Uma caminhada mais do que inspiradora pela história de Cabo Frio
Pequeno tour a pé faz relembrar as principais memórias da cidade
A grama do vizinho é sempre mais verde, a gente não dá valor ao que tem do lado, santo de casa não faz milagre. São várias as sabedorias populares que justificam o porquê de a beleza de Cabo Frio ainda precisar ser apontada e explicada. Não deveria ser assim. Andar pelas ruas estreitas da Passagem, descansar no Forte e gastar um tempo na Fonte do Itajuru são presentes que Cabo Frio proporciona e, às vezes, são subestimados.
Para deixar uma voltinha pela cidade ainda mais agradável, os pontos de interesse mais famosos daqui ficam perto um do outro. Ou seja, você pode conhecer o melhor da história de Cabo Frio em um walking tour – ou um rolê a pé –, febre na Europa, mas pouco difundido por aqui.
Então, o turista que resolver abrir mão do ônibus turístico vermelho que perambula pelo município pode ser apresentado a Cabo Frio a partir da Passagem, o que faz sentido, porque foi ali que a cidade nasceu.
A origem do nome do bairro é divergente. Enquanto historiadores dizem que, no período colonial, aquela era a parte do Canal do Itajuru que servia para travessia marítima, alguns ‘antigos’ de Cabo Frio dizem que o bairro foi uma clareira de passagem por terra, no meio do mato, entre o canal e a Praia do Forte.
História à parte, o turista que chega pela primeira vez por aqui pode achar o bairro mais antigo de Cabo Frio parecido com Paraty. Faz sentido. Foi na Passagem que foram feitas as primeiras habitações e feitorias, além da Igreja de São Benedito – grande parte do bairro é tombada como patrimônio histórico. Foi ali, também, que começou a ocupação portuguesa, no início do século XVII.
Quando o comércio da cidade migrou para o Centro, a Passagem foi ocupada por pescadores, que deixaram como herança os barquinhos coloridos que são ornamentos da Praia da Passagem.
Dali, com poucos minutos caminhando se chega à principal praia da cidade, resguardada pelo Forte São Matheus. Construído no início dos anos 1600 para substituir o antigo forte, mais frágil, o São Matheus foi um importante posto de defesa da cidade e por vezes serviu como ponto de abrigo para famílias indígenas.
Alguns dos canhões que originalmente pertenciam ao Forte podem ser encontrados em outros lugares, como por exemplo na entrada do Clube de Regatas Flamengo, no Rio, e na praça de São Pedro da Aldeia.
Andando pela Praia do Forte e mergulhando na Nilo Peçanha, até a Avenida Nossa da Assunção, o turista há de se deparar com o Charitas. O prédio foi construído em 1837 e recebeu este nome (Casa de Caridade, em latim) por abrigar crianças abandonadas. O abandono de recém-nascidos era muito frequente, na época, por conta de relacionamentos ‘clandestinos’ entre pessoas brancas e negras ou índias.
As crianças eram abandonadas em uma roda, logo na entrada, e recolhidas pelas religiosas que moravam no lugar. O espaço posteriormente serviu como abrigo para refugiados, durante a Segunda Guerra Mundial, biblioteca municipal e hoje abriga exposições culturais.
Saindo do Charitas e virando à esquerda pela Avenida Nossa Senhora da Assunção, passa-se pela Igreja Matriz de mesmo nome da rua, de arquitetura típica do século XVII, estilo jesuítico, com altares barrocos, que data de 1615, início do que hoje conhecemos como Cabo Frio, e, mais à frente, chega-se ao Convento Nossa Senhora dos Anjos.
O convento foi inaugurado já no fim do éculo XVII, em 1696. Construído em pedra e cal, assim como o Forte, abrigou o primeiro colégio de Cabo Frio.
Avançando pela Av. Júlia Kubitschek, dali, o turista se depara com a Fonte do Itajuru, um pequeno parque cercado de onde começou a história da água na cidade – era dali que saía a canalização que abastecia o povoado cabofriense. Hoje é um bom lugar para descansar ou ler um livro à sombra, com tranquilidade.
Quem quiser dar uma esticada para terminar o passeio em alto estilo pode dar uma esticada – bem curtinha – até a estátua do Anjo Caído, no Canal do Itajuru.
História – Nos últimos meses, alunos do curso de História da Estácio de Sá levaram turistas e cabofrienses para uma visita guiada, de roteiro bem semelhante. A iniciativa ‘Rolê por Cabo Frio’ fez parte da comemoração dos 400 anos da cidade.