Cultura

A metáfora de todas as letras: obra de Maurício Cardozo será lançada no dia 29 de maio, em Cabo Frio

Lançado pela Sophia, livro mergulha no universo dos tautogramas, com poemas escritos com palavras que começam pela mesma letra do alfabeto

20 MAI 2025 • POR Kauã Barreto • 12h11

Cada letra, um poema. A metáfora de todas as letras, novo livro do poeta Maurício Cardozo, percorre o alfabeto com invenção e ritmo. O autor propõe um jogo ousado: escrever poemas com palavras que começam com a mesma inicial. O resultado é uma obra que mistura lirismo, humor e crítica — tudo a partir da técnica conhecida como tautograma, termo de origem grega formado por tauto (“igual”) e grama (“letra”). As exceções são apenas para H, K e Y.  Publicada pela Sophia Editora, a obra será lançada no dia 29 de maio (quinta-feira), às 19h, no Palácio das Águias, em Cabo Frio.

É com o poema “Atenção ao anúncio”, dedicado à letra A, que o livro se inicia. Em um dos seus versos, Cardozo escreve: “Agora anarquizo, anoiteço.” Logo se percebe que não se trata apenas de um jogo sonoro ou gráfico. A estrutura desafia e também serve de impulso criativo. O poeta encontra dentro da restrição um campo fértil de possibilidades — e é aí que a poesia brilha.

Inspirada por uma declamação de Chico Anysio no Programa do Jô, a ideia nasceu de maneira quase espontânea. Como conta na apresentação do livro, Maurício escreveu os poemas em apenas três dias, empolgado pela brincadeira com a linguagem e pelo prazer genuíno de construir sentidos a partir da forma.

“Palavras são brinquedos lúdicos, sem tirar a seriedade que nossa língua exige”, afirma. “Minha poesia sempre teve um cunho crítico. Esse tipo de estilo literário não é muito aceito na esfera popular. A imagem que as pessoas têm sobre Poesia é estereotipada. Como se só existisse poesia que fale de amor, decepção, desilusão. Não! Não deixo escapar nunca a parte lúdica, mesmo na crítica. As duas podem caminhar de mãos dadas. É só saber temperar da melhor forma.”

Cada texto tem seu tom e sua cadência. Alguns arrancam risadas, outros, de tão rápidos e sonoros, provocam suspiros. Em “Ratos riram”, o riso vira ritmo e subversão. Em “Poesia portuária”, a crítica social emerge entre prostitutas, poetas e panfletos. Em “Querida, querida”, a repetição da letra Q vira quase um trava-língua amoroso. A leitura é dinâmica, mas não superficial: há densidade, ironia e delicadeza no uso das palavras.

Também está presente na obra a relação do autor com a rua. “A poesia também tem que sair dos livros e caminhar pelas calçadas, pelas praças e vielas. O diálogo do livro com essa massa que tenho alcançado com meu trabalho pode ser sobre uma flor durante o dia, bem como pode falar das vagabundas, dos bêbados, dos políticos corruptos, da falta de caráter de alguns. Poesia para criticar, denunciar, abrir olhos de certos idiotas que se dizem politizados. Além disso, meu diálogo com a liberdade é através da fala. Quando recito meus poemas, consigo alcançar muito mais as massas pensantes e irrito os 'ignorantes' de plantão.”

Sobre as restrições da técnica, o autor comenta: “Nunca achei que me limitou. Quem tem a prática e dom da escrita sabe se virar e encontrar na criatividade maneiras de se sair bem. A poesia tem a vantagem de se valer da sonoridade. E isso faz com que consiga fluir com mais facilidade. É claro que, em certos poemas, como os das letras H e Z, o concretismo foi uma saída (a com Z é mais visual do que auditiva). Mas todo artista é esperto. É só usar a criatividade.”

O prefácio assinado por Jane Lacerda e o texto de orelha de Silvana Lima ajudam a contextualizar o alcance do livro. Para Jane, a obra é um reencontro com a pátria por meio da língua: “Fazer isso com poesia é abrir janelas para o sol de outras cores, outras estações, outros encantamentos.” Já Silvana vê na obra a expressão de uma natureza crítica, criativa e literária, muito além de uma simples brincadeira com letras.

A metáfora de todas as letras. Eis uma coleção de explosões sonoras que comprovam como a limitação formal pode, quando bem conduzida, gerar liberdade criativa. Ao fim do abecedário, o leitor fica certo de que não se trata apenas de um experimento, e sim de um verdadeiro exercício de encantamento com a língua.

SOBRE O AUTOR | Radicado em Cabo Frio, Maurício Cardozo é conhecido por sua atuação na cena poética da Região dos Lagos. Foi autor de projetos como Poesias da Lata, lançado na ECO-92, e O maior varal de poesias do mundo, com cinco mil textos estendidos ao longo de 1,5 km. Também levou poesia para salas de aula e formou gerações como educador e oficineiro da palavra.

Características
TIPO brochura
FORMATO 14x21
PÁGINAS 120
PESO 110 gramas
ISBN  978-65-88609-42-2

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