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Escassez de doses já afeta vacinação contra Covid em municípios da região

Em Búzios, estoque termina esta semana; e Arraial suspendeu aplicação da CoronaVac 

30 abril 2021 - 10h24Por Rodrigo Branco

Na corrida global pelas vacinas contra a Covid-19, o Brasil largou atrasado. O desdém inicial pelos imunizantes por parte do Governo Federal, ainda no ano passado, tem consequências no presente. Acordos fechados com atraso impactam na chegada a conta-gotas dos imunizantes em todo o país, o que naturalmente inclui o estado do Rio e seus municípios. Na Região dos Lagos, pelo menos dois municípios estão com a aplicação das doses prejudicadas pela escassez ou falta de vacinas.

Em Armação dos Búzios, por exemplo, o estoque de vacinas é suficiente apenas até o fim desta semana, segundo a Prefeitura. No momento, o município utiliza as últimas mil doses para vacinar idosos entre 60 e 63 anos. Entre primeira e segunda doses, já foram aplicadas 6.906 vacinas em profissionais da Saúde, idosos e quilombolas. Sem a chegada de uma nova remessa, a vacinação na península terá que ser paralisada. 

Como já ocorreu em Arraial do Cabo, especificamente com a CoronaVac, imunizante da farmacêutica chinesa SinoVac que é produzido no país pelo Instituto Butantan, de São Paulo. De acordo com a assessoria de Comunicação do governo cabista, a vacinação da CoronaVac está suspensa “devido à insuficiência de doses enviadas pela Secretaria Estadual de Saúde”. O município informou, ainda, que aguarda orientações do Estado sobre providências a serem adotadas, a fim de normalizar a vacinação da CoronaVac o mais breve possível”.

Sem a vacina do Butantan, a vacinação segue apenas com doses do imunizante Oxford/ AstraZeneca, que é produzido nacionalmente pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A Prefeitura informou que segue o calendário estadual de vacinação. No momento, os idosos de 62 anos é quem recebem a vacina de Oxford. 
Na terça-feira (27) foram imunizadas mulheres, e na quarta-feira (28), os homens.

Na quinta-feira (29), os profissionais da Saúde começaram a receber a segunda dose da AstraZeneca. 
De acordo com dados oficiais, apenas 1.469 cabistas receberam as duas doses e, portanto, estão devidamente imunizados. Já a primeira dose foi aplicada em 5.562 pessoas ou 18,18% da população de 30.593 habitantes. Pelas projeções feitas pela Secretaria de Saúde, a perspectiva é que todos os moradores estejam imunizados apenas um ano e meio depois do começo da vacinação, em 2022, mas a previsão pode ser revista com ao atual cenário de morosidade.

Cabo Frio e São Pedro alegam normalidade – Nos municípios vizinhos, a ansiedade por receber a sonhada picada da agulha no braço não é menor. Pelo contrário, tem causado até filas e aglomerações, como as registradas em Cabo Frio nos últimos dias, depois que a Prefeitura mudou o sistema de vacinação, que agora ocorre nos postos de Saúde, mas também segue mantido em regime de ‘drive thru’ em dois polos do município.

Apesar do problema, o discurso oficial da Prefeitura é de que não há falta de vacinas. Em nota enviada para a reportagem, o município informou que possui doses suficientes, até o momento, para atender o público que está no período para segunda aplicação do imunizante. As doses são apenas para moradores de Cabo Frio.

A Prefeitura disse ainda que aguarda o envio de novas doses pelo Estado e que a orientação é que as pessoas compareçam para se vacinar com tranquilidade. As unidades funcionam de terça a sexta-feira, de 9h às 16h.
As doses são recebidas com o informe técnico enviado pela Secretaria Estadual de Saúde, que descreve se é para primeira ou segunda aplicação. O município finalizou dizendo que “segue com rigor” os critérios do Plano Nacional de Imunização e todas as determinações do Ministério da Saúde. 

Do mesmo modo, a Secretaria de Saúde de São Pedro da Aldeia informou que há estoques de vacinas contra a Covid-19 na cidade. A vacinação ocorre tanto na aplicação da primeira dose quanto para a segunda, de acordo com o cronograma previamente analisado e definido diante de notas técnicas do Governo do Estado.

