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Coluna

Voo de galinha

13 dezembro 2022 - 15h48

Segundo o Guinness Book, em 2014 uma galinha voou durante 13 segundos alcançando a marca de 91,8 metros, batendo o recorde mundial. Apesar de portar asas como um pássaro, as galinhas não alçam voo, por questões de estrutura física. Elas não possuem músculo peitoral desenvolvido com mioglobina e têm grande peso corporal. Observando o comportamento dessa ave, foi criado um jargão, aplicado à teoria econômica, denominado “voo de galinha”, que ocorre quando uma economia inicia um processo de recuperação e crescimento e não dá prosseguimento, por falta de condições estruturais, recursos financeiros e principalmente planejamento. Como consequência, volta a estagnar ou a recuar para patamar mais baixo.

Ao analisarmos o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro nos últimos anos, podemos perceber essa ocorrência. Períodos de índices de crescimento elevado, que inflam a economia de resultados positivos, são seguidos por outros de desempenhos pífios que provocam desânimos. Como o PIB mede a soma de todos os bens e serviços finais produzidos no país em um determinado período de tempo, podemos perceber quanto inconstante é a economia nacional. Diz-se que o empresário brasileiro é o mais versátil do mundo por conseguir conviver em meio a tantas variações das leis e dos indicadores econômicos.

Na administração pública encontramos várias situações que lembram a performance do voo de uma galinha, curta e desajeitada, como as ideias avançadas e inovadoras, que, por não se materializarem, logo caem no descrédito e mediocridade. Projetos que começaram com festiva apresentação de lançamento, criando expectativas e esperança, logo foram para o esquecimento. Tivemos na nossa região várias situações que lembram o “voo de galinha”. Convênios de irmandade entre cidades chinesa, italiana, entre outras, que foram apresentados como atração de investimentos, noticiados com destaque na imprensa, objeto de entrevistas e outras propagandas, simplesmente não avançaram, e hoje ninguém mais lembra. Houve um político que certa vez, em grande e festiva solenidade, fez a entrega simbólica de um cheque de R$ 100 milhões para ser investido em um distrito da cidade. Nunca foi concretizado.

No âmbito federal vemos centenas de obras, com vultosos investimentos iniciais, que logo foram abandonadas. Projetos elaborados com finalidade eleitoreira, populista ou simplesmente para enganar têm sido uma marca, ou mancha, na política brasileira. A duplicação do trecho rodoviário entre as cidades de Magé e Itaboraí (Manilha) é um pequeno exemplo.

Interessante é que a Bíblia registra um ensinamento bem próprio para essas situações, como pode ser lido no evangelho de Lucas, capítulo 14, versos 28 a 30: “Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la?” “Pois, se lançar o alicerce e não for capaz de terminá-la, rirão dele dizendo: Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar”. Muito claro o texto, e com aplicação em todos os setores de atividades, o que nos conduz a uma frase de John L. Beckley que disse: “A maioria das pessoas não planeja fracassar, fracassa por não planejar”.

A galinha quando inicia um voo, normalmente quando provocada, faz com toda pompa, ergue-se com altivez, alardeando em alto cacarejar para ser percebida, mas logo começa a desengonçar, atrapalhar-se e despenca para o solo. E, talvez por vergonha, sai em disparada. Entretanto o espetáculo já foi dado, o objetivo alcançado.

Há uma citação popular que fala de “fogo de palha”, referindo-se ao fogo que começa com grande intensidade e logo apaga. Só impressiona, sem se expandir. Outra observação bem disseminada é a da “melhora da morte”. Fala que quando um doente, em estado muito grave, tem uma melhora repentina, no momento seguinte vem a falecer. Essas correlações, de certa forma, explicam o porquê de tanta expectativa gerada para aquilo que é prometido e não vem a prosperar.

Entretanto, temos que reconhecer, na área das relações humanas, que quem muito promete tem mais popularidade; mais vale a causa do que o efeito. Fernando Pessoa (1888 – 1935), poeta e filósofo português, tem uma frase lapidar para esse tema: “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.