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Aumento da criminalidade preocupa moradores de Arraial do Cabo

Antes pacata, cidade assiste a briga de facções, segundo a polícia 

25 JUL 2017 • POR Redação I Foto: Divulgação • 10h53

Já foi tempo que os moradores de Arraial do Cabo se orgulhavam do título de uma das cidades mais pacatas da região. A violência atual espanta os moradores que, até então, não estavam acostumados com fatos como homicídios e tiroteios. Na madrugada desta segunda (24), um homem de 20 anos identificado como Leonardo Ribeiro da Costa foi morto a tiros na Rua José Pinto de Macedo, na Prainha, próximo à Apae de Arraial do Cabo. O barulho dos disparos assustou os moradores do bairro.

No ataque, outro rapaz, de 24 anos, levou um tiro na perna e um adolescente de 16 anos foi baleado na boca. Segundo testemunhas, as vítimas voltavam de um pagode quando foram atingidos pelos disparos feitos por dois homens de boné. O adolescente está internado no Hospital Geral de Arraial do Cabo e o estado de saúde dele é estável. O outro ferido foi liberado. Já o corpo de Leonardo foi transferido para o Instituto Médico Legal (IML) de Araruama.

A investigação está a cargo de policiais civis da 132ª DP (Arraial do Cabo). As imagens de câmeras de segurança devem ser usadas para tentar desvendar a autoria do crime. A delegada Flávia Monteiro de Barros, titular da delegacia, ficou envolvida na ocorrência durante todo o dia. De acordo com o levantamento policial, os autores dos disparos são de Cabo Frio e existe um conflito entre a facção de Cabo Frio e de Arraial.

– Na verdade as metas de Arraial não aumentaram. No tocante aos homicídios que houve um aumento pois está havendo um conflito entre a facção de Cabo Frio, que está querendo invadir o espaço de Arraial e eles estão se matando – declarou Flávia Monteiro, que ressaltou a importância da participação da sociedade, denunciando.

O secretário de Segurança Pública de Arraial, Márcio Galo, atribui à falência do Estado o aumento da violência na cidade. Segundo ele, parte dos morros da Cabocla e Boa Vista estão arrendados para traficantes de fora. Márcio defende o armamento da Guarda Municipal como uma das possíveis saídas para a diminuição da violência.

– O estado não repõe o efetivo da tropa há três anos, soma se a isto os 91 policiais mortos até agora, os que pedem aposentadorias ou dão baixa da corporação. A lei Federal 13.022/14 dá poder de polícia as guardas municipais de todo o Brasil e poderiam ajudar a cidade patrulhando as praças, ruas , centro comercial e bancário. É óbvio que ninguém irá colocar uma arma na mão do guarda e dizer “vai”. Há um longo processo teórico e prático, além de exame psicotécnico. Na minha opinião é com o cenário de penúria estatal atual, não vejo outra saída a não ser o armamento da guarda municipal – ressalta.

Márcio, que diz que vai levantar a bandeira do armamento e tentar convencer autoridades e população, informou que todo efetivo da guarda municipal é composto por servidores públicos concursados.

– A frota e o efetivo da guarda é três vezes maior que o efetivo da PM em nossa cidade, poderemos contribuir em muito com a segurança pública do município, mas precisamos também garantir a segurança pessoal de nossos agentes e para isso o porte de armas e fundamental – finaliza.

Sociedade assustada com ocorrências

Em 2016 o ator Max Magalhães, 33 anos, teve uma arma apontada para ele e um amigo quando chegava em casa, no bairro Canaã. Nada aconteceu, ele acelerou o carro, mas o susto ficou na memória. No dia seguinte ao fato, ele foi à delegacia da cidade e denunciou o ocorrido. O assaltante acabou sendo preso, mas Max comenta o medo que ronda a população.

– Arraial do Cabo está deixando de ser uma cidade tranquila, uma cidade mágica, devido as belezas naturais que nós temos e está se tornando uma cidade assustadora! Assaltos com frequência, assassinatos e por aí vai... Lamentável que uma cidade pequena esteja passando por esse tipo de situação. As pessoas estão começando a deixar de caminhar à noite, justamente por esse motivo, por medo de serem surpreendidos – conta.
Repórteres que lidam com ocorrências policiais comentam o que vem acontecendo em Arraial. Vinícius Pereira percebe que a violência começou a aumentar em 2015.

– O sentimento acaba sendo de impotência. Arraial é uma cidade com um potencial imenso, com belezas naturais e um povo sem comparação. O problema é que o tráfico de drogas aumentou, isso é visível, e com ele veio o crescimento da violência. Hoje precisamos estar atentos, não podemos mais ficar até muito tarde em determinados locais, pois corremos o risco de ser assaltados ou até mesmo de presenciar cenas que não eram tão comuns por aqui, como esses assassinatos. Confesso que o medo aumentou e que não vivemos tão tranquilos – comentou o jornalista.

Nascido em Arraial do Cabo, o repórter policial Eduander Silva também comentou a violência na cidade.

– Eu estou assustado, muito. A gente sempre tinha relatos de ocorrência aqui e outra ali, mas casos de homicídios, troca de tiros, bairros ocupados pelo tráfico de drogas, como acontece no Morro da Cabocla, essa é uma situação que chama muito a atenção. Mas essa não é uma exclusividade de Arraial não. Para você ter uma ideia, no sábado pela manhã eu fui ao 25° Batalhão e contei 16 ocorrências policiais de sexta para sábado. Não fui no domingo e voltei na segunda e contei mais 16 ocorrências. Há uma crescente em ocorrências em muitos locais – alerta o repórter.