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Coluna

Não existe almoço grátis

23 junho 2023 - 06h53

Sacrifício é uma palavra que sempre utilizei para denominar os gastos necessários na obtenção de um produto ou serviço e que, tecnicamente, é chamado de custos. É impossível conseguir alguma coisa sem que se sacrifique algo em troca, seja dinheiro, matéria-prima, tecnologia ou simplesmente um favor. “Não existe almoço grátis” é uma frase citada em 1975 por Milton Friedman (1912 – 2006), economista e escritor norte-americano, em um dos seus livros. Expressa exatamente uma ideia de que tudo que nos é oferecido terá sempre um preço a ser pago por alguém.

A estratégia de camuflar a entrega de alguma coisa sem cobrança de um preço surgiu no Velho Oeste americano (séculos XVIII e XIX), conforme relato do escritor britânico Rudyard Kipling (1865 – 1936). Ele conta que nos saloons (bares) eram servidas refeições grátis aos clientes que consumissem bebidas. O detalhe é que esses alimentos eram carregados no sal, o que provocava sede e a vontade de consumir mais bebidas, principalmente cervejas, cujos preços arrecadados eram mais do que suficientes para cobrir o custo dos alimentos cedidos “gratuitamente”.

Na atualidade é muito frequente nos depararmos com campanhas promocionais de empresas oferecendo aos seus clientes brindes, degustações, descontos e outros mimos. Engana-se quem pensa em gratuidade; alguém está pagando por isso e posso garantir que não é a empresa. Em todas as planilhas elaboradas pelos empresários sempre estão previstos os gastos com doações, promoções, até mesmo perdas por roubos ou obsolescência.

O equívoco de se pensar na existência de benefício sem custo é muito evidente na área pública. Programas desenvolvidos pelos três níveis de governo, principalmente os municipais, sob o manto da bondade, benevolência, assistencialismo, entre outros adjetivos, encobrem custos pagos pelos próprios cidadãos. Há um pensamento dominante de que os recursos públicos são ilimitados e todos podem tudo. Mas os que assim procedem esquecem de que há sempre um valor a ser pago com os tributos arrecadados do próprio povo. A área legislativa é pródiga em propor projetos, muitas vezes de cunho político, com o propósito de oferecer beneficies aos eleitores. Muito embora a legislação imponha um freio, pois é necessário indicar a fonte de custeio, nem sempre isso funciona, pois sempre se arranja um jeitinho.

Há um ditado popular que diz: “Ninguém dá nada a ninguém”. Traduzindo, quer dizer que quando alguém dá alguma coisa é porque existe algum interesse por trás, vai querer algum favor. É muito comum, principalmente quando estamos em cargo de hierarquia com poder relevante, recebermos presentes, bajulações e outras manifestações, sempre com segundas intenções. Por trás há sempre um preço a ser pago. Ao deixar o cargo, os presentes somem, as bajulações desaparecem, e a realidade retorna. É o que se chama normalmente de “vazio do poder”.

A natureza nos ensina que tudo tem um custo. Para uma planta germinar é necessário que primeiro a semente morra; na selva, para um animal sobreviver, é necessário que outros lhe sirvam de alimento; para a alimentação do ser humano, animais são sacrificados. Lavoisier (1743 – 1794), químico francês, provou que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Há um ditado russo que diz: “O único lugar que se encontra queijo de graça é em uma ratoeira”.

Paullina Simons, escritora americana, nos rege na indagação ao citar: “Tudo tem um preço. Tudo em sua vida. A pergunta que você deve fazer é: que preço está disposto a pagar?”