Placa em Arraial do Cabo ‘impede’ trilha sem guia
Secretário, porém, diz que ninguém será impedido de fazer percurso até o Lago do Amor
TOMÁS BAGGIO
Uma placa para proibição de entrada de visitantes sem guias credenciados na trilha do Lago do Amor, em Arraial do Cabo, foi instalada ontem pela Prefeitura. Há uma semana, a turista catarinense Fabiane Fernandes foi assassinada na Trilha da Prainha.
A medida foi questionada nas redes sociais, mas o secretário de Segurança Pública, Márcio Veiga de Oliveira, conhecido como Marcio Galo, afirmou que ninguém será impedido de entrar, apesar do termo “proibido”.
- Não vai ter fiscalização. Não tenho como colocar um guarda em cada trilha. Arraial tem um milhão de trilhas, não tem como fiscalizar todas. A regra está lá. É uma placa oficial com símbolo do município. Agora, se alguém desrespeitar e quiser entrar na trilha mesmo assim, vai estar assumindo o risco. É igual quando tem um jacaré em um lago. Você coloca uma placa avisando, mas se alguém quiser entrar no lago assume o risco por isso - alegou o secretário.
Pela determinação, os guias autorizados a levarem pessoas no local precisam ser credenciados na Secretaria de Turismo. No entanto, em entrevista à Folha na semana passada, o secretário de Turismo de Arraial do Cabo, Paulo Ribeiro, admitiu que a cidade não possui um cadastro de guias de turismo, e chegou a dizer até mesmo que desconhece a existência das agências de turismo de aventura que atuam na cidade. Sobre isso, Marcio Galo disse não ser de sua alçada.
- Isso eu não posso responder. Minha parte é a área de segurança - declarou.
O assunto repercutiu nas redes sociais com opiniões favoráveis e contrárias à medida. Na página da Secretaria de Segurança, um internauta questionou: "um absurdo isso gente, Arraial do Cabo é uma das cidades mais visitadas da Região dos Lagos, não seria melhor por Guarda pra orientar e dar um pouco mais de segurança? Ou a cidade não ganha com essas visitas?". Outro completou: "É dever da segurança monitorar estas trilhas periodicamente". Também houve mensagens concordando com a nova regra: "Parabéns a SEMUSP! Em qualquer local, como praias onde são colocadas a bandeira vermelha, o risco de entrar é assumido pelo banhista. Dessa forma, fica expressamente claro a todos que o local é de risco, e a desobediência implica em consequências assumidas no ato de se arriscar". Mas grande parte dos comentários questionava a legalidade da medida: "Lei que proíbe circular em área pública?", postou uma pessoa.
Sobre a legalidade da restrição, Marcio Galo diz que a Defesa Civil tem poder de polícia e fez uma comparação.
– É a mesma coisa quando a Defesa Civil interdita uma casa por motivos de segurança e os moradores precisam sair – disse.
Para Maycon Victorino, sócio de uma empresa que trabalha com turismo de aventura, a medida faz sentido. Ele diz que a trilha do Lago do Amor é perigosa, e, além disso, o lado em si também pode ser perigoso em algumas circunstâncias, pois o mar avança rapidamente no local e quem não está familiarizado pode ser surpreendido pelas ondas.
- A trilha do Lago do Amor é realmente perigosa e não deve ser feita sem um profissional capacitado. Ela tem penhascos enormes, de 70, 80 metros de altura. Uma queda é fatal. Quando chega no lago é preciso estar atento ao movimento das marés. O mar sobe rápido e as ondas podem arrastar as pessoas das pedras para dentro do mar - explicou.
Maycon faz parte da recém criada Associação dos Guias de Arraial do Cabo (Aguia). Segundo ele, a associação está preparando a minuta de proposta de um projeto de lei criando um cadastro municipal de guias e catalogando as trilhas mais importantes ou perigosas, fazendo a classificação e o ordenamento de cada uma delas. A minuta será protocolada na Câmara Municipal para que algum vereador possa apresentá-la como projeto de lei.