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Coluna

Fechado para balanço

17 fevereiro 2023 - 07h30

Transitando entre um verbo e um substantivo, a palavra “balanço” envolve um movimento que desemboca numa demonstração de resultados. Todas as pessoas jurídicas, assim entendendo as instituições públicas ou privadas, com fins lucrativos ou não, estão obrigadas a elaborar um balanço anual, demonstrando suas movimentações patrimoniais e financeiras, prestando contas ao fisco, aos seus controladores e investidores. Para melhor acompanhamento e evitar ser surpreendido, quando nada mais puder ser feito, é aconselhável a elaboração de balancetes mensais, em alguns casos, dependendo da necessidade, pode até ser diário. Diferentemente da “Balança”, cuja finalidade é demonstrar o equilíbrio existente entre dois padrões, o balanço tem por objetivo, de forma analítica ou sintética, mostrar o desempenho das contas de uma instituição ao final de um exercício, compreendendo como tal um período de 12 meses, indicando um resultado de lucro ou prejuízo, superávit ou déficit. Há alguns anos, a maioria das empresas, ao final de cada ano, tinha como norma ostentar em suas portas um a aviso: “Fechado para Balanço”. Significava que por um ou mais dias a empresa estaria concentrada em contar seus estoques, para instruir o balanço geral que seria elaborado por sua contabilidade. Hoje, em função da tecnologia disponível, isso não é mais necessário, pois os estoques e demais informações necessárias para avaliar o resultado são disponibilizadas em tempo real. 
Antes da existência da informática, fechar um balanço era uma tarefa extremamente árdua. Era comum, ao chegar o fim de cada ano, os funcionários das agências bancárias ficarem até “altas horas” trabalhando, tentando fechar seus Balanços, manuseando rolos e mais rolos de fitas de máquinas calculadoras.
Entretanto, mesmo com toda tecnologia colocada à disposição, algumas instituições precisariam de um tempo para se organizar melhor, e para isso, só fechando para balanço. Seria o caso de muitos órgãos governamentais na atualidade. Nas prefeituras há centenas, em algumas, milhares, de processos parados por falta de solução, que não deveriam passar para o exercício seguinte. Nos órgãos judiciários, milhões de ações paradas, dependendo apenas de um despacho, causando prejuízos, às vezes irrecuperáveis, aos cidadãos. Nas empresas, decisões que precisariam ser tomadas ficam postergadas. Até mesmo em nossa vida privada precisamos elaborar, a cada ano, um balanço, para repensar projetos, avaliar erros e acertos e tomar decisões.
O balanço, substantivo, tem por finalidade mostrar o resultado do desempenho de uma instituição durante um período. Após sua análise, os gestores tomarão as medidas para os ajustes e estabelecimento das metas para mais um período, distribuindo lucros ou chamando acionistas para aporte de capital. Recentemente, os investidores, colaboradores e credores das Lojas Americanas foram surpreendidos com a notícia de que a empresa tinha um “rombo” em torno de 20 bilhões de reais, que pode chegar a 40 bilhões, segundo estimativas. A pergunta que não quer calar é: “Como isso não foi percebido há mais tempo”? “Como deixaram chegar a esse ponto”? A resposta é bem simples: “O balanço foi maquiado”. Dados inconsistentes foram registrados, dando a impressão de que a empresa estava saudável, de que tudo estava bem. Como as Americanas possuem ações negociadas em Bolsas de Valores, seu balanço mostrava uma empresa lucrativa, automaticamente fazendo com que o valor das suas ações apresentasse uma cotação elevada nos pregões. No momento, foram abertas várias auditorias para detectar onde ocorreu o erro, mas isso já se sabe. A empresa praticava o que se chama de “Risco Sacado” ou “Forfait”, que é uma triangulação envolvendo o varejista (Americanas), bancos e fornecedores. Essa operação consiste em comprar dos fornecedores pagando à vista, vender a prazos estendidos e negociar com uma instituição financeira os títulos gerados dos clientes. Esse procedimento, aliás, adotado por quase todas as lojas de departamentos, assegura um alto faturamento, elevando a pontuação da empresa para fins de atuação no mercado de ações na Bolsa de Valores. Em algum momento a Lojas Americanas deixou de fazer algum registro, por erro ou fraude, conforme já se especula, que foi se acumulando, avolumando, até ser detectado e denunciado. Claro que a cotação das ações desvalorizou muito com o vazamento da notícia.
A aparente saúde da empresa demonstrada pelos balanços de 2021 e 2022, na verdade, escondia uma doença crônica, disfarçada pelos relatórios inconsistentes, levando os investidores a um otimismo inexistente, que nos leva a pensar numa frase de Voltaire (1694 – 1778), filósofo e iluminista francês, que disse: “Otimismo é a mania de sustentar que tudo está bem, quando tudo está mal”.