Atualmente, o município imuniza idosos de 62 anos ou mais e trabalhadores da saúde atuantes e que residam da cidade, além do público que está dentro do prazo para recebimento da segunda dose. A vacinação aos grupos prioritários estabelecidos pelo Ministério da Saúde acontecerá de acordo com o envio de novas vacinas pelo estado.

Em Cabo Frio, já foram aplicadas 26.921 doses, como a primeira; e 9.558, como a segunda. Já em São Pedro da Aldeia, 14.814 pessoas receberam a primeira dose e 9.647 as duas. 

O infectologista Charbell Miguel Haddad Kury diz que cada esfera da administração pública tem suas responsabilidades, mas lembra é o Ministério da Saúde é que define a política de vacinação, ao comprar as vacinas, definir os grupos prioritários, fazer o modelo e as fases de aplicação e distribuir as doses para os estados.

Segundo o especialista, a falta de vacinas ocorre pela opção que alguns municípios fizeram de usar todo o estoque disponível como primeira dose, sem a garantia de receber a segunda em tempo hábil para aplicação, entre 14 e 28 dias. A recomendação foi feita em março pelo então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Apesar do eventual atraso na aplicação da segunda dose, o doutor e mestre em microbiologia e professor da Faculdade de Medicina de Campos dos Goytacazes recomenda a aplicação ainda que passe o período de 28 dias. 

– A partir desse mês, estamos visualizando a falta de vacinas da segunda dose porque o Ministério da Saúde está tendo uma dificuldade do abastecimento, fruto da dificuldade do encaminhamento do insumo farmacêutico ativo (IFA), que vem da China para o CoronaVac. A principal dificuldade é o CoronaVac. Isso fez que 50% dos municípios da Brasil que anteciparam a segunda dose como primeira tivesse o problema. Agora a gente aguarda a chegada de segundas doses para terminar a aplicação. Caso alguém tenha perdido o prazo de 28 dias, não se preocupe. Basta chegar a vacina e tomá-la independente do prazo. Vacina não é contada por prazo, é contada por vacina computada. Ou seja, se teve a primeira dose feita, computa a primeira dose. Se a segunda dose passou o prazo de 28 dias, não perde eficácia – explica o médico.

Estado e União se manifestam – Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES), por meio da Subsecretaria de Vigilância em Saúde (SVS), informa que aguarda informações do Ministério da Saúde quanto à distribuição de uma nova remessa de segunda dose de CoronaVac, assim como orientação quanto à possibilidades da ampliação do intervalo de aplicação entre a primeira e a segunda dose do imunizante.

Alguns municípios já comunicaram extraoficialmente à secretaria que não têm mais doses de vacina para aplicação e terão que suspender a vacinação. A Subsecretaria de Vigilância em Saúde ressalta que, caso ocorra essa suspensão, será temporária até que nova remessa de imunizantes seja enviada pelo MS para o estado.

A pasta disse ainda que, desde o início da campanha de vacinação, envia rotineiramente ofícios aos municípios, orientando que sejam seguidos os grupos prioritários elencados pelo Plano Nacional de Imunização, tendo em vista a irregularidade no fornecimento de vacinas pelos laboratórios produtores, o que tem gerado o fornecimento de doses em volumes menores. 

Até o último domingo (25), o estado distribuiu 5.848.680 doses de vacina contra Covid-19, sendo 3.691.400 para primeira aplicação e 2.157.280 para a segunda.

Por sua vez, a Ministério da Saúde informou que a orientação é que Estados e municípios sigam à risca o Plano Nacional de Operacionalização da vacinação contra a Covid-19. De acordo com o ministério,     os informes técnicos são definidos semanalmente com representantes da União, estados e municípios, a partir do número de doses da vacina contra a Covid-19 entregues pelos laboratórios”. 

O Ministério da Saúde finalizou a nota recomendando que aqueles que não tomaram a segunda dose dentro do prazo estabelecido, completem o ciclo vacinal com os imunizantes do mesmo laboratório, assim que disponível.