A ruminação mental é a causa de muitas dores e aflições para todo aquele que se vê preso numa espiral de pensamentos sem fim. Pensamentos esses que nos tomam de assalto, que chegam sem pedir licença, que chutam a porta da mente, instalam-se e multiplicam-se sem fim, deixando um verdadeiro cenário de terra arrasada em nosso interior. É notável que nenhum carrasco é tão eficiente quanto uma mente ruminante, da mesma forma que nenhum torturador é tão cruel quanto uma avalanche de pensamentos desgovernados e sem fim.
O ansioso é freqüentemente assombrado pelo passado. Passado este que não lhe pertence mais, pois, como diz Sêneca, o passado é de domínio da morte. Nenhum mero mortal ressuscita outros meros mortais, mas a cabeça ruminante retira do túmulo a sua vida pregressa podre e desagradável como quem ergue um defunto da cova. A partir disso, o ansioso está se deslocando do presente e colocando-se em contato com algo cadavérico cujo espectro revive em suas memórias, ao invés de estar no lugar que lhe cabe: o túmulo.
O ansioso também é freqüentemente aterrorizado pelo futuro. Futuro este incerto, cheio de dúvidas, repleto de incertezas e tomado de múltiplos caminhos para a sua realização. O que será do amanhã nenhum de nós sabe, e isso deveria ser motivo o suficiente para termos um nível de preocupação muito menor do que costumamos ter, redirecionando essa energia para bem lidar com aquilo que está sob nosso controle.
Nota-se, portanto, que aquele que padece na ansiedade está deslocado do próprio espaço-tempo em que está inserido, uma vez que sua cabeça vive preocupada com o futuro e amargurada com o passado. Em sua mente há uma sessão de tortura interminável, uma masmorra angustiante e tenebrosa onde pensamentos presidiários batem com suas canequinhas nas grades da prisão 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Cada coisa deve estar em seu devido lugar. O passado já não existe mais, e o que se lembra dele é um recorte enviesado que, muitas vezes, trata-se de um retrato impreciso e com falhas; o futuro, por sua vez, sequer aconteceu. Resta-nos o quê? O presente, o aqui e o agora, o exato instante atual em que respiro e me encontro vivo. Mas parece-nos que não é o caso, que isso não é verdade. Bombardeados de estímulos constantemente, presos numa rotina automatizada e apagando incêndios todos os dias, esquecemo-nos da grandiosidade da vida, do pulsar do sangue em nossas veias, do mistério da Criação e da vastidão de cada ser humano.
É necessário voltar os olhos ao que importa, ao valor do segundo e notar o peso da respiração. É preciso pôr os pés na grama ou na areia da praia e esquecer o frio e a luz artificial do escritório. Há uma infinidade de vida ao redor.
Reatar-se consigo mesmo é uma grande rebeldia neste mundo contemporâneo.

