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União de saberes: quilombolas de Maria Joaquina trocam experiências com paneleiras de Goiabeiras

21 OUT 2025 • POR Redação • 18h53

A Associação dos Remanescentes do Quilombo Maria Joaquina, de Cabo Frio, realizou uma ação de intercâmbio com a comunidade das Paneleiras de Goiabeiras, em Vitória, no Espírito Santo. A presidente da associação, Landina Maria, e a moradora do quilombo Gessiane Oliveira estiveram em Goiabeiras no mês de setembro, um dos bairros mais antigos da capital capixaba, para aprender as técnicas tradicionais de extração do barro de mangue e a confecção artesanal das panelas de barro, reconhecidas pelo Iphan como patrimônio cultural brasileiro.

O reconhecimento das panelas de barro como patrimônio cultural nacional ocorreu em 2020, reforçando a importância de valorizar os saberes tradicionais e as práticas artesanais como expressões legítimas da cultura brasileira, especialmente quando representam a herança e a propriedade intelectual de grupos historicamente minorizados. A proposta do intercâmbio entre as mulheres de Goiabeiras e as mulheres do Quilombo Maria Joaquina buscou promover a troca de experiências entre comunidades que preservam, com orgulho, suas raízes e identidades culturais.

As paneleiras capixabas, como são conhecidas em todo o país, são mulheres detentoras de saberes seculares sobre o barro, a queima e a moldagem das panelas, símbolo maior da identidade cultural do Espírito Santo. O intercâmbio, com dois dias de duração, permitiu que as quilombolas de Maria Joaquina conhecessem essas técnicas e pensassem formas de adaptá-las à realidade da comunidade, onde já desenvolvem o trabalho de cerâmica artesanal na sede da associação.

Foi uma união de saberes ancestrais e potências femininas que, como expressou Landina Maria, presidente da associação:
“Fizeram-me lembrar do muito que já vivi em minha vida e de tudo o que ainda é possível retomar no Quilombo Maria Joaquina.”

Inspirada a compartilhar os novos aprendizados, Landina destaca que a cerâmica é também uma forma de inclusão produtiva, envolvendo homens e mulheres em diferentes etapas da produção e fortalecendo os laços comunitários por meio do trabalho coletivo.

A produtora cultural Tati Cabral, coordenadora de comunicação do projeto, acompanhou a viagem ao Espírito Santo e participou das vivências com as ceramistas do quilombo, contribuindo para o registro e a divulgação dessa importante experiência de intercâmbio cultural e fortalecimento feminino.

Além de incentivar a geração de renda, o projeto também busca valorizar os saberes tradicionais e as potências do território. A ação integra o projeto Cooperativa de Mulheres do Quilombo Maria Joaquina, contemplado pelo Edital nº 04/2025 da Secretaria Municipal de Cultura de Cabo Frio, com recursos da Política Nacional Aldir Blanc.