SANEAMENTO E TECNOLOGIA

Prolagos aposta em IA para otimizar serviço na Região dos Lagos

Enquanto a maioria das concessionárias brasileiras foca na redução de perdas, empresa adota sistema inédito com inteligência artificial para antecipar a demanda de uma das áreas com maior variação populacional do país

29 SET 2025 • POR Cristiane Zotich • 10h15
Para dar suporte ao uso da inteligência artificial, todos os sistemas de água e esgoto da Prolagos também são monitorados em tempo real pelo CCO - Divulgação Prolagos

Quando se fala em Inteligência Artificial, os nomes mais lembrados pelo grande público são ferramentas como o ChatGPT e o Gemini. Mas o uso da IA vai muito além desses aplicativos populares: ela já está transformando o saneamento básico em diversos países. Concessionárias globais, como a francesa Suez e a britânica Severn Trent, utilizam sistemas inteligentes para aprimorar a gestão das redes e prever problemas operacionais. Na Austrália, a Melbourne Water aplica IA para otimizar o tratamento de água e esgoto, reduzindo custos e consumo de energia. Já nos Estados Unidos, a American Water usa a tecnologia para prever a degradação de tubulações e priorizar substituições na rede. No Brasil, esse movimento começa a ganhar corpo.

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a BRK Ambiental (uma das maiores empresas privadas do setor, com atuação em mais de 120 municípios brasileiros) e a Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal) já adotam soluções tecnológicas para reduzir perdas e melhorar a eficiência dos serviços. É na Região dos Lagos, no entanto, que o uso da IA ganha contornos inéditos. Um levantamento feito pela Folha dos Lagos revela que, assim como a Sabesp, a Prolagos emprega inteligência artificial para identificar perdas de água na rede de distribuição. A diferença está na forma de aplicação. Em abril deste ano, a empresa paulista anunciou a implementação de uma tecnologia que combina IA e imagens de satélite para localizar vazamentos. Nesse sistema, a variação de calor captada do solo indica pontos de possível umidade, permitindo direcionar com mais precisão as equipes de manutenção e tornar o combate às perdas hídricas mais rápido e eficaz.

A Prolagos, no entanto, se destaca por adotar uma solução de origem israelense que usa imagens de satélite para detectar cloro dissolvido no solo. Segundo um engenheiro ambiental ouvido pela Folha, esse método é mais assertivo e inovador porque busca uma espécie de “impressão digital” da água tratada (o cloro). Isso, segundo o especialista, amplia a capacidade de encontrar vazamentos invisíveis (subterrâneos, pequenos e sem alteração térmica perceptível).

Desde a implantação do sistema, no ano passado, a Prolagos disse já ter identificado 312 vazamentos nos cinco municípios onde atua (Cabo Frio, São Pedro da Aldeia, Iguaba Grande, Búzios e Arraial do Cabo). Para a concessionária, “a tecnologia representa um avanço significativo que permite agir com rapidez e precisão, otimizando a operação, economizando água potável e contribuindo para a redução do volume de perdas”.

E a inovação não para por aí. De acordo com o Instituto Trata Brasil, cerca de 40% de toda a água potável produzida no país se perde antes de chegar às torneiras. Essa taxa de desperdício coloca o Brasil entre os países com maiores índices de perdas hídricas, reforçando a necessidade de soluções inovadoras como a inteligência artificial. Por isso a BRK Ambiental, a Caesb e a Prolagos investem em agilidade na detecção e no reparo das perdas hídricas. A diferença é que a concessionária da Região dos Lagos integra essa tecnologia a um Centro de Controle Operacional (CCO) considerado um dos mais modernos do Brasil. É dessa sala, equipada com tecnologia israelense (através do programa TaKaDu), e com sistemas de monitoramento em tempo real, que técnicos acompanham todo o histórico de informações da rede, analisando áreas das cidades que podem apresentar perdas.

A inovação também se estende à previsão de consumo. Diferentemente de outras empresas que focam principalmente na detecção de perdas, a Prolagos complementa o uso da IA com métodos para antecipar a demanda hídrica, algo ainda raro entre as concessionárias brasileiras mapeadas pela Folha. Por meio de um sistema inovador e inédito no setor de saneamento (o “contador de veículos”), o CCO monitora câmeras implantadas em pontos de entrada e saída dos municípios da área de concessão. O programa utiliza IA para calcular o número de pessoas a partir do tamanho do veículo e registra a diferença entre a entrada e saída deles. Desta forma, cruzando as informações da quantidade de pessoas nas cidades e variáveis, como condições meteorológicas, a Prolagos informa que é possível prever o aumento de demanda e analisar as tendências de consumo, planejando a operação com ainda mais assertividade.

A digitalização em 3D é mais um passo que a concessionária da Região dos Lagos usa para ampliar o uso da inteligência artificial e melhorar os serviços oferecidos à população. Ao transformar mais de 9 mil equipamentos do sistema de água e esgoto em modelos virtuais, a Prolagos cria uma espécie de “biblioteca digital” que pode ser acessada direto pelo celular dos operadores, sem necessidade de deslocamento. Essas informações alimentam as ferramentas de IA, permitindo simular cenários, planejar manutenções e antecipar problemas, tornando a operação cada vez mais eficiente. A Prolagos informou que até o fim do ano pretende incluir mais 200 plantas à base 3D.

Para dar suporte ao uso da inteligência artificial, todos os sistemas de água e esgoto da Prolagos também são monitorados em tempo real pelo CCO. Para melhor atender os municípios da Região dos Lagos (que salta de 425 mil pessoas para 1,6 milhão na alta temporada no verão), é utilizada telemetria em todos os principais pontos de distribuição de água, incluindo os mais de 150 boosters (que são unidades de bombeamento) e os quase 40 reservatórios (que juntos somam cerca de 54 milhões de litros de água, com a medição dos níveis). Segundo a Prolagos, através dessa automação dos pontos de controle, é possível medir e controlar em tempo real (com a metodologia PID  - Proporcional, Integral e Derivativo) o desempenho do sistema, e aplicar de forma instantânea os ajustes necessários, trazendo uma melhor eficiência operacional.

Todo esse avanço tecnológico da Prolagos se apoia em uma trajetória de 27 anos de atuação na Região dos Lagos. Neste período a concessionária investiu mais de R$ 2,8 bilhões na modernização dos sistemas. Nesse intervalo, a Estação de Tratamento de Água passou da capacidade de 300 l/s (em 1998) para os atuais 1.800 l/s. Já a cobertura de abastecimento evoluiu de 30% para mais de 98%. 

Os cuidados também se estendem à captação e tratamento do esgoto, acompanhando o desenvolvimento das cidades onde a Prolagos atua. Atualmente a concessionária possui sete estações de Tratamento de Esgoto (ETE) e 105 estações elevatórias de Esgoto (EEE), que são responsáveis por bombear para as ETEs o efluente coletado nos mais de 250 quilômetros de rede, por toda a região.