Carol Midori: 'A cobrança agora está bem maior’
Do alto dos 1.132 votos, a ativista Carol Midori agora espera mais apoio para causa do animais abandonados
Com uma campanha baseada no trabalho voluntário e com pouca estrutura, a ativista da causa animal Carol Midori surpreendeu muita gente, inclusive ela própria, ao obter na votação municipal 1.132 votos. Ela ficou apenas com a terceira suplência da coligação, mas deixou para trás políticos experientes como Marcello Corrêa (PP) e Emanoel Fernandes (PRP) que tentavam a reeleição.
Em entrevista à Folha, Carol disse que, apesar do resultado, ainda não recebeu qualquer ajuda para seu trabalho na ONG Apaixonados por Bichos, mas deve assumir alguma coordenadoria para tratar do problema dos animais abandonados caso Marquinho consiga na Justiça o direito de governar a cidade.
– Ele prometeu dar uma estrutura melhor para a gente – disse.
Folha dos Lagos – Esperava uma votação como essa?
Carol Midori – Comecei o dia da eleição muito triste porque tinha certeza que teria uma votação decepcionante. Não tive estrutura nenhuma de campanha. Foi uma campanha muito amadora, na base dos amigos. Quando começou a apuração e de início eu estava em sexto lugar, quase tive um ataque, a família quase enfartou. Foi muito intenso, muito inesperado. Quando encerrou a votação e que eu vi 1.132 votos, foi uma surpresa. Nem o pessoal mais próximo acreditou que teríamos esses votos, sem recursos.
Folha – A que você atribui esse resultado?
Carol – Acho que foram algumas coisas. Primeiro foi o público ter confiado em mim, no meu trabalho. Sempre fiz por amor, sem pretensão nenhuma. Nunca tinha pensado em vir candidata ou qualquer coisa. Acho que essas pessoas viram em mim alguém confiável, com credibilidade e um histórico de trabalho para mudar a situação dos animais de rua de Cabo Frio. Em segundo lugar, eu tive o apoio de todas as protetoras e de todo pessoal que gosta da causa. Esse pessoal apoiou, me acolheu e ajudou a divulgar no boca a boca mesmo, vendo que era um trabalho sério e honesto. Sabendo que tem uma protetora que já dedica a sua vida a isso, no seu dia a dia ,sem receber nada em troca, imagina tendo uma pessoa dessa lá na Câmara.
Folha – Qual o impulso que essa votação pode dar ao seu trabalho a partir de agora?
Carol – Espero que traga coisas boas porque até então quando eu falo ONG as pessoas pensam que temos uma grande estrutura e não é o que acontece. Sou praticamente eu sozinha, com poucos colaboradores e o abrigo é no quintal da minha casa. Eu que corro atrás para pagar as despesas veterinárias. Espero que, com essa votação, a Prefeitura olhe com mais atenção a causa e tenha o interesse em colocar em prática os meus projetos mais urgentes como a castração gratuita, um veterinário popular, a reforma do canil e a construção do gatil que é essencial aos municípios.
Folha – Que estrutura de campanha teve à disposição?
Carol – O único material que eu tive foram os meus santinhos. Uma parte dada pelo partido e a outra feita de uma vaquinha do meu pai e do meu marido. Alguns adesivos de carro e uma caixinha de som era tudo que tínhamos.
Folha – E muita força de vontade para bater perna...
Carol – Todo dia eu saía de casa às 9 horas e voltava 11 horas da noite batendo perna mesmo, panfletando de rua em rua e gastando sola de sapato. Era o que tinha nas mãos. E divulgar nas redes sociais. Minha campanha foi isso: rede social e panfletagem.
Folha – Você já conversou com Marquinho sobre apoio dele ou mesmo um cargo no governo, caso ele assuma?
Carol – Depois da campanha ainda não conversamos. Falei com ele antes das eleições. Ele já tinha um comprometimento comigo que, mesmo que eu não entrasse como vereadora, me puxaria para resolver essa parte dos animais de rua, porque sabe que é uma coisa que entendo muito e estou no dia a dia. Sei tudo o que a gente precisa ali. São muitos animais de rua abandonados e a gente não tem como dar conta. A Prefeitura tem que intervir. Ele prometeu dar uma estrutura melhor para a gente.
Folha – A cidade ganhou uma nova política ou você enxerga na política só um meio de conseguir levar sua causa adiante?
Carol – Acho que os dois. Eu vejo na política uma das únicas formas de ter voz e força de cobrar o poder público algo para os nossos animais. Devido a isso eu tenho que entrar nesse meio político. Não pretendo desistir.
Folha – Como está o assédio?
Carol – Uma loucura. Recebo umas 700 mensagens por dia, muitas de parabéns. Mas também já sofri uma cobrança muito grande. Recebo quase 100 mensagens por dia de pedidos de ajuda e infelizmente a minha vida continua a mesma. A gente ainda não alcançou uma estrutura para cuidar desse animais. Continuo a mesma Carol de sempre, lotada de animais em casa e de dívidas.