Em 2009 foi lançado nos cinemas o filme ‘Avatar’, uma produção da Fox tendo como diretor James Cameron. O filme, de ficção, aborda as aventuras de um fuzileiro americano, Jake Sully (o ator Sam Worthington), que após ser ferido em combate fica paraplégico. Ele é selecionado para participar do projeto Avatar, que tem como objetivo explorar Pandora, uma povoação na lua, a fim de se apropriar das riquezas lá existentes. Ao ser teletransportado para o ambiente extraterrestre, ele interage com os habitantes, agora sem sua incapacidade física.
Essa ideia de transmutar já acompanha os homens desde muito tempo, praticada de forma mental. Lembro-me do meu tempo de pré-adolescente, quando escutava pelo rádio a novela “Jerônimo, o herói do sertão”, e me transportava mentalmente para Cerro Bravo, cidade fictícia onde se desenrolava o enredo, no sertão brasileiro. Imaginava estar ao lado de Jerônimo, Aninha, Moleque Saci, me revoltava com as maldades do Coronel Saturnino, contracenava com os personagens da novela. Assim, também, quando vemos um filme no cinema ou na televisão, interagimos em nosso imaginário com os atores em ação; choramos, rimos, torcemos, odiamos, amamos e toda sorte de relação que nossa mente permita. Mas fica só nisso, não podemos interferir no script já elaborado.
No “metaverso” o que se pretende, como no filme, é permitir através do transporte virtual, a interação imersiva com outro ambiente, ou seja, espelhar o mundo real no ambiente virtual, onde as pessoas poderão interagir por meio de avatares, a partir de tecnologias como a “realidade virtual aumentada”. Este termo foi utilizado pela primeira vez na obra “Snow Crash” (Nevasca) de Neal Stephenson (1992). No livro, o personagem Hiro, um entregador de pizza, na verdade não está ali, no plano real, e sim em um universo gerado informaticamente que o computador desenha sobre seus óculos e transfere para seu fone de ouvido, transformando-o em um Samurai.
Metaverso é um termo utilizado para indicar um tipo de mundo virtual que tenta replicar a realidade através de dispositivos digitais. É um espaço coletivo e virtual compartilhado, constituído pela soma de “realidade Virtual, Realidade aumentada e Internet”.
O assunto é tão importante e relevante que despertou o interesse de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, que em entrevista disse que investiria cerca de um bilhão de dólares para aperfeiçoar essa nova tecnologia, a princípio aplicada na sua empresa e, quem sabe, futuramente estendida para outros segmentos. Tanto que o Facebook teve seu nome alterado para “Meta”.
Se em 1992, quando a tecnologia da informática estava ainda engatinhando, Neal Stephenson concebeu sua obra de ficção, hoje somos levados a acreditar na possibilidade de, em um tempo muito próximo, termos o metaverso sendo aplicado em outras áreas do relacionamento humano, quebrando paradigmas, revolucionando as relações sociais e comerciais e até mesmo políticas.
Com o “metaverso” deixaremos de, simplesmente, visitar outros ambientes, iremos interferir nas atividades, até mesmo alterando resultados. Já podemos ter uma ideia do impacto que esta nova tecnologia provocará nas relações comerciais, notadamente na área de prestação de serviços. Viajar será uma coisa prazerosa, sem riscos e sem nenhum custo, além do equipamento, naturalmente. E os prestadores de serviços? Executarão suas tarefas sem sair do escritório ou consultório. Poderemos ver o retorno da figura do médico de família, aquele que visitava as casas para consultar os pacientes, isto de forma intensiva, sem necessidade de programas governamentais. Fazer compras escolhendo produtos, provando um alimento numa lanchonete ou restaurante, sentir o aroma de um perfume na perfumaria, e tantas outras atividades que hoje exigem nossa presença física. E não é só isso, o meio político e a estrutura governamental serão profundamente impactada com essa nova tecnologia.
Este novo mercado que se abre tem atraído o interesse de muitas empresas da área de tecnologia, como Microsoft e Roblox, que estão investindo pesado para reservar uma fatia dessa próxima etapa da Rede Mundial de computadores, em que estaremos não apenas vendo conteúdos, mas dentro deles.
Em um mundo em que vendedores ambulantes aceitam pix, utilizam máquina de cartão de crédito, demonstrando modernidade, é o sinal de que é hora dos empresários se reinventarem, se preparando para o que vem pela frente.