao caos, a reação esperada seria confiar na ciência e prezar pelo instinto de sobrevivência. Mas até isso está faltando. Sem perspectiva clara de vacinação no Brasil, o receio é de que 2020 siga firme e forte em 2021, com a rotina avassaladora de mortes e fracasso econômico.

De tanto serem ditos, os números vão se normalizando, em uma espécie de anestesia geral com a tragédia. Mas a dimensão do que se passa pode ser melhor observada com o pensamento de que as 192.981 mortes causadas pela Covid-19 no Brasil, até o dia 30 de dezembro, representam, por exemplo, o equivalente a 83,7% da população de Cabo Frio, estimada em 230.378 habitantes em 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É como se, em menos de um ano, Cabo Frio voltasse a ter menos de 40 mil moradores, número de décadas atrás.

Na Região dos Lagos, o combate à pandemia desandou, na avaliação do médico Marcelo Paiva Paes, especialista em Saúde Pública.

"Nos três primeiros meses, ainda com o Estado organizando a política de distanciamento social, as coisas funcionaram razoavelmente bem. Os resultados iniciais, dentro das nossas grandes carências, foram satisfatórios. A mídia teve um peso especial, pois ela, de forma majoritária, contribuiu com campanhas de esclarecimento sobre a doença e a necessidade da política de distanciamento social. Depois, a confusão política do afastamento do governador ajudou a criar uma atmosfera de desorganização e as regras foram sendo descumpridas ou afrouxadas muito rapidamente.  Com a proximidade do período eleitoral, as prefeituras negligenciaram completamente os cuidados e a bagunça se instaurou. A partir daí os resultados têm sido catastróficos", avalia Marcelo.

Para ele, os maiores problemas para o declínio dos cuidados com a doença foram a incapacidade de promover a atenção hospitalar, a ausência de um protocolo de tratamento, a falta de controle e de fiscalização das atividades liberadas segundo os níveis de risco.

Ações propagadas pelas prefeituras da região, como as barreiras sanitárias e, no caso de Cabo Frio, o aluguel temporário de uma unidade particular de saúde, o Hospital Unilagos, que passou para a administração da Prefeitura para internações por Covid-19, também são criticadas pelo especialista. 

Para Marcelo Paes, teria havido "absoluta falta de transparência na contratação do hospital", além de ter sido "uma contratação por tempo insuficiente''. Sobre as barreiras sanitárias, opina que tiveram "fiscalização precária e pouco compromisso das autoridades".

"O maior responsável pelo nosso fracasso e pelas quase 200.000 mortes está na atitude do Governo Federal, que ainda hoje pretende desacreditar a doença e as necessidades de cuidados sanitários. A população absorveu muito da política de desacreditação do governo, E, fadigada com o período inicial de distanciamento social, passou a não respeitar mais as diretrizes sanitárias. Falta compromisso com uma política de distanciamento social, protocolos de tratamento mais claros e um plano de vacinação", diz ainda Marcelo Paes, definindo o sentimento dos profissionais de saúde como "de frustração e raiva por tantas vidas perdidas".

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Cabo Frio fez uma retrospectiva das ações de combate à pandemia nos últimos três meses. Segundo a administração municipal, a cidade realizou 2.483 exames RT- PCR e 1.891 testes rápidos. A tenda da Triagem, na UPA no Parque Burle, atendeu 9.540 pessoas em novembro. 

A nota cita ainda a "abertura de 10 leitos de unidades para pacientes graves (UPG) para adultos, e um leito de UPG Pediátrica para pacientes com suspeita de COVID-19  no Hospital Municipal Otime Cardoso dos Santos", além da "abertura de seis leitos de enfermagem em um setor de isolamento no Hospital Municipal Otime Cardoso dos Santos, com capacidade para mais seis leitos extras em caso de necessidade ou demanda". A Prefeitura enumerou também:

"Criação da Casa da Criança, ao lado do Hospital do Jardim, destinado ao atendimento pediátrico, evitando aglomeração desnecessária; administração do projeto Remédio em Casa que atendeu a moradores da terceira idade, evitando que moradores circulassem pelas ruas em plena pandemia; campanha de vacinação para pets, de casa em casa, evitando aglomeração; aquisição de três ambulâncias UTI para atender crianças, idosos e adultos; reforma do Hospital Municipal de Tamoios com a instalação de um setor de exames de imagem (pela primeira vez no distrito) e abertura de 10 leitos de UPG; vacinação volante contra a gripe em toda a cidade, superando a previsão inicial estabelecida pela Secretaria de Estado; instalação da tenda da triagem na UPA de Parque Burle; abertura do Hospital UNILAGOS, que funcionou como unidade de referência do atendimento à COVID-19 na cidade; destinação de todos os médicos para o enfrentamento à pandemia, suspendendo cirurgias eletivas, antecipando a decisão do governo Estadual; criação de um serviço de atendimento telefônico 0800, onde os moradores tiraram dúvidas sobre testes e contaminação da pandemia; ações de desinfecção em área pública como pontos de ônibus, rodoviária, prédios públicos; e testes em servidores da linha de frente do combate ao novo coronavirus (guardas civis municipais e servidores da Secretaria de Saúde)".

Já em São Pedro da Aldeia a Prefeitura lembrou que o primeiro caso do novo coronavírus na cidade foi registrado no dia 30 de março de 2020, e que "de lá para cá o município soma 1801 casos de Covid-19, com 76 óbitos e 1201 pacientes curados". Afirma ainda que "o município vem enfrentando a Covid-19 buscando o equilíbrio entre a saúde coletiva e os impactos financeiros na economia da cidade".

"Para atender a população, sem colocar em risco os servidores, foram distribuídos equipamentos de proteção individual para profissionais da saúde e redobradas as medidas preventivas nas repartições públicas, como distanciamento social, uso de máscara facial e disponibilização de álcool em gel. Com verbas estadual e municipal, a Prefeitura instalou um Centro de Triagem da Covid-19 para identificar, medicar e testar, quadros similares ou confirmados da doença. Para o suporte de casos mais agravados, uma unidade intermediária foi criada apenas para atender pacientes da Covid-19, equipada com leitos, respiradores, cardioversores, respirador móvel para casos de transferência e equipe exclusiva".

Ainda segundo a Prefeitura de São Pedro, "para auxiliar nas estratégias de vigilância epidemiológica, foram implementadas várias ferramentas que mostram diariamente a evolução da doença, divulgando para a população as localidades mais infectadas". Disse também que "todas as ações, legislações e licitações também podem ser conferidas no Portal da Transparência da Prefeitura, que ganhou um site específico sobre o coronavírus".

Já Arraial do Cabo foi a primeira cidade da Região dos Lagos a fechar para o turismo por conta da pandemia. A Prefeitura afirma que "o Município distribuiu 150 toneladas de alimentos para as famílias afetadas economicamente", e que "alunos da rede municipal receberam 17 mil kits de segurança alimentar".

"O município ampliou a triagem da Covid-19 instalando uma tenda na entrada do Hospital Geral de Arraial do Cabo, em junho. O município cabista continua com o menor número de casos da Região dos Lagos", disse a Prefeitura de Arraial do Cabo.

A Prefeitura de Búzios também foi procurada pela reportagem mas não enviou resposta.