Um filme de 1983 estrelado por Eddie Murphy, Dan Aykroyd e Jamie Lee Curtis, com o título “Trocando as bolas”, teve como tema uma aposta feita por dois magnatas de Wall Street, tendo como valor apostado a quantia de um dólar para o ganhador. A aposta consistia em fazer com que um deles conseguisse transformar um mendigo em executivo, e o executivo da empresa em mendigo. Só que os dois alvos, o mendigo e o executivo, conseguiram descobrir o que eles tramaram e desenvolveram uma armadilha para atingi-los financeiramente. Montou-se um canal fictício de notícias, dando conhecimento aos magnatas, que eram grandes investidores, que uma forte nevasca destruiria as plantações de laranjas, cujas ações das firmas produtoras tinham elevada cotação na Bolsa de Valores, fato que derrubaria seus ativos aplicados. Os executivos, ao tomarem conhecimento da notícia, começaram a vender seus papéis, o que fez o valor nominal das ações despencar, levando-os a incalculáveis prejuízos financeiros. No epílogo vemos o jovem executivo, o mendigo e uma aliada que conseguiram fazer amizade no meio da trama, já agora ricos, em uma ilha paradisíaca desfrutando da fortuna que ganharam à custa dos dois magnatas pseudoespertalhões. Quem começou perdendo virou o jogo e encerrou ganhando.
O filme, que teve como enredo secundário o mecanismo de funcionamento de uma Bolsa de Valores, nos faz perceber os riscos que correm os que entram nessa modalidade de investimento especulativo, sem agregarem elevado conhecimento e domínio de mercado. É lucrativo? Para alguns, sim. Mas enquanto uns ganham sempre haverá outros perdendo. Na verdade, a função das ações é permitir o acesso dos seus possuidores aos lucros, chamados de “dividendos”, na proporção da quantidade possuída. Entretanto, a busca por ações se faz pela expectativa de usufruir de lucros extraordinários e participar como acionista/dono de uma empresa. Quanto mais valorizada for uma corporação empresarial, maior valor será atribuído à ação. Ao entrar nesse mercado de compra e venda de ações como investimento, é preciso lembrar uma frase de Jean de La Fontaine (1621 – 1695), poeta e fabulista francês, que disse: “Arriscamo-nos a perder quando queremos ganhar mais”. Aliás, esse é o comportamento dos jogadores compulsivos, quanto mais ganham, mais querem ganhar.
A histórica crise de 1929 ocorrida nos Estados Unidos, que se espalhou por todo o mundo, teve como fato propulsor a “quebra”, ou “crash”, da Bolsa de Valores de Nova York, fato ocorrido numa quinta-feira, dia 24 de outubro, que ficou conhecida como “quinta-feira negra”. As ações começaram a ter suas cotações pulverizadas, investidores perdendo tudo que tinham, foi uma convulsão generalizada, perdurando por cerca de dez anos. Inclusive o Brasil foi duramente afetado economicamente nesse período. Outra área em que os sintomas do “perde e ganha” são notoriamente observados é a de jogos. O objetivo de todo jogo é proclamar um ganhador. Isso vale para todas as modalidades esportivas. Mesmo numa situação de empate, com certeza uma das partes vai se sentir como perdedora, mesmo não o sendo. Na questão dos chamados “jogos de azar”, como carteados, bingos, loterias e outras modalidades, a questão se torna mais complexa. No Brasil, o direito de exploração de jogos de loterias e seus similares pertence ao governo. Desde a inofensiva “Raspadinha” à devoradora “Mega Sena”, é monopólio do governo. O que passar disso é caracterizado como contravenção, passível de enquadramento criminal, como o jogo do bicho, por exemplo.
No ambiente político, em épocas de eleições, todo candidato tem como objetivo ganhar, para isso utiliza-se de todos os meios possíveis. Verdades, mentiras, recursos financeiros desproporcionais, rezas e orações, pois o perder é frustrante e doloroso.
A grande verdade é que um dia podemos estar ganhando e em outro perdendo. Artur da Távola (1936 – 2008), escritor e político brasileiro, dizia em uma de suas frases: “Só quem está disposto a perder tem o direito de ganhar”. Mas o fato é que ninguém gosta de perder.
Transcendendo os ambientes corporativos e sociais, a religião, através da Bíblia, não deixou passar em branco essa questão da busca incessante do homem em ganhar. Tanto que foi do próprio Jesus uma expressão contida nos Evangelhos, alertando sobre esse comportamento, conforme registrado no livro de Marcos capítulo 8, verso 36: “Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma”?
E a poesia nos deixa o último recado, nos versos dos compositores Rodrigo Leite e Serginho Meriti, transformados em música nas vozes de diversos cantores, como Diogo Nogueira e Xande de Pilares: “A vida é pra quem sabe viver / Procure aprender a arte / Pra quando apanhar não se abater / Ganhar e perder faz parte”.
Clesio Guimarães