Quem já não passou por uma situação de dificuldade ao ter que tomar uma decisão? “Ser ou não ser, eis a questão”, assim dizia William Shakespeare através do seu personagem Hamlet na peça de mesmo nome, sintetizando a dúvida e a indecisão. Há uma parábola filosófica, atribuída a Jean Buridan (1301 – 1358), filósofo francês, que ilustra um paradoxo a respeito da indecisão ao ter que tomar uma decisão. É a seguinte: “Um burro é colocado em uma posição entre um monte de feno e um balde d’água, a uma média distância um do outro. Ele, faminto e com sede, olha para um lado, olha para outro, e fica indeciso para onde deve ir. O tempo passa, permanece a indecisão para qual lado seguir, e acaba morrendo por fome e sede”. Esta história é utilizada para ilustrar que, quando estamos diante de duas ou mais opções atraentes, a indecisão pode nos levar à paralisia e a um resultado indesejado.
Este paradoxo nos leva ao termo “procrastinação”, muito utilizado na atualidade em face da dificuldade que as pessoas têm em tomar uma decisão e agir, pois envolve a intencionalidade de adiar tarefas, mesmo sabendo da sua necessidade e das possíveis consequências negativas.
Pode ser causada por diversos fatores, como medo do fracasso, falta de motivação, acúmulo de tarefas ou até mesmo falta de organização. O fenômeno é universal e atinge grande parte da população, tornando-se um grave problema quando manifestado de forma constante. Abraham Lincoln (1809 – 1865), 16º presidente norte-americano, disse certa vez: “Não se pode escapar da responsabilidade de amanhã, evitando-a hoje”.
A falta de decisão, mesmo diante de duas boas opções, pode levar ao fracasso. No meio empresarial é comum observarmos organizações caminhando para a falência, por ausência de ações imediatas, que ficam sendo proteladas até não dar mais tempo. Um ditado popular diz: “Vão-se os anéis, e ficam os dedos”. No tempo das grandes navegações, que se estende do século XV ao XVI, era comum um navio enfrentar grandes tempestades e, em meio à tormenta, o comandante tinha que tomar a decisão de jogar toda carga ao mar ou assistir ao navio afundar. Não era uma decisão fácil, mas a demora tornava-se fatal.
No meio político, gestores temem e se omitem em tomar medidas pouco simpáticas, necessárias à preservação do meio ambiente, ao desenvolvimento e muitas vezes até à vida dos cidadãos. Certa vez, como aluno de um curso de pós-graduação, participando de uma pesquisa sobre a origem das favelas, o resultado mostrou que tudo começava com uma invasão, construção da primeira casa, da segunda e, em pouco tempo, uma infinidade. Tudo por inércia do poder público, que a tudo presenciava sem agir para remanejar as famílias para um local seguro e uma moradia decente. E assim, passou a existir o problema que conhecemos tão bem nos dias atuais. Uma frase atribuída a Herbert von Karajan (1908 – 1989), maestro austríaco, diz: “Quem decide pode errar, quem não decide já errou”.
Uma expressão muito comum que às vezes utilizamos é: “o não eu já tenho”. Os que assim pensam estão muito mais propensos ao êxito do que os que se atemorizam e não se arriscam. Um dia ouvi uma frase que me marcou para o resto da vida, dizia: “a coragem não é a ausência do medo, mas sim a persistência apesar do medo”.
Encerro com uma estrofe da música “Pra não dizer que não falei de flores”, autoria de Geraldo Vandré: “Vem, vamos embora/Que esperar não é saber/Quem sabe faz a hora/Não espera acontecer”.
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