Governo Federal quer fortalecer turismo internacional na região
Em entrevista exclusiva à Folha, o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, disse que a infraestrutura e comunicação precárias ainda são problemas que precisam ser superados
Hoje (16) os olhos da Região dos Lagos estão voltados para o futuro do turismo local. Conforme a Folha antecipou nesta quarta-feira (14), a Embratur está lançando (a nível regional) o programa Novas Rotas, voltado para a internacionalização de destinos turísticos brasileiros que ainda estão fora dos roteiros tradicionais. A cidade de Búzios foi escolhida para sediar um primeiro encontro, que acontece hoje e está reunindo especialistas, o prefeito anfitrião (Alexandre Martins), e também os chefes do Executivo Municipal de Araruama, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Carapebus, Iguaba, Macaé, Maricá, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia, Saquarema e Quissamã. O objetivo é discutir o potencial do setor na região, além de buscar formas de promover um turismo mais estruturado e sustentável.
O programa Novas Rotas foi lançado nacionalmente no início de abril com os prefeitos das regiões Sul Fluminense e Médio Paraíba. A primeira rodada de capacitação aconteceu em Angra dos Reis (para os municípios da Costa Verde) com a presença do presidente da Embratur, Marcelo Freixo, que também participa do lançamento do programa em Búzios.
Em entrevista exclusiva à Folha, nesta semana, Freixo revelou que ainda existem muitos desafios a serem enfrentados para que a região se posicione de forma competitiva no mercado turístico internacional. Segundo ele, além de promover as belezas naturais e culturais da Costa do Sol, é necessário melhorar a infraestrutura e a comunicação, além de qualificar a recepção aos turistas. Esse processo envolve o Terminal Rodoviário Alexis Novellino, em Cabo Frio, que é administrado pela Coderte (órgão do governo estadual) e está abandonado há anos.
– Acho que o encontro vai servir para a gente falar também sobre isso. Quando falamos da importância de receber o turista para a geração de emprego e renda, isso se dá em todos os níveis. Mas o país, de uma forma geral, não dava a devida atenção à atividade turística, nem via nela a solução para uma série de outros problemas. Um dos objetivos do projeto é justamente este, das cidades entenderem que o turismo pode ser o protagonista do desenvolvimento de toda uma região - afirmou Freixo.
Folha dos Lagos - Por que a Região dos Lagos e Búzios, em especial, foram escolhidas para o lançamento do Programa Novas Rotas com os prefeitos da Costa do Sol?
Freixo - Búzios foi a escolhida por ser uma cidade mais central para a gente reunir os prefeitos da região e também por já ter um grau de internacionalização em relação ao turismo. Mas é só o ponto de partida para o lançamento do Novas Rotas na região. Vamos dividir os municípios em dois polos para, a partir daí, começar esta capacitação de forma presencial.
Folha dos Lagos - Quais são os principais benefícios que a população da Região dos Lagos pode esperar com a internacionalização dos nossos destinos turísticos?
Freixo - Búzios é o maior exemplo do quanto o turista internacional é importante para a economia da cidade. As pessoas relacionam turismo a viajar para o exterior. Nós, na Embratur, entendemos o turismo como trazer o exterior para cá. Quando a gente vai para lá, a gente deixa o nosso dinheiro lá. Gera emprego e renda lá. Quando eles vêm para cá, o emprego e renda é gerado aqui. Este é o nosso objetivo. A Costa do Sol é um paraíso que pode e deve ser melhor explorado. A gente já atrai turista aqui, sempre atraiu. Mas esse número pode ser muito maior. A imagem do Brasil no exterior foi reconstruída nos últimos dois anos. Prova disso são os recordes que estamos batendo. No ano passado, veio mais gente para cá do que na Copa do Mundo. Nunca tanta gente quis vir para o Brasil como agora.
Folha dos Lagos - Você já citou que o turismo pode ser o “petróleo do século 21”. Como o Novas Rotas pretende transformar essa visão em emprego e renda na prática, especialmente em cidades menores da Costa do Sol?
Freixo - O turista estrangeiro deve deixar US$ 8 bilhões de dólares no Brasil este ano. Qual produto de exportação consegue chegar a este número? Nenhum. Portugal se recuperou graças ao turismo, que hoje corresponde a 18% do PIB do país. No Brasil, são 8%. E vamos convir que pode ser muito mais do que isso. E Costa do Sol é vista muita vezes como destino turístico do que chamamos de Sol e Praia. E é muito mais do que isso. Tem o ecoturismo, turismo esportivo, religioso, histórico, tem a gastronomia que é maravilhosa. A gente precisa é mostrar isso ao mundo.
Folha dos Lagos - Você também já disse que está pronto para avançar e mostrar ao mundo tudo o que Búzios e a Costa do Sol têm a oferecer. Na sua visão, o que temos a oferecer, mas que ainda não oferecemos?
