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Coluna

Hipocrisia das religiões

18 dezembro 2025 - 13h34

Vigora um conceito a respeito das três coisas sobre as quais não se deve discutir: política, futebol e religião. A razão é que estas três áreas representam uma ideologia, ou seja, o conjunto das crenças, valores e concepções que formam uma visão de mundo, orientando como pessoas e grupos devem perceber a realidade e agir na sociedade, constituindo uma religiosidade. Karl Marx (1818 – 1883) era crítico quanto a esta visão, dizendo que ideologia é uma falsa consciência imposta para manter o status quo. Hoje percebemos que ele tinha razão.

No presente vemos que o modo de agir do homem no meio social aponta para a perda dos princípios básicos ideológicos e éticos, deixando de lado o respeito pelo próximo. A política se transformou num antro de corrupção, mentiras e máscaras; o futebol está deixando de ser esporte e paixão para ser um lucrativo negócio; a religião perdeu sua essência de ligar o homem a Deus para se transformar em comércio, vendendo prosperidade para os fieis em troca de dízimos.   

A Bíblia, no evangelho de Mateus, capítulo 23, versos 27 a 28, registra palavras de Jesus, denunciando os falsos religiosos que somente buscavam interesses próprios, como está escrito: “Você são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade”. 

A corrupção no futebol vem revelando a face hipócrita de alguns dirigentes e empresários, gerando um ambiente onde é recorrente notícias de escândalos como a “Máfia do Apito” (2005), que envolveu manipulação de resultados por árbitros em jogos do Brasileirão, levando à anulação de partidas e investigações federais; o Caso Ivens Mendes (1997), tendo como foco o então presidente da Comissão Nacional de Arbitragem (CONAF), evidenciando pedidos de dinheiro a presidentes de clubes para influenciar resultados e financiar campanhas políticas. Essas notícias revelam um histórico de fraudes, suborno e manipulação que afetam a integridade do esporte no país, envolvendo árbitros, dirigentes e apostadores. 

Na política a hipocrisia é soberana.  O espaço seria pequeno para relacionar todos os casos envolvendo manipulação de eleitores, fraudes e corrupção, evidenciando a hipocrisia da maioria dos atores na representação da arte de falar o que o povo quer ouvir, mas fazer tudo que o povo não deve saber. Fica evidente a distância entre o discurso ético e a prática. Isso levou o Barão de Montesquieu (1689 – 1755), filósofo iluminista francês, a afirmar: “A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios”.

Na antiguidade a religião significava consciência, senso de direito, obrigação moral ou dever para qualquer coisa. Entre os antigos romanos, a religião era praticada não no sentido de uma relação com os deuses, mas com uma série de emoções dentro de um contexto mundano, sentimento de restrição, hesitação ou adoração. Fazer do futebol, da política ou da crença uma religião, é um caminho movediço, que leva, muitas vezes, à decepção e à apostasia.     

O fato é que a hipocrisia está presente em praticamente todas as áreas sociais. O hipócrita é alguém que finge ser algo que não é para receber reconhecimento ou sair lucrando. “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, é uma frase popular, de autoria indefinida, inspirada na postura de Jesus ao criticar líderes religiosos hipócritas, tornando-se um bordão para apontar a falta de coerência entre o discurso e a prática.