Finalista do Jabuiti: Rodrigo Cabral leva Sophia e Cabo Frio ao mais tradicional prêmio literário
Rodrigo Cabral, autor de Refinaria, é finalista do Prêmio Jabuti na categoria Escritor Estreante – Poesia. A lista foi divulgada nesta terça-feira (7) pela Câmara Brasileira do Livro (CBL).
No último dia 25, o concurso já havia anunciado o escritor entre os dez semifinalistas. Agora, ele está entre os cinco finalistas da categoria, concorrendo diretamente a um dos principais prêmios da literatura brasileira.
Os vencedores das 23 categorias serão anunciados em cerimônia marcada para 27 de outubro, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Essa é a primeira indicação da Sophia Editora ao Jabuti. Fundada e mantida por Rodrigo Cabral em Cabo Frio (RJ), a editora completa dez anos em 2025. Com pouco mais de 50 títulos lançados, o catálogo valoriza o patrimônio histórico e a memória da Região dos Lagos e do Brasil. Refinaria está disponível no site da Sophia: https://www.sophiaeditora.com.br/refinaria-de-rodrigo-cabral
Também são finalistas na mesma categoria Maracujá interrompida (Cepe), de Luis Osete; Ninguém morreu naquele outono (Telaranha), de Manoella Valadares; O sal e a sede (Urutau), de Guilherme Amorim; e Touros e lagartos (Urutau), de Luana Bruno.
Refinaria reúne poemas que buscam apreender o processo de transformação da paisagem geográfica da Região dos Lagos e da própria memória. Lançada durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) de 2024 e na Bienal do Livro do Rio de Janeiro de 2025, a obra conta com ilustrações do artista visual Rapha Ferreira. A orelha foi assinada pelo escritor Thiago Freitas, e o prefácio é de autoria da editora e escritora Júlia Vita, que também trabalhou na edição do livro.
Os poemas revisitam cenários em constante mutação, retratando a relação do autor com o espaço onde cresceu, no estado do Rio de Janeiro: Cabo Frio, uma das cidades banhadas pela Laguna de Araruama, a maior do mundo em hipersalinidade permanente.
— Ouvi o que esses cenários diziam sobre minhas memórias, sempre borradas e fragmentadas — comenta.
Refinaria trata dos processos contínuos de transformação e refino, tanto no território quanto na própria vida e no ato de escrever. Segundo o autor, no poema isso se transforma em outro espaço, em outro tempo, e o texto é reescrito de acordo com as percepções de quem lê. Ele reflete: — O que me moveu, primeiro, foi me reconhecer como um poeta da restinga. Ou um poeta da orla, como escreve a Júlia Vita no prefácio.
A figueira centenária da rua da infância de Rodrigo Cabral, por exemplo, torna-se inspiração por ser um dos poucos elementos que permanecem em meio ao que se transforma. Os poemas transitam entre temas como a relação do autor com o pai, a paisagem local e as dinâmicas internas da memória. — O livro também trata da própria escrita, do texto constantemente revisto, refeito e relido, em um processo contínuo de busca por significado — revela o escritor.
Os versos equilibram a linguagem regional com uma universalidade poética, permitindo que os leitores encontrem pontos de conexão tanto com o cenário local quanto com as emoções e vivências humanas. Além disso, a obra faz referência à formação geológica da camada pré-sal e traça paralelos com a história da cana-de-açúcar em Campos dos Goytacazes, cidade natal do autor.
Sobre o autor
Rodrigo Cabral, 35 anos, nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ) e cresceu em Cabo Frio (RJ). Em 2024, foi segundo colocado no Prêmio Off Flip de Literatura na categoria Contos e semifinalista na categoria Poesia. No ano anterior, conquistou o terceiro lugar no Festival de Poesia de Lisboa e, em 2022, foi também semifinalista do Prêmio Off Flip na categoria Poesia. Como editor, tem se dedicado a preservar e divulgar a história, a memória e o patrimônio cultural da região. Refinaria é seu primeiro livro publicado.
Sua principal referência para a escrita da obra de estreia foi Água-mãe, livro do escritor paraibano José Lins do Rego, o primeiro romance do autor ambientado fora da região Nordeste.
— O escritor narra as paisagens daquela Cabo Frio com imagens arrebatadoras, que envolvem as casuarinas, a figueira, a fantasmagórica casa azul, as barcaças de sal deslizando pela água e a Laguna de Araruama, muitas vezes referenciada apenas como Araruama, espécie de entidade — enumera.