ELEIÇÃO SEPE LAGOS

Com 83% dos votos, Denize Alvarenga se mantém no comando do sindicato dos profissionais de Educação

Entre as prioridades deste novo mandato, ela diz que a número um é a valorização salarial

2 JUL 2025 • POR Redação • 19h36

Com 83% dos votos válidos, a Chapa 3 (Sepe na Luta Educadora) venceu as eleições para a direção colegiada do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro, núcleo Lagos (Sepe Lagos). A votação aconteceu entre os dias 24 e 27 de Junho, e conduziu a professora Denize Alvarenga para um mandato de continuidade: ela já havia sido eleita coordenadora para o mandato 2022/2025, e agora permanece no comando até 2028.

No total, a Chapa 3 recebeu 341 votos, enquanto a Chapa 12 (Sepe no Chão da Escola) obteve 39 votos (cerca de 9%) e a Chapa 01 (Por um Sepe Independente de Governos, na Luta e pela Base) somou 24 votos (aproximadamente 6%). Também foram registrados dois votos em branco e dois nulos.

À Folha, Denize contou que essa diferença expressiva de votos “reflete o reconhecimento da maioria dos trabalhadores sindicalizados das escolas públicas ao esforço, à coerência e ao compromisso da atual direção majoritária do Sepe Lagos com a luta da categoria”. 

– Diferente de setores que aparecem apenas em momentos eleitorais, nossa chapa tem histórico de presença nos protestos, nas assembleias e nas mesas de negociação. Após sermos minoria em alguns mandatos, a partir de 2018 nos tornamos maioria no colegiado do Sepe Lagos e, desde então, nos dedicamos de forma incansável à valorização dos profissionais da educação, à melhoria das condições de trabalho e à defesa da escola pública. Nesse período, organizamos greves importantes, garantimos conquistas, enfrentamos a pandemia ao lado da categoria, pautando o debate sobre saúde e segurança nas escolas e ampliamos os espaços de participação com assembleias frequentes e abertas. Fizemos do Sepe um sindicato de base, radicalmente democrático, no qual as decisões são coletivas e construídas a partir da escuta ativa da categoria, que exerce controle real sobre as ações da nossa entidade - pontuou.

Denize também lembrou que nestas eleições, a composição da Chapa 3 “uniu a experiência de quem já estava à frente da luta sindical, com a renovação trazida por novos integrantes”. Essa combinação, segundo ela, fortalece a capacidade de mobilização e amplia a conexão com os desafios concretos vividos pelas escolas. 

– Mesmo com os ataques coordenados por setores do governo “Serginho” (PL) e dos veículos de comunicação alinhados com ele, a categoria respondeu com confiança, reafirmando que quer manter um sindicato independente, combativo e verdadeiramente representativo - afirmou.

Em conversa com o jornal, a coordenadora reeleita do Sepe Lagos disse que é fundamental destacar o papel do sindicato na denúncia da precarização estrutural das escolas. Ela lembrou que o órgão colegiado tem denunciado problemas de saneamento, de instalações sem manutenção, de falta de climatização, de má qualidade na alimentação escolar, falta de materiais básicos e de pessoal. 

– É importante mencionar, ainda, a luta contra o assédio moral e por melhores condições de trabalho. Casos de adoecimento têm aumentado, e o sindicato tem buscado enfrentar essa realidade cobrando o efetivo cumprimento da Lei 2.891/2017, que visa prevenir casos de assédio moral na administração municipal.

Folha - Quais são as principais lutas desse novo mandato, por ordem de prioridade?
Denize -
A prioridade número um é a luta pela valorização salarial. Estamos há três anos sem qualquer reajuste, mesmo com o custo de vida aumentando vertiginosamente. É inaceitável que, em 2025, existam profissionais da educação com salários corroídos pela inflação e remunerações abaixo do salário mínimo nacional ou do piso do magistério. Exigimos a recomposição das perdas salariais, o cumprimento do Piso Nacional e o fim do congelamento promovido pelo governo municipal. Para isso, apostamos na unidade entre diferentes setores do funcionalismo. Seguimos defendendo ações conjuntas entre os sindicatos, mas, enquanto essa unidade não acontece na prática, o Sepe não cruza os braços. Mobilizamos, pressionamos e denunciamos o descaso. Serginho se elegeu prometendo valorização, mas sua prática repete o mesmo desprezo dos governos anteriores: veicula mentiras e ataques ao sindicato e sua direção, inventa desculpas para não negociar e promove a perseguição contra quem se atreve a lutar por direitos. Mas isso nunca nos intimidará, pelo contrário. Quanto mais ele tentar escamotear o debate sobre os direitos da categoria com esse tipo de modus operandi, mais vamos nos mobilizar. Também vamos seguir exigindo o cumprimento integral do PCCR, com o respeito aos enquadramentos por formação, progressões e atualização das faixas salariais. Queremos atualizar o PCCR não para cortar direitos, mas para garantir um plano unificado da educação, que contemple todos os trabalhadores da escola pública — não apenas o magistério, mas todos os demais servidores que trabalham nas escolas (administrativos, apoio, vigias, etc). A luta pela convocação dos aprovados em concurso público é outro eixo fundamental. Precisamos pôr fim à precarização via contratos temporários e processos seletivos sem transparência e lisura. E mais: enfrentaremos com firmeza qualquer tentativa de terceirização dos serviços educacionais, da merenda à docência, pois defendemos uma escola pública, gratuita e de qualidade, com servidores concursados e bem remunerados, como deve ser.

Folha - Vai tentar diálogo com Serginho e o secretário de Educação?
Denize -
Sim, e seguimos tentando. Desde o dia 3 de janeiro deste ano, o Sepe Lagos tem protocolado ofícios ao gabinete do prefeito e da Secretaria de Educação solicitando audiências formais para tratar das urgências da rede. Nenhum deles foi respondido. Nenhum! Enquanto empresários e interesses privados têm trânsito livre no governo, os servidores públicos e as comunidades escolares, como a do Colégio Municipal Rui Barbosa, seguem sendo ignorados. Quando o prefeito ou o secretário se referem aos trabalhadores da educação, é quase sempre para criminalizá-los, insinuando privilégios que não existem ou abordando casos isolados de má conduta, que merecem mesmo ser apurados, como se fossem a prática de todos. A verdade é que muitos servidores recebem menos que um salário mínimo líquido e acumulam funções sem o devido reconhecimento. O diálogo institucional está bloqueado há quase 180 dias por uma escolha política unilateral do governo. Mas seguimos firmes, construindo diálogo direto com a categoria e com a sociedade. E estamos abertos à conversa sempre, com respeito e compromisso com as demandas reais da educação.

Folha - Tivemos algum avanço nas pautas do Sepe no governo atual?
Denize -
Infelizmente, não. Este é o governo do zero: zero reajuste, zero diálogo, zero compromisso com os profissionais da educação e com as comunidades escolares. Não houve sequer uma audiência com o prefeito. A pauta construída democraticamente pela categoria foi solenemente ignorada. E não se trata apenas de inação, mas de retrocesso: ao invés de avançar, o governo preferiu perseguir quem lutou, cortar salários ilegalmente, espalhar desinformação por meio da sua “imprensa teleguiada” e agir para enfraquecer o movimento sindical. A mobilização e a união dos servidores, nesse cenário, se tornam ainda mais necessárias.