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Coluna

Síndrome de Estocolmo

07 julho 2023 - 08h30

Há um fenômeno estudado pela psicanálise e utilizado pela primeira vez pelo criminalista e psiquiatra sueco Nils Bejerot (1921 – 1988) após examinar os reféns de um famoso assalto acontecido em um banco, que concluiu pela existência de um posicionamento afetivo das vítimas em relação a seus sequestradores. O caso aconteceu no dia 23 de agosto de 1973, quando Jan Erik Olsson invadiu o banco Sveriges Kreditbank, em Estocolmo. O assalto acabou seis dias depois, com a libertação dos quatro reféns mantidos subjugados pelo assaltante, após exaustiva negociação com os policiais. Em lugar de alimentar raiva e indignação em relação ao seu sequestrador, os reféns adotaram uma postura de simpatia, chegando até mesmo a deporem a seu favor no julgamento que se sucedeu. Este fenômeno ficou conhecido como “Síndrome de Estocolmo”, passando a denominar todos os episódios em que a vítima de uma agressão, sequestro ou abuso, desenvolve uma ligação sentimental e até mesmo empatia com seu algoz.

Outro caso famoso aconteceu nos Estados Unidos, em 4 de fevereiro de 1974, quando Patty Hearst, filha de um milionário de Nova York, da área de comunicação jornalística, foi sequestrada por militantes do Exército Simbionês de Libertação (SLA). O sequestro atendia interesses imediatos do grupo ativista em conseguir a libertação de dois dos seus integrantes, que estavam presos pela polícia norte-americana. Tendo sido o pedido negado, exigiram dois milhões de dólares da família de Patty para serem doados a famílias pobres da Califórnia. Mas a partir daí o sequestro perdeu o sentido, pois Patty debandou para o lado deles, chegando mesmo a ser presa e condenada pela Justiça.

A Síndrome de Estocolmo pode ser observada em inúmeras situações no ambiente social da atualidade, como em contenda entre casais. Há um ditado popular que diz: “Em briga de marido e mulher não se mete a colher”. Apesar de estar caindo em desuso, face às leis protetivas da mulher, não deixa de ser um fato relevante. Em diversos casos, durante uma briga de casal, pessoas interferiram e foram violentamente afastadas pelos brigantes, que logo se reconciliaram. Na área política encontramos muitas situações semelhantes, quando políticos opressores e corruptos, gozam de ampla e idolatrada simpatia dos seus eleitores. Execrados pela mídia, certos políticos mantêm seguidores fieis que ignoram os feitos a eles imputados.    

Um caso acontecido em nossa cidade na década de 70 bem ilustra a ocorrência dessa síndrome. Um corretor de imóveis que havia cometido atos ilícitos foi processado por um advogado, o que culminou com uma condenação penal, passando algum tempo preso. Quando solto, contratou o mesmo advogado para cuidar de outras causas de seu interesse, alimentando estima e admiração por ele.

Contrapondo-se à Síndrome de Estocolmo, existe a Síndrome de Londres, que relata situação inversa, isto é, a vítima da agressão, sequestro ou abuso, desenvolve uma aversão aos autores. O estudo desse comportamento teve origem em um episódio acontecido no período de 30 de abril a 5 de maio de 1980, quando a embaixada iraniana em Londres foi invadida por seis terroristas. Os invasores fizeram vinte reféns, onde alguns apresentaram atitudes hostis ante seus algozes. Um deles, Abbas Lavasani, impulsionado por mecanismos psicológicos, começou a reclamar e confrontar seus algozes, o que culminou com sua execução.

Sintetizo com uma frase de John Kennedy (1917 – 1963), ex-presidente norte-americano: “O conformismo é carcereiro da liberdade e inimigo do crescimento”.