Em Cabo Frio, servidores da Educação denunciam que estão recebendo menos do que o salário mínimo
Governo oferece complementação salarial mas benefício não garante direitos trabalhistas nem previdenciários
Quase 3.500 servidores lotados na Secretaria de Educação de Cabo Frio estão recebendo salários brutos (valor total sem os descontos do INSS e do imposto de renda) abaixo do piso mínimo constitucional, atualmente fixado em R$ 1.518,00. A denúncia foi feita à Folha dos Lagos por um servidor concursado, e confirmada pelo Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe Lagos).
O contracheque enviado ao jornal por um cozinheiro mostra que o salário bruto dele é de R$ 1.175,27. Segundo a coordenadora do Sepe Lagos, Denize Alvarenga, o caso não é isolado: outros 52 cozinheiros lotados na Secretaria Municipal de Educação também recebem o mesmo valor. Já os 3.371 contratados para cargos como agente administrativo, auxiliar de classe, auxiliar de serviços gerais, inspetor de alunos e vigia, entre outros, recebem R$ 1.412,00. No caso dos secretários escolares, o salário bruto é de R$ 1.487,91. Segundo Denize, todos recebem uma complementação extra para atingir o valor do salário mínimo nacional.
Apesar disso, um especialista ouvido pela Folha disse que “esta manobra é legal, mas imoral”. Segundo ele, o valor complementar não tem efeito para cálculo de nenhum benefício garantido pelas leis trabalhistas.
– É o mesmo caso de uma empresa que assina a carteira de trabalho de um funcionário com um valor e paga outro por fora. O cálculo para pagamento de 13º, férias e aposentadoria é feito com base no que está registrado na carteira de trabalho. No caso dos servidores públicos, o cálculo é feito com base no vencimento fixado no contracheque. Esse complemento que a Prefeitura paga não integra os cálculos para benefícios como adicional por tempo de serviço, nem para nenhum outro. Ou seja, o servidor recebe o mínimo só na aparência, mas tem prejuízo real em todos os seus direitos de longo prazo - afirmou o advogado trabalhista Carlos Eduardo Aguiar.
Outro caso confirmado pelo Sepe Lagos é de profissionais da educação que estão tendo descontos pelos dias de greve. Segundo Denize, não existe uma informação exata sobre o número total de servidores que tiveram o pagamento líquido reduzido, “mas os que preencheram o formulário do sindicato foram 43”.
– A maior adesão foi em maio, um único dia. Mas como o corte salarial foi referente a apenas um dia, muitos nem preencheram o formulário do Sepe. A retenção mais pesada aconteceu em janeiro, que foi de duas semanas. Mas não foram muitos porque estávamos em férias. Só quem estava convocado a trabalhar em janeiro e que aderiu à greve, sofreu um abatimento gigantesco - explicou Denize.
Segundo ela, teve servidor que recebeu apenas R$ 282 de salário após os cortes realizados pela Prefeitura. “Houve descontos da ordem de 50% do salário, e como há muitas pessoas com empréstimos consignados, ficou impossível sobreviver”, afirmou a coordenadora do Sepe Lagos.
– Com relação a isso, fizemos uma ação judicial, e a juíza decidiu a favor do nosso pedido de liminar. Mas preferiu ouvir a Prefeitura antes de proferir a decisão final - explicou Denize, lembrando que a situação se torna ainda mais grave em virtude da falta de reajuste anual. Segundo ela, a última vez que os servidores da Educação de Cabo Frio tiveram aumento de salário foi em 2021, durante o governo do ex-prefeito José Bonifácio. Mas na prática, o reajuste foi menor do que o efetivamente concedido: ficou em 10% por conta do aumento que ele também deu na alíquota previdenciária, que passou de 11% para 14%.
Ainda segundo Denize, o atual governo do prefeito Serginho Azevedo alega falta de disponibilidade financeira para conceder o reajuste aos servidores da Educação. Apesar disso, ele teria dado aumento de salário para os diretores das escolas municipais.
– Não sabemos muito sobre esse reajuste porque, como não houve envio à Câmara, o assunto é um mistério. De qualquer forma, sabemos que a gratificação de diretores de escolas, como a Márcia Francisconi, passou de R$ 1.200,00 para R$ 1.900,00 - revelou Denize, afirmando que uma nova assembleia do Sepe Lagos para discutir essas questões deve ser realizada em agosto, logo após o recesso escolar.
A Folha dos Lagos entrou em contato com a Prefeitura e solicitou informações a respeito das denúncias apresentadas, mas não houve resposta até o fechamento desta edição.