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Coluna

Eu não gosto de política

06 fevereiro 2025 - 15h24

Não, eu, Elisa, gosto de falar de política. Se você já andou lendo minhas colunas aqui no jornal, sabe que sempre foi minha pauta principal, voltada para a igualdade de gênero. Porém, quantas vezes você já ouviu alguém dizendo algo parecido? “Não gosto de falar de política.” De certa forma, eu entendo. Nos últimos anos, vivemos na pele uma grande polarização da direita e esquerda no nosso país (e fora dele), o que deixou todos um pouco “à flor da pele”. 

Vivemos momentos de distanciamento, ou até mesmo rompimento, de relações por divergências políticas. Isso torna compreensível que certas pessoas, apesar de “gostarem” de política e terem opiniões sobre ela, prefiram simplesmente não tocar no assunto. Infelizmente, por motivos diversos — até indo ao extremo de ter medo de ser agredido ou pior.
Vimos tantas ocorrências absurdas envolvendo o tema que, realmente, é quase impossível não nos tornarmos cuidadosos com quem estamos compartilhando nossas opções políticas. Isso é problemático de tantas formas que é até difícil saber por onde começar a desmembrar o tema.

Bom, eu vou começar pelo meu próprio umbigo. 

Sou uma das pessoas que rompeu relacionamentos ao perceber que a outra pessoa pensava de forma totalmente diferente de mim. E é óbvio que ouvi a famosa frase: “Você vai parar de falar comigo por causa de política?”. 

Sim. Eu vou. Porque política não é sobre torcer para o Flamengo ou para o Vasco. Não é sobre gostar mais de rosa ou azul e preferir não comer feijão no jantar. Os assuntos que estavam em pauta, geralmente divergentes, falavam principalmente sobre o direito de existência de pessoas. Estamos falando sobre decisões coletivas que regem a vida de todos.

Até porque tudo é política. Até mesmo as coisas mais “banais” do dia a dia são decididas através da política. O ar que respiramos, o que comemos, como comemos, o que sabemos e como sabemos. 

Até o fato de podermos falar livremente na internet sobre o que algumas pessoas chamam de “apenas minha opinião” é guiado pela política.

Eu sei que posso estar sendo óbvia demais. Porém, eu gostaria que fosse ainda mais óbvio. Se a política é tão importante, por que, por exemplo, não existe uma matéria escolar obrigatória em todas as escolas? 

Assuntos como política, economia e ciências sociais deveriam estar na grade curricular de todas as escolas. Ou seja, até não falar de política é político. Até se omitir diante do tema gera benefícios econômicos para alguém.

Enquanto a sociedade entra em guerras virtuais ou presenciais, ou simplesmente foge do assunto, alguém — ou muitos alguéns — estão sendo beneficiados. 

Além do fato irrefutável de que, se você não quer falar de política ou não fazer suas escolhas diante da urna no dia das eleições, alguém escolherá por você, gostando ou não, achando certo ou não. 

E, em algum momento, nos próximos anos, isso irá de encontro a você, de uma forma ou de outra.