MEMÓRIA E CULTURA

Coletivo Olhar da Perifa promove oficinas e prepara inauguração de Centro de Memória em Cabo Frio

Programação gratuita de formação antecede a abertura do Centro de Memória Afro-Indígena, que funcionará no Jardim Esperança, com acervo sobre escravidão regional e história do território

3 NOV 2025 • POR Redação • 11h19

O Coletivo Cultural Olhar da Perifa vai realizar um ciclo de oficinas de formação gratuitas entre os dias 5 e 15 deste mês. Elas serão ministradas por Thamires Ribeiro de Oliveira, especialista em conservação e restauração. Ao todo serão oferecidas 10 vagas, com preferência para quem atua em áreas de pesquisa e história. As inscrições abrem no dia 1º de novembro.

No dia 5 de novembro, às 19h, uma live no Instagram do projeto @‌coletivoolhardaperifa vai abordar o tema "O Museu da Maré no contexto da Museologia Social". A convidada será Thamires Ribeiro, Bacharel em Conservação e Restauração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Mestre em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde pela Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Durante a conversa ela vai trazer um olhar técnico sobre a construção e formação de um museu social, um modelo desconstruído, diferente dos padrões tradicionais europeus, que valoriza a história do território, das pessoas e dos processos de formação comunitária.

Já no dia 15 de novembro, também às 19h, o foco será duplo: "Arquivos Comunitários: Possibilidades e Desafios" e "Conservação Preventiva de Acervos Bibliográficos e Documentais". A ação acontecerá na sede do Coletivo Cultural Olhara da Perifa, que fica no CIEP 458 Hermes Barcelos (Estrada de Búzios, 01, Jardim Esperança – parte de cima da biblioteca de vidro). Para participar é preciso fazer inscrição pelo link disponível no Instagram do coletivo. As vagas são limitadas.

Após as oficinas todo o foco do coletivo será voltado para a criação do Centro de Memória Afro-Indígena, um espaço de visitação e pesquisa que funcionará no bairro Jardim Esperança, e tem inauguração prevista para 6 de dezembro. O espaço será dedicado à pesquisa, ao resgate histórico e ao fortalecimento da identidade cultural do território, mas também funcionará como espaço de visitação, com mecanismos que permitam o acesso de estudantes da educação básica, professores, universitários e pesquisadores interessados no tema da escravidão afro-indígena.

De acordo com o historiador Pierre de Cristo, membro voluntário do coletivo e responsável pela curadoria do acervo, o objetivo é suprir a falta de materiais e estudos acessíveis sobre o assunto fora da capital fluminense, uma vez que cerca de 80% dos acervos disponíveis encontram-se no Rio de Janeiro.

– O trabalho será construído de forma colaborativa, com o apoio dos próprios alunos do projeto, principalmente na catalogação dos livros e documentos que farão parte do acervo - explica Pierre, lembrando que os materiais reunidos são diversos. Grande parte, inclusive, vem de doações recebidas pelo próprio Pierre de Cristo ao longo dos anos, enquanto outros materiais foram doadas por parceiros, como o “Acervo Márcio Werneck”, que cedeu cadernos de anotações das décadas de 1970 e 1980, máquinas fotográficas e outros objetos históricos.

O projeto também receberá uma Linha do Tempo Educativa da História do Continente Africano do Instituto de Pesquisa e Estudos Afro Brasileiros (IPEAFRO), além de uma trilogia da história do Cais do Valongo, do Instituto Pretos Novos (IPN).

O Centro também contará com documentos sobre o período da escravidão na região, incluindo placas informativas com o número estimado de africanos trazidos a Cabo Frio durante o tráfico clandestino africano. Pierre ressalta que o projeto pretende ir além da preservação.

– Nós estamos construindo a nossa parte enquanto fazedores de cultura, contribuindo para uma sociedade mais acessível aos espaços de pesquisa - afirmou o historiador.

Enquanto o espaço não é inaugurado, o coletivo busca novas parcerias e doações que possam ampliar o acervo e fortalecer a iniciativa. Para isso, moradores da região também podem contribuir com a doação de fotografias antigas que ilustrem a história do território e também da Região dos Lagos.

– Queremos fazer um chamamento público para que as pessoas que possuam materiais históricos sobre o território possam contribuir e compartilhar com a comunidade - convocou Pierre, lembrando que a ideia de criar o espaço nasceu após diversas visitas a museus e centros de pesquisa no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Nesses locais, Pierre disse ter constatado a dificuldade de acesso a informações sobre a escravidão regional. Por isso, “trazer esse conhecimento para Cabo Frio é uma forma de aproximar as pessoas de sua própria história”.