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Coluna

Ajude sapere – ouse saber

04 dezembro 2025 - 12h13

 O profeta bíblico Oséias, no livro de mesmo nome, no capítulo 4, verso 6, assim se expressou: “O meu povo está sendo destruído porque lhe falta o conhecimento...”. Esta falta de conhecimento é um mal que afeta a humanidade desde os tempos antigos e tem sido uma das causas da degradação da sociedade. Paradoxalmente a essa linha, o filósofo alemão Immanuel Kant (1724 – 1804), pensador do iluminismo, se posicionava com uma citação latina que dizia: “aude sapere”, que significa “ouse saber” ou “atreva-se a conhecer”. Esta citação representa uma chamada para a autonomia intelectual, funcionando como um incentivo para as pessoas usarem sua própria razão, pensando em si mesmas, sem depender de autoridades e preconceitos externos. O significado dessa expressão vai além da sua tradução, sendo uma motivação para usar a coragem e a razão. No mundo atual, onde a informação fica na palma da mão, o aude sapere enfatiza a importância do dever de cada um exercer um pensamento crítico, usar sua capacidade de analisar, questionar e formar opiniões próprias de forma independente. Há um ditado popular que diz que o saber não ocupa lugar. Teoricamente é correto, mas na prática sabemos que é muito difícil acumular todo o conhecimento. Eça de Queiroz (1845 – 1900) é autor de uma frase enigmática: “O saber não ocupa espaço, e sim o vazio de nada saber”.

No campo jurídico é humanamente impossível conhecer todas as leis. Só no âmbito federal são 181 mil normas e 15 mil leis ordinárias, que somadas às das áreas estaduais e municipais ultrapassam a espantosa marca de 1 milhão. O que mais nos espanta é saber que o desconhecimento de uma lei não isenta uma pessoa da obrigação de cumpri-la. Esse princípio, conhecido como “obrigatoriedade da lei”, está previsto no art. 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, sob a justificativa de que, uma vez publicada, presume-se que todos a conhecem ou deveriam conhecer.

A linha do conhecimento é uma jornada que percorremos durante toda nossa vida, e pode ser explorada de diversas formas. Stephen Hawking (1942 – 2018), físico britânico, disse que: “O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento”. Na minha juventude, para buscar o conhecimento, tinha que recorrer às enciclopédias, como a Barsa, Delta Larousse, Mirador, Britannica, Lello Universal, entre outras. Hoje temos o Google, na palma da mão, como um dos principais mecanismos de busca, ao lado das redes sociais capitaneada pelo WhatsApp, muito embora muitas informações possam ser distorcidas, o que compromete o saber.

Por outro lado, vivemos num mundo de alta tecnologia, onde pesponta os chamados influenciadores digitais que criam modismos, afetando o comportamento e até mesmo o caráter de muitas pessoas. Observamos a existência de uma falsa ideia de “saber”, quando, na verdade, o que cada um precisa é conhecer a si mesmo, conforme uma citação antiga atribuída ao filósofo Sócrates (470 a.C – 399 a.C): “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”.

Recentemente ouvi o vereador de certa cidade celebrando a “parceria” existente entre a Câmara, da qual faz parte, e a Prefeitura. Pelo visto, ignora a separação de poderes que deve prevalecer entre o legislativo, executivo e o judiciário. No Brasil temos 5.569 municípios, todos com um prefeito e uma Câmara de vereadores, na maioria o exercício do mandato e feito com pessoas com saber limitado, o que contribui para a existência de milhares de leis inócuas.                                                 

Encerro com uma frase do filósofo grego Sócrates que ensina: “Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância”, e completa: “Só sei que nada sei”.