Freixo - Informação de qualidade. Porque o restante está tudo aqui. Estamos na era da tecnologia, da sustentabilidade. O turista quer conhecer melhor os destinos. Hoje está tudo na palma da mão. E temos que aprender a qualificar esta informação para que ela chegue lá fora de forma que seduza as pessoas a virem para cá.
Folha dos Lagos - O programa busca promover o desenvolvimento de regiões próximas a destinos já consolidados no mercado internacional, incentivando a criação de roteiros temáticos. Como nossa região pode explorar esses roteiros temáticos?
Freixo - Isso é o que a gente também quer ouvir dos prefeitos e secretários, que têm abraçado o projeto por entenderem que ele é bom para todo mundo. No Norte e Noroeste Fluminense, por exemplo, tem a Rota do Açúçar. No Médio Paraíba podemos criar a Rota do Café. As regiões têm suas especificidades e demandas, e são elas que a gente tem que aprender a explorar.
Folha dos Lagos - A Região dos Lagos enfrenta problemas de infraestrutura que muitas vezes limitam o turismo. Como o programa dialoga com essas realidades práticas e com o poder público local para superá-las?
Freixo - Atuando de forma unida. O papel da Embratur não é resolver problemas de infraestrutura. Nossa função é a promoção do Brasil no exterior. E antes de nós, ninguém olhava para o interior, para além dos cartões postais. O que tenho falado é que através desse projeto a gente está estreitando relações. Estão sendo criados consórcios de municípios. E às vezes é muito mais produtivo ir à Brasília para cobrar investimento em infraestrutura de forma coordenada e conjunta do que na base do cada um por si. E a gente está aqui à disposição para fazer essa interlocução com os ministros, com o presidente Lula.
Folha dos Lagos - Além do sol e praia, em outras oportunidades você também já falou sobre a força do ecoturismo, aventura, gastronomia e turismo religioso. Como o Novas Rotas pode ajudar a estruturar e divulgar esses outros atrativos que ainda são pouco explorados
Freixo - A gente vai trazer para a região a equipe técnica da Embratur que vai promover essa capacitação gratuita a partir do mês de junho. Serve para o setor público, como secretários, vereadores, presidentes de fundações, e do setor privado, como donos de hotéis, pousadas, restaurantes ou qualquer outra atividade ligada ao turismo.
Folha dos Lagos - Sobre a capacitação, de que forma o programa vai preparar empresários, trabalhadores do setor e gestores públicos para atender esse novo perfil de turista internacional?
Freixo - Será um curso na área de inovação, inteligência de dados e sustentabilidade, porque o turista estrangeiro não viaja mais para lugares que destruam o meio ambiente, por exemplo. Mas vou dar outro exemplo: a utilização de ferramentas ao alcance de todos como Google, Instagram e Tik Tok. São instruções que para muitos são simples, e para outros, nem tanto, mas que no fim fazem uma diferença impressionante. É uma realidade que já dá resultado nos principais destinos, nos cartões-postais.
Folha dos Lagos - Você já mencionou a criação de uma plataforma online de ensino à distância. Qual o papel dessa ferramenta e quem poderá acessá-la na prática?
Freixo - Ela está ainda em fase de desenvolvimento para que a gente possa alcançar o maior número possível de pessoas. O mais importante, nesta semana, é fazer o que este encontro entre os prefeitos, para a gente continuar virando essa chave na cabeça das pessoas em relação ao turismo. A aceitação está sendo incrível. As respostas que estamos tendo de prefeitos e prefeitas é muito satisfatória.
Folha dos Lagos - Temos um aeroporto internacional em Cabo Frio que ainda é subaproveitado para o turismo. Existe alguma conversa com as companhias sobre a retomada de voos comerciais?
Freixo - Essa vai ser uma das pautas do nosso encontro. A Embratur trabalhou muito a questão de novos voos para o país, aumentamos muito a oferta de voos e vamos buscar esse diálogo porque, evidentemente, o aeroporto de Cabo Frio é fundamental para o turismo de toda a região.
Folha dos Lagos - Qual mensagem deixa para os moradores e empresários da Região dos Lagos que desejam se preparar e se engajar nesse novo momento do turismo brasileiro?
Freixo - O turismo responsável e sustentável, não predatório, vai ser a mola propulsora do desenvolvimento do nosso país. Quem viaja, não viaja para um país. Viaja para uma cidade. E as cidades precisam estar conectadas com esta nova realidade. Turismo é geração de emprego e renda. O meu primeiro emprego de carteira assinada foi num banco. Era comum que jovens da minha geração fizessem sua iniciação no mercado de trabalho em bancos. Hoje não é mais uma realidade. O banco está na palma da mão, como quase tudo. E a gente tem que aprender a usar melhor a tecnologia, que está na palma da nossa mão, a nosso favor, para gerar emprego, renda e desenvolvimento.