Transitando entre sinônimos como hipótese, teoria, reflexão, raciocínio e argumento, a palavra especulação acaba desabando no ambiente econômico e, por consequência, sobre o meio social. Na sua essência, especular visa gerar lucros rápidos e volumosos, atuando junto à lei geral da economia: oferta e procura.
Analisada sob a ótica da moralidade, qualquer ganho obtido com especulação tem julgamento condenatório. Em momentos de escassez, isto é, quando a oferta de bens e serviços é inferior à procura, gerando ganhos extraordinários aos detentores dos fatores de produção, os consumidores são compelidos a pagar mais pelos bens e serviços de que necessitam. Em ocasiões de catástrofes, como a que ocorreu na Região Serrana do Rio, incluindo Petrópolis e adjacências, tempos passados, comerciantes especularam com venda de água mineral e alimentos a preços surreais, o que foi amplamente denunciado pela imprensa. Quando a política econômica do governo privilegia a exportação de commodities, como grãos e carne, diminuindo a oferta para o mercado interno, vemos de imediato o aumento dos preços para os consumidores. Isso é especulação. Pode até ser legal, mas é imoral.
Nas bolsas de valores, que atuam no mercado de compra e venda de ações, o capital especulativo é empregado como uma espécie de aposta na valorização de determinados ativos, com o objetivo de conseguir lucros além da média, em pouco tempo. Entretanto, esse tipo de atuação apresenta riscos muito maiores para os investidores.
No segmento imobiliário, investidores adquirem e retêm propriedades, normalmente terrenos, visando especularem com o desenvolvimento e, consequentemente, obterem altas valorizações para seus capitais. Esse tipo de investimento, chamado de entesouramento, é danoso à economia nacional, pois imobiliza o capital, impedindo sua circulação, desse modo deixando de gerar ganhos sociais, como empregabilidade. Por isso é importante a execução de uma reforma agrária isenta de interesse político. Mas aí fica difícil, pois os maiores donos de terras são os que ocupam o poder.
No meio das comunicações prevalece o noticiário especulativo. A supervalorização do mal tem provocado estragos irreparáveis no meio da sociedade. Vemos nos noticiários das TVs abertas, aquelas que atingem o maior público, notícias de toda sorte de mazelas, assaltos, estupros, atentados, entre outros. Funcionam como uma escola, pois acabam incentivando e ensinando a prática de tais crimes. Recentemente os meios de comunicação foram à exaustão ao relatar os atentados perpetrados em escolas. Foi o bastante para que viralizasse, criando uma histeria coletiva. A justificativa é que dá audiência, e realmente dá, mas a que custo?! Pouco se vê noticiar eventos de cunho meritocrático, que ensinam boas práticas, exemplos de civilidade e boas maneiras.
Nem o meio religioso escapa da gana especulativa de líderes descomprometidos e insensíveis à miséria alheia, que nada diferem de comerciantes inescrupulosos, que almejam somente o lucro. A proliferação de denominações religiosas que pregam a chamada teologia da prosperidade tem sido um nicho forte na exploração dos menos favorecidos. Em busca da solução de problemas financeiros, pessoas de diferentes níveis de formação acabam sucumbindo às pregações que ensinam que: “para ter é preciso dar”.
Karl Marx (1818 – 1883), filósofo e economista alemão, sintetiza em uma frase o mundo em que vivemos: “A desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do mundo das coisas